"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance = Capítulo 42

  Eliane almoçou tão área, tão distraída, que o coronel percebeu e brincou com ela, que alegou uma repentina dor de cabeça. Na verdade não conseguia era tirar da cabeça o assunto iniciado com a inquietante filha dele. Preocupava-se enormemente com aquela dúvida sobre sua feminilidade, até então jamais questionada. Foi a muito custo que conseguiu almoçar satisfatoriamente.

  À tarde, com ou sem dor de cabeça, que na verdade não existira, Eliane teve que sair e deixou o coronel e as filhas dormindo em casa. Teria que resolver alguns detalhes com o arquiteto e com o empreiteiro e gostaria de ir sozinha para pensar na vida sossegadamente. Nenhum dos três manifestou muito interesse em acompanhá-la naquela hora e ela saiu satisfeita por ir só.
  Pouco mais de duas horas depois voltava para casa quando a gasolina de seu carro acabou de repente e ela deu graças a Deus por ter sido tão perto, por ser tão pequeno o percurso que teria que fazer a pé.
  Ao chegar à entrada da casa, sentiu que os sapatos a machucavam um pouco e tirou-os. Pretendendo tomar um banho de imediato, não se importou de sujar os pés enquanto caminhava pela grama.
  Pensando em fazer uma brincadeira com o coronel e as filhas, resolveu entrar de repente pela porta dos fundos e rodeou a casa.     Ao chegar à metade do comprimento da residência, ouviu a potente voz do coronel e estacou. Percebeu, de imediato, que falava sobre ela.
- Bem, minhas queridas, a verdade dolorida e indiscutível é essa: foi ela mesmo quem mandou matar a mãe de vocês. O que descobri em São Paulo a respeito dela é prova mais do que suficiente para mim de que é uma pessoa mais do que capaz de qualquer coisa por dinheiro. É uma vigarista competente, vive de aplicar golpes, e de se aproveitar como ninguém de uma boa oportunidade. É espertíssima. Viva como ela só. Achei uma tremenda besteira esse negócio de Helena inventar de se envolver sexualmente com ela. Não vi necessidade disso, filha...
- Pai, eu sei o que estou fazendo. Quanto mais ela acreditar que somos tão amorais quanto ela, quando ela acreditar que somos uma família incestuosa e sem moral alguma, terei muito mais facilidade de arrancar as coisas dela. Todo mundo precisa de um confidente na vida. Até mesmo criminosos...
- Besteira, filha. Besteira mesmo. Ela é uma mulher solitária. Uma pessoa que só abre para o mundo aquilo que quer. E se ela se interessou por mim por dinheiro, dinheiro é tudo que tomarei dela. Sem contar a liberdade, é claro. Já preparei um esquema para pegá-la de jeito. Não haverá escapatória, mas depois contarei a vocês. Por enquanto não tive nem a oportunidade de conversar com quem preciso, lá em Santos, a respeito dela e de como faremos a coisa.
  Eliane não precisou ouvir mais nada. Com o coração disparado, saiu dali bem depressa, correu de volta ao carro e esperou que algum outro veículo passasse por ela e a socorresse.
Pelo menos uma meia hora ela ficou sentada atrás do volante esperando e pensando.
- Algum problema aí, dona Eliane?
- Seu Doca! Que surpresa agradável! Acabou minha gasolina e fiquei com preguiça de ir pra casa a pé, apesar de tão perto.
- Daqui a pouco trarei a gasolina pra senhora. Tenho um galão aqui no carro e em alguns minutos estarei de volta.
  Alguns minutos depois Eliane dava partida no carro e chegava alegre e buzinando em casa.
Abraçou e beijou Beluzzi e as filhas como se não os visse havia muito tempo.
- Pronto, meus queridos. Agora está tudo resolvido e poderei dar atenção total a vocês.

  Aquela noite Eliane passou toda em claro. Em claro e maquinando um jeito de livrar-se do perigo que agora Beluzzi representava para ela. Ele e as filhas. Os três teriam que morrer de imediato para que nada prejudicasse seus planos presentes e futuros.
De algum tempo ela sabia que poderia dispor. O coronel queria ficar com o dinheiro dela e isso demandaria algum tempo mais de farsa, de falso amor, para a conquista da confiança ou para a preparação de alguma armadilha terrível para ela.
Teria que agir com rapidez e sem o mínimo risco de conseqüências. /
Às cinco e meia da manhã saiu da cama, silenciosamente, e entrou no banho. Teria que estar às seis da manhã no loteamento para atender um comprador que estaria partindo logo depois para São Paulo. Fecharia o negócio e voltaria para o café da manhã com seus hóspedes, em casa.
   Ao chegar à portaria do loteamento Eliane lembrou-se que a companhia de eletricidade comprometera-se a completar a instalação da rede na véspera, e foi satisfeita que constatou que haviam cumprido a promessa. Os relógios estavam instalados e os fios já avançavam por um bom pedaço da área.
   O comprador veio, entregou um cheque de alto valor a Eliane, assinou com pressa os papéis e partiu, deixando-a só no escritório.
   Ao aspirar aquele ar puríssimo da manhã, teve vontade de embeber-se de natureza, de ar puro, de vida saudável, e resolveu despir-se no carro e dirigir-se ao laguinho. Queria sair nua do carro e pular dentro daquela água quentinha que certamente lá encontraria àquela hora.
   Enquanto dirigia, observava a fiação, novinha, e os postes imponentes já fincados na terra. Bem próximo ao lago notou que um dos fios pendia frouxamente e sua ponta estava na terra.
Ela desceu do carro, aproximou-se do fio e deu graças a Deus por não alguém passado por ali e pisado no fio, o que poderia ser fatal. Depois riu de si mesma.
- Que besteira...Ainda não liguei a eletricidade lá na portaria...
   Ôpa! Ali estava a idéia! Agora sabia como livrar-se de uma vez por toda de todos. Do coronel e de suas lindas filhas. Sem falha. Sem conseqüências, sem responder por isso. O crime perfeito.
   Puxando o fio através do mato ralo, Eliane escondeu-o entre a vegetação e enfiou sua ponta dentro d’água. Olhou, olhou de novo, envolveu mais ainda o fio na vegetação e só ao dar-se por satisfeita, resolveu que não nadaria. Passaria em uma padaria qualquer, compraria as coisas para o café da manhã e buscaria, animadamente, a família Beluzzi para o banho no laguinho. No maravilhoso laguinho que tanto encantara aos três.
- Amor da minha vida, passei pelo laguinho antes de vir pra cá e vi que ele parece mesmo uma jóia, uma pedra preciosa de tão azul e brilhante. Vejam se tomam logo café, gente. Vamos indo que o dia está maravilhoso pra gente mergulhar e ficar lá dentro daquela ágüinha maravilhosa até cansar.

   Menos de meia hora depois Eliane, o coronel, Helena e Andréa, curtiam o calor maravilhoso daquele lago fantástico.
   Quinze minutos depois Eliane saiu do lago, avisou aos três que estava na hora de ir buscar a surpresa que lhes preparara e pedia licença para deixá-los a sós.
- Fiquem aí, meus amores. Vocês vão adorar o que eu preparei para nós neste dia lindo e especial.
- De comer?
- De comer, mas simplesmente fantástico. Uma invenção da esposa do seu Doca.
- Não é melhor deixar nossas roupas aqui, amor?
- Nem precisa querido. Combinei com o seu Doca e ele vai entregar a coisa na portaria. Eu só tenho que ir lá, pegar e voltar. Enquanto isso vocês vão curtindo nosso laguinho.
   Eliane dirigiu com toda calma do mundo, curtindo o canto dos pássaros e a beleza do lugar, e estacionou, finalmente, próximo aos relógios de eletricidade.
   Bastaria virar a chave principal e o crime estaria consumado.

= Continua amanhã.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 11/08/2007
Reeditado em 11/08/2007
Código do texto: T603146
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