"Fidelíssimo" = "Histórias de Amor Safado"

   No terceiro ou quarto dia de empresa, aquela colega já se considerava enturmada o suficiente para chegar à sala da equipe bufando de raiva e descarregando sua ira para quem quisesse ouvir:
- Gente, vocês me desculpem a franqueza, mas homem não presta mesmo. Homem é tudo a mesma merda. Só muda de endereço. Ah, os homens...Que ódio que me dão! Acho que vou morrer sem conhecer um que valha a pena. Que não seja um safado, um pilantra, um infiel descarado. Nunca soube de um marido fiel do princípio ao fim do casamento.
    Lípolis, que jamais passaria sem dar o ar da graça, apoiou-a:
- Eu, por mim, detesto homem.
   Romero também foi favorável a ela:
- Pra mim só quem presta neste mundo é a mulher. Eu nunca ouvi falar de uma que enganasse o marido, que cometesse falcatruas, que não dissesse mentiras. Todas umas santas. Sou “doidim purelas”..
   Eu, que naquela hora devia estar com algum sério e imperceptível problema, estranhamente não me manifestei.
    Alguns minutos depois, enquanto a reunião do dia não começava, a mulherada presente desancou os homens presentes, ausentes, vivos, mortos, e até os ainda por nascer. Eu só ouvia a zoeira sem prestar muita atenção. E olha que costumo achar divertidos esses duelos de línguas femininas quando se dispõem a atacar o objetivo maior da vida de quase todas elas. A nós, seus sonhos de consumo. ( Essa frase gerará comentários bravos...).
     À saída da reunião, em direção ao elevador que nos levaria para a rua e rumo aos clientes paulistanos, encontrei a colega raivosa. Sorri para ela, deixei que passasse à minha frente e embarcasse no elevador.
    A ascensorista, minha amiga, sorriu-me como sempre e, cúmplice, ao invés de descer, subiu, percebendo que eu teria alguma coisa a dizer à colega. E eu tinha mesmo:
- Moça, você me deve um pedido de desculpas.
- Posso saber porquê?
- Pode. Não existe mulher no mundo que me faça trair minha esposa. Você foi injusta com relação a mim como homem.
- Arrá...essa eu duvido. E tem mais, reafirmo que não há homem fiel neste mundo. E você não será a exceção.
- Ofensiva. Muito ofensiva. Eu torno a repetir: não existe mulher neste mundo que me faça trair minha esposa. Agora, com licença, bom dia, bom trabalho e até amanhã.
Saí do elevador a passos que demonstravam minha indignação, depois de mandar com os dedos um beijo para minha amiga ascensorista.

    No dia seguinte a colega brava com os homens sentou-se ao meu lado na reunião e percebi que volta e meia encostava a perna na minha, falava com a colega ao meu lado esbarrando os seios em meus braços, puxava conversa comigo pondo uma das mãos em uma de minhas mãos, e estava toda melosa ao falar comigo. Melosa, simpática, mansinha, insinuante mesmo.
   Os dias passaram e o suave e discreto assédio aos poucos foi se intensificando. Ainda mais quando, por qualquer motivo, eu reiterava minha decisão de jamais trair minha esposa.
   Um dia, um bom tempo depois, aconteceu nossa primeira viagem para a mesma cidade do interior de São Paulo. (Sempre acabavam acontecendo essas viagens com colegas que por um motivo ou outro me interessavam, mas por pura coincidência de escalação, visto que eu não tinha poder para tanto. Nem para um tantinho...)
   Na primeira noite no hotel onde a turma se hospedou, ela jantou ao meu lado, ficou “perna a perna” comigo enquanto comíamos, e foi para o seu quarto antes que eu terminasse de comer.
   A porta do quarto dela dava direto para a sala de refeições e alguns minutos depois ela pôs a cabeça para fora do quarto e chamou-me com um gesto discreto. Apressei-me a engolir o resto do café e a atendi sem mostrar muita afoiteza:
- Diga, colega. Precisa de alguma coisa?
- Fernando, será que você me ajudaria com a minha bagagem? Minha mala está pesadíssima e o cretino do homem do hotel colocou-a em cima do armário. Vê se é possível uma coisa dessas.
   Antes que eu acabasse de entrar no quarto ela se postou de frente para o armário, vestindo apenas uma camisola deliciosamente indiscreta, esticou os braços para cima como se fosse pegar a mala sozinha e me explicou:
- Vou ter que te ajudar. Você sozinho não vai dar conta.
   Cheguei por trás dela, estiquei também minhas “mãozinhas” para o alto e peguei na alça da mala. É claro que nossos corpos se juntaram na difícil missão e uns dez minutos depois a mala chegou ao seu destino, que era o chão do quarto. Meu rosto devia estar esbraseado pelo “esforço”.
   Claro que eu mereci um beijo pela ajuda. Claro que eu tinha que retribuir o beijo que ganhara pela ajuda. Ela se sentiu na obrigação de retribuir o beijo com o qual eu tinha retribuído o beijo pela ajuda, e assim fomos trocando beijos para ninguém ficar devendo nada a ninguém e, finalmente, um tanto quanto sem fôlego, tivemos que cair na cama e...bem, a cada vez que a coisa esquentava eu reiterava nas orelhinhas dela que não existia neste mundo mulher que me fizesse trair minha esposa.
   Quando finalmente me preparei para sair do quarto dela, com a sensação exata de que acabara de participar de um rodízio de sexo, ela me puxou de volta para a cama e exigiu uma resposta:
- Que negócio é esse afinal? A cada vez que você me possuía você dizia de novo que mulher nenhuma o levaria a trair sua esposa. E eu fiz o quê?
- Fez sexo comigo.
- E isso não é trair sua esposa?
- Claro que não. Eu ainda sou solteiro.
   Ela me deu uma surra tão gostosa que acabamos ficando excitados e voltamos para a cama. Ela me batia, ria, transava, batia, ria. Ê suadeira danada de boa...
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 09/08/2007
Reeditado em 09/08/2007
Código do texto: T600193
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.