O Acompanhante

Janete, recém operada no Hospital Geral esperava sua mãe para acompanhante, quando apareceu Afonso, o seu esposo. Num quarto quadrado, cuja luz de centro parecia lenha para alimentar a fogueira, onde o sol pelo dia queimava as paredes e o ventilador jogava aquele ar pesado, adjacente a dor de quem já pedia pra morrer.

Realmente não era um local, cuja paz harmonizava com a evolução do paciente. Pelo contrário, contrastava até com a rua, que apesar dos perigos, estava mais amena.

Assim naquele purgatório, Janete ouvia as lamúrias do seu esposo,mas tinha que se contentar, pois a sua mãe amanhecerá adoentada e por isso, não pode ficar no hospital.

Durante o dia seu Afonso suportou reclamando e sua esposa olhando todo aquele drama, sem dizer nada. Afinal a enferma era ela, então a paciência tinha que vir das entranhas para os dois polos.

Quando a noite ascendeu o calor, mais ameno, mas ainda bastante difícil, deixando a todos em fila ao banheiro, que para piorar, normalmente a noite, pouca água se fazia. Fazendo com que a irritação do senhor Afonso aumentasse e ele retrucasse comentando com a sua esposa e com alguns enfermos.

A hora passando o jantar sendo servido e os medicamentos paulatinamente sendo encaminhado aos doentes, com exceção da sua esposa.

Cansado em função do calor do dia ele perguntou a Janete:

- Amor são vinte e uma horas. Que horas vão te dar alguma medicação.

Ela respondeu:

- Filho, acho que só amanhã, pois desde ontem, é que a enfermeira me diz que não tem a minha medicação.

De imediato ele retruca:

- Mas por que não me falaram?!... Já comprei até o algodão e as agulhas, o esparadrapo e os escalpes, por que não falaram sobre a medicação?!...

Ela fez uma cara de não saber e ele seguiu até o balcão de atendimento e perguntou a enfermeira. Ela de imediato respondeu:

- Olhe seu Afonso, não sei porque não lhe comunicaram, mas a receita é essa.

Ele mais do que depressa foi a farmácia mais próxima e conseguiu aviar a maioria dos medicamentos.

Entregou a enfermeira, que prontamente procurou medicar a paciente.

quando ele chegou para continuar acompanhando a sua esposa. Ela pediu para ir ao banheiro se limpar, pois estava toda mijada. Ele a ajudou e juntos voltaram de novo para a cama.

Ele se assentou numa cadeira, que já havia comprado, pois no hospital também não havia e em menos de meia hora já adormecia.

Janete ria sozinha e de cima da cama, tentava pestanejar, quando lá pela meia hora, após terminar o soro prescrito pelo médico e comprado pelo seu esposo, quis ir ao banheiro e chamava pelo senhor Afonso, que a esta altura já dormia no chão. Ela falava, mas ele nem sequer se movia; ela jogava travesseiros e colchas, mas ele não acordava.

De forma, que ela outra vez, mijou na cama. Indignada ela também, sem poder gritar, viu uma acompanhante de outra pessoa passar e com um sinal das mãos a chamou. Pediu a moça que a ajudasse a levantar, para trocar o pano da cama e ir ao banheiro se lavar.

Feito isso, com a ajuda da moça voltou a cama, agradeceu, se despediu e adormeceu.

Lá pelas sete e meia da manhã Afonso se levanta e pergunta a sua esposa:

- Amor, você quer que eu faça alguma coisa?

Com o rosto radiante, pois o médico por alí já havia passado disse:

- Sim, me leve para casa.

E ele espantado diz:

- Como?

Ela completa:

- Enquanto você dormia o médico me deu alta querido.

Ele todo desconcertado fala meio que sem jeito:

- É acho que peguei no sono.

Ela copiosamente ri e estende o braço para que ele seja o suporte e ambos seguem conversando sobre a saúde pública no Estado.