Das incertezas

Passada uma semana, lá estava ela mais uma vez, debruçada sobre os mesmos fazeres, novamente... como num ciclo vicioso. Sentia o vazio amargo dos dias passados, em que sua mente tentara pôr calma à sua alma perturbada. Do bolso, tirara uma bala, como querendo moderar sua própria vida. De seus medos, teve a certeza de qual seria o maior. Arrepiava-se e horrorizava-se... Não... podia não saber quem era ou o que viria a ser, mas sabia ao certo o que não era. Isso, de fato, já é algo...

Amava suas lembranças, mais do que ficar encolhida na cama num dia frio. Por tantas vezes se perdia... O mundo é um retalho de vozes e passos, que passam despercebidos, jogados num tempo qualquer. As pessoas passavam ao seu lado, por vezes a miravam, mas nada era capaz de arrancá-la dessa permanente isolação, estado constante de sua alma.

Mais um dia, e outro... outro.... Submetia-se a uma prova de resistência e não sabia quando chegaria o fim, quando mudaria as circunstâncias. Tremia diante da possibilidade de já não ter escolhas. Porém, continuava a crer.

Sentada numa velha cadeira, refletia e ignorava as imagens que passavam atrás de si. ‘Que importavam?’ Pouco faziam diferença. Eram torpes. Revoltava-se facilmente. Sua constante paciência começava a incomodar. Estava cansada. Contava os dias necessários para se ver livre desse tormento... e os dias se alongavam.