Menina de areia

Sentada no chão da floresta, olha para trás a menina. Sombras se movem por entre as árvores. Esfrega os olhos e o coração e lá estão: seres dançantes sob um brilho amarelado. Por alguns instantes pensa se aquecer com aquela luz, mas percebe que o calor emana dos seus sentimentos transbordantes. Dá passos em direção ao baile...os seres passam por ela como fantasmas, quer alcançá-los, mas veja: suas mãos tem cores vivas, apesar de quase morta e todos ali, valsam descoloridos, em cenas gastas. Corre, menina, corre! A sua frente, densa névoa abriga profunda escuridão, ao longe, na curva da estrada de pó. Tenta transpassá-la, sente o frio congelante das incertezas. É uma fronteira proibida para seus pés descalços e seus ombros nus, é preciso sapatos e casaco para cruzá-la. Para onde caminharão seus pés? Mais importante, por onde caminham agora? Corre, corre, corre menina! Vá se encontrar! Corre a toda velocidade. Ela tropeça. Cai. Vê seu reflexo na água...não enxerga...o que é? Menina ou mulher? Pessoa real ou boneca de pau? Máscara vazia ou está só e perdida? Perdida por quanto tempo? Mais quanto tempo? Esqueceu-se de quem é e de seus sonhos. Quem está aí? Não pode voltar. Afastou-se do que existiu e não pode chegar no que será. Quem é que está no meio do caminho? Como pode ser presença tão ausente? Longe do passado, com o futuro distante. Começa a tempestade. Um raio cai sobre seus cabelos e a areia de que é feita se torna vidro. Vidro partido. O vento vem e lá se vão os cacos, arranca também, a máscara dos pedaços. De seu corpo quebrado, jorra água. Não há mais nada. Como pode desaparecer o que não existe, aquilo que não vive? Quem diria que por dentro, a menina carregava mar? Talvez o mar a carregue daqui em diante. Talvez.

Por fim...no meio do caminho, o mar.