Personagem observador

Eu presente estou. Não um eu que você pensa que é, mas um eu que somente eu sei quem é, e, se tiver bons olhos descobrirá.

Eu que vivo uma liberdade incompleta. Não sou como Marthieu que está livre, mas se põe preso a indecisão, colocado na parede pela idade da razão. A minha liberdade não é completa porque estou preso a uma realidade, ainda não é de papel, mas estou preso a ela; talvez, seja até consciente; consciência que está presa a mim e eu preso a ela. Sinto uma náusea atropelar-me o corpo, depois que descobri separar: vazio, náusea e conteúdo, tudo ficou-me mais fácil. Não descobri por mim porque estou no papel, mas quem me observa mostrou-me. Antonie também experimentou a náusea, ele que mostrou a meu observador o que é. Sou agradecido a eles por me darem essa consciência. Engraçado, está aparecendo muita gente nesse espaço; espaço que desconheço; espaço de papel. Temos: um, dois, três e quatro pessoas nesse pequeno espaço. Não posso reclamar, eu que os convidei a entrar. Agora fui invadido pela incerteza. Será que eles são pessoas distintas? Ou fazem parte de mim? Ou eu faço parte deles? Ou melhor, será que não fui eu que invadi o espaço deles? Bom, sei que estou nesse papel, mas não sei onde o papel está. Estou descobrindo uma outra realidade, a realidade do entre. Nem à frente e nem à atrás, mas sim entre. Estou perdido e preso. Roubaram a minha liberdade, quem me observa está se esborrachando de rir, não vejo graça nisso. Só porque sou uma consciência presa a um papel, um ser sem definição, um personagem preso às letras, a imaginação. Tenho um valor próprio, que está aqui e não ali. Sempre estarei aqui observando o meu observador, no meu papel de personagem.

Dionísio
Enviado por Dionísio em 09/08/2007
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