A tora e a Cerejeira

No fim do ano passado me aconteceu algo engraçado. Eu fui visitar a minha velha cabana num povoado. Passando pela estrada de chão eu notei que havia um tronco deitado mais ao lado. Mas o que me chamou atenção foi que aquele tronco estava esmagando uma pequena indefesa árvore de cereja. Olhei para os lados, pulei por uma cerca atrás de um machado ou algo afiado para poder retirar aquela arvorezinha. Isso porque eu tanto queria uma “muda”. Se não fosse por isso não faria uma loucura dessas. Por fim encontrei uma no meio do pasto de uma outra cabana. Retornei e comecei a murrar com aquele machado, pequeno e afiado, o canto do tronco para poder retirar aquela planta que parecia estar pedindo por ar. Mas havia alguém do outro lado. Para se imaginar quanto grande era aquele tronco, não via quem estava ao outro lado. Se fosse pequeno eu mesmo tentaria levantar. Essa pessoa tinha um cargo igual a de um policial. Mas como era uma época fraca, os trabalhos eram somente de agricultura e pecuária. Muito menos se chamava assim.

Quando ele se aproximou, pensou que fosse eu quem cortou aquele tronco. Não fez nem questão, me levou para a tal proclamada “imperatriz” daquela vila. Ninguém me conhecia mesmo. Para todos era apenas um estrangeiro. Mas o engraçado é que todo os anos vou para lá.

Daí chegou me empurrando para a sala da “imperatriz”. Dizendo que eu destruí uma árvore. Sendo que ela já estava caída. A imperatriz veio toda vestida do pescoço ao pé aquele "kimono" que transbordava o pano pelo chão e tampando seu rosto com um leque. Ainda que via um olho dela escapando pelo leque ela perguntou o que queriam. Esse “guarda” me fez ajoelhar-se e disse todo o ocorrido me culpando por algo que não fiz. Ela então deu uma risadinha escondida. Ela disse que aquele tronco já estava a tempo caído lá. Ele tinha ido à procura de quem “matou” aquela árvore. Daí eu disse que aquele tronco estava esmagando um pé de cerejeira. Era muito especial aquela cerejeira. Ela queria saber aonde. Saí de lá correndo e ela me seguiu. Mostrei para ela, e fui a procura daquele machadinho afiado. Peguei e ia murrar novamente o tronco, mas ela me parou. Por que aquilo agora? Ela se agachou. Por mais que seu vestido fosse branco ela puxou as mangas e cavou até conseguir retirar a planta. Se sujando de terra retirou aquela planta.

Se levantou. Eu me assustei pelo estado que ela estava. Pedi até desculpas. Mas se for por uma boa causa ela teria que ajudar seja como estivesse. Pois era a “imperatriz” do lugar e todos a chamavam assim. Ela disse que ela que deveria agradecer por ele ter visto aquele pezinho em perigo de morrer. E disse para que eu pedisse qualquer coisa em troca do favor. Nada mais pedi do que a pequena cerejeira. Quis levá-la comigo.

Então ela agradeceu e me disse para me cuidar. Eu agradeci a ela e pedi desculpas para o “guarda” e fui pela estrada em direção para minha casa de campo. Resolvi não levar para minha real casa. Plantei ali mesmo para que todos verem a árvore mais linda daquela vila.

Anderson Woits
Enviado por Anderson Woits em 17/04/2017
Código do texto: T5973091
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