Trapalhadas de Dona Filó II

Trapalhadas de Dona Filó II

Dona Filó morava com seu filho, a nora e uma neta, em um condomínio de classe média alta nos arredores da cidade. Toda tarde, por volta das dezesseis horas, costumava passear pelo condomínio a fim de, recebendo os raios do sol, propiciar o metabolismo da vitamina D, para prevenir os males da osteoporose, segundo recomendação médica. Ela tinha dificuldade de caminhar, devido a artrose nos dois joelhos, porém pequenos percursos fazia tranquilamente, e em casa costumava apoiar-se nos corrimões que seu filho espalhou por toda casa. Nestes passeios pelo condomínio costumava usar sua cadeira de rodas, elétrica, adquirida logo após ter se acidentado com a antiga numa garagem de um edifício na zona sul da cidade. Neste dia, resolveu primeiro passar pela quadra de esportes onde alguns jovens jogavam futsal e vendo-a passar cumprimentavam alegremente: boa tarde Dona Filó. Ela respondia com um largo sorriso e seguia tranquilamente seu passeio. Mais a frente, um campo de futebol society, com alguns jovens disputando uma animada pelada. Dona Filó acenava e continuava seu passeio, passando pelas piscinas, casa de festa e se dirigia para o parquinho, onde as babás e algumas mamães levavam sua crianças para brincar no fim da tarde. Ali ela se inteirava das novidades do condomínio e das fofocas das babás. Não que ela fosse “fofoqueira”, não. Ela se dizia “jornalista free lance”. (Ouvia as notícias e divulgava-as pelo método mais antigo de comunicação o “boca a boca”). Ansiosa por chegar ao parquinho, não percebeu a aproximação de um cãozinho que soltando-se das mãos da dona, ameaçava atacar a roda da sua cadeira. (não entendo a predileção de cachorros por rodas em movimento. Pode ser de bicicleta, de moto ou carro). Temendo que fosse mordida pelo pequeno animal, acelerou a cadeira e adentrando na área do parquinho chocou-se com a torneira que servia para regar a grama, quebrando-a. Ao mesmo tempo a cadeira virou e Dona Filó, estatelou-se no chão. Do cano quebrado saía um jato forte de água que mais parecia uma fonte. As crianças que brincavam no balanço, gangorra e escorrego, correram para baixo da água pulando e chamando as outras. As babás, coitadas, acorreram chamando as crianças: Cauã! Kauã! Eram dois e com grafias diferentes. Dona Filó, sentada, recebendo toda aquela água sobre o corpo, bradava: me ajudem aqui, me ajudem. As babás deixaram as crianças de lado e foram ajudar Dona Filó. Quando foram carregá-la, ela foi logo dizendo: basta me ajudar, não sou inválida. Levante-me, que me apoio em você. Tudo bem com a senhora, perguntou uma delas? No que ela ironicamente respondeu: Tudo. Estava com calor e vim tomar um banho nesta fonte, para logo em seguida vociferar para a dona do cachorro que se aproximava: irresponsável. Por que não prende seu cachorro para não atacar as pessoas? Enquanto isso, o síndico juntamente com jardineiro já corriam em sua direção para saber o que havia ocorrido. Dona Filó, de pé ao lado da cadeira virada, diz para o síndico: o cachorro dela, apontando o dedo indicador em direção a senhora, derrubou-me da cadeira que virou e bateu no cano fazendo todo esse estrago. A essa altura as crianças pulavam, jogavam-se e rolavam na água para desespero das babás que não sabiam como justificar para as patroas as crianças molhadas. Os jovens da pelada e do futebol society corriam para aproveitar a fonte inaugurada por Dona Filó no parquinho. O síndico para pôr ordem na casa, mandou o jardineiro fechar o registro d’água sob o protesto das crianças e em seguida desvirou a cadeira de Dona Filó que prontamente sentou-se e seguiu toda molhada para casa, prometendo fazer uma queixa contra a dona do cachorro na próxima reunião do condomínio.

Massilon Gomes
Enviado por Massilon Gomes em 10/03/2017
Reeditado em 10/03/2017
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