"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance = Capítulo 41

Eliane levantou-se, abraçou Wilson demoradamente, depois a irmã, e prometeu ao filho que em Nova York ele levaria vida de brasileirinho bem de vida. Quando fosse oportuno, mandaria dinheiro suficiente para que ele e sua tia passeassem pela Europa toda, à vontade, e sem preocupações. Ela não prometia visitá-los logo porque não sabia se no próximo ano teria possibilidade de sair do Brasil, e esperava que não, devido às vendas dos lotes. Mas assim que pudesse correria ao encontro deles e mandaria dinheiro sempre que necessário. O talão de cheques que ela entregou à irmã demonstrava o quanto estava sendo e ainda seria generosa para com os dois.

Quando o coronel estacionou o carro na frente do escritório provisório de Eliane, e dele desceram apenas o coronel e Andréa, Eliane sentiu um nó de desgosto na garganta. Porquê será que Helena não viera desta vez? Ela estaria sentindo o mesmo medo que Eliane? Saindo do escritório em direção ao carro do amante. Eliane sentiu um imenso prazer ao ter seus olhos vendados por um suave par de mãos que lhe chegara por trás e lhe perguntava:
- Adivinha quem é....
Exercendo seu autocontrole que tantas vezes a salvara em situações adversas, Eliane deu tanto carinho e atenção a Helena quanto à Andréa. Não querida, de forma alguma, despertar suspeitas. Mas mal podia esperar o momento de ficar a sós com Helena.
- Desta vez vocês ficarão por mais tempo; não é? Não ficarão de novo só por quatro dias, não é verdade? No mínimo, no mínimo, umas duas semanas.
- Está mandando a gente embora, Eliane? Nossa mudança deve chegar logo mais. Resolvemos nos mudar para cá de mala e cuia. O pai custou a segurar a língua e queria telefonar pra você pra contar e eu não deixei. Gostou da novidade?
- Adorei de montão!! Amei de verdade! Que coisa boa!! Que maravilha, meu Deus! Agora não vão mais me deixar sozinha nesse matagal.
- De jeito nenhum. Agora é pra valer, amor. As meninas chegaram à conclusão de que tanto podem trabalha aqui na região quanto lá em Santos. Talvez aqui, com menos gente, tenham até mais chances profissionais. E, afinal de contas, se não der certo por algum motivo, não haverá problemas. O papai delas aqui está com muito dinheiro em caixa e muita grana investida.
- Ah, gente!! Que delícia saber que ficarão aqui comigo, de vez! Só faltava mesmo vocês chegarem para eu ser feliz de verdade. Vamos lá, todos juntos, me dêem o maior e melhor abraço do mundo;
Eliane notou que Andréa não parecia muito bem e fez a observação:
- Estou com uma gripe danada, Eliane. Há mais de uma semana que ela me inferniza e ainda não consegui acabar com ela.
- Porquê você não procurou uma médica santista competente, Andréa? Deve existir alguma por lá...
Riram da brincadeira enquanto Andréa se explicava, falando com carinha de seriedade:
- Já me consultei, fiz meu auto diagnóstico, passei uma receita pra mim mesmo, mas a gripe parece ignorar os remédios. Por falar nisso, tenho que comprar mais remédios. Papai, você me levaria até Águas?
- Claro, filhinha. Você e Helena irão conosco, Eliane?
- Não, papai. Enquanto você leva Andréa até lá eu vou implorar a Eliane que me leve até o maravilhoso laguinho quente. Estou morrendo de saudades dele.
Eliane, por sua vez, adorou a idéia. Havia dias que não pensava em outra coisa a não ser na oportunidade de ficar a sós com Helena e esclarecer de vez a situação estranha. Queria tirar aquela cisma que a incomodava e até prejudicava o andamento de seu trabalho.
- Está bem, mas não se demorem muito que eu vim pelo caminho babando de vontade de me sentar logo a uma mesa lá no Barracão do Doca e encher a pança. Eu e Andréa também não nos demoraremos.
Enquanto o coronel e a filha se dirigiam para o carro, Eliane e Helena entraram no velho jipe azul que Eliane estava utilizando na ocasião. Mal deu a partida e fez o carro andar um pouco, vendo que o carro do coronel se afastava rapidamente, resolveu parar de imediato no acostamento de perguntar à queima-roupa à moça:
- Helena, quero que me diga de uma vez por todas: quando olha para mim, você sente alguma coisa diferente?
Helena sorriu abertamente, com expressão de grande felicidade e franqueza:
- Diferente não, sempre igual: atração. Uma coisa que jamais senti por mulher alguma. Você me excita com sua simples presença e desde a primeira vez que a vi que sinto um fogaréu no meio das pernas. E isso é estranho mesmo pra mim, que sempre adorei um negócio duro e grosso que os homens têm no meio das pernas. Bem, há exceções...
Eliane sorriu, depois riu muito e deitou a cabeça entre as coxas de Helena.
- Menina, você é incrível! Nem eu, em meus maiores ataques de franqueza, seria capaz de ser tão direta e objetiva assim. A verdade é que você também perturbou minha cabeça, fez minha feminilidade, minha certeza de ser mulher, virar geléia. Já não tenho mais a menor firmeza sobre coisa alguma e nunca, em toda minha vida, senti isso por mulher alguma...
Helena interrompeu-a:
-Até poucos dias atrás, quando você apareceu por aqui. Lá em Santos confesso que a única coisa que senti por você foi simpatia. O que será que ficou diferente de lá pra cá?
- Talvez uma de nós tenha se apaixonado pela outra e de alguma forma isso foi transmitido sem palavras. De uma forma eficiente que contagiou a outra. Mas continuo amando muito seu pai.
- É engraçado; não é, Eliane? Duas mulheres, duas pessoas do mesmo sexo falando assim uma com a outra...
- Não sei se é engraçado, se é triste, se é absurdo ou mesmo anormal. A verdade é que não vejo a hora em que possamos ficar juntas e à vontade. O que será de nós, Helena? Vamos para o laguinho?
- Prefiro não ir agora, minha querida. Quero ir lá pra demorar muito, ficar muito à vontade mesmo, e de repente o pai e Andréa podem voltar. Não faltará ocasião para voltarmos a este assunto, você não acha?

Helena estava certa. O coronel e a outra filha voltaram muito depressa, cobrindo rapidamente a pequena distância entre a cidadezinha e o loteamento, e logo desembarcavam sorridentes ao lado do jipe.
- Vamos, moças. Vamos, pelo amor de Deus, que meu estômago está gritando, desesperado, de tanta fome. De tanta saudade da comida do Barracão. Vamos, vamos, vamos indo.

=Continua
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 09/08/2007
Reeditado em 09/08/2007
Código do texto: T599511
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.