Mirando Ilusões.

Vejo alguém que se esconde em sonhos, procuro acompanhar o trajeto, corro impedindo-lhe a fuga.

Adiante encontro um rosto sem maquiagem, uma mulher renovando identidades. Durante anos, moldou seus defeitos e o medo da frieza personalizada em que foi criada.

Há surpresa em tudo que fez e estupidez em seu caminho, existe também paixão, interpretada como amor, de uma forma tão sutil que inutilmente aflora afeto. Quantas vezes leu Álvaro de Campos, procurando um ponto ridículo para partir...

Destinada ao nada, ouve lembranças, murmura palavras, desperdiça gestos, ignora novos desejos.

Sente saudade por opção, sofre sem devoção, aperreada debruça na constante loucura do viver. São tamanhas insanidades centrais nesse mundo desleal em que aspirou ser selvagem, ser valente.

Banhou o corpo com flores de laranjeira, perfumou a casa alimentando uma mentira isolada, aperfeiçoada e certamente agora, amaldiçoada em seus lábios, que Cláudio tanto beijou. Parada, inerte sem previsão recordou Ricardo Reis, “Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti”.

O amor nunca andou solto nos braços envolventes dessa amante tranqüila, que nunca demonstrou carências devastadoras, mas não despertou por conta disso, o interesse quente mais presente do homem que pensou amar.

Leica valoriza o que pretende alterar, nesse intervalo dolorido de mudanças ela se vai, me deixando pensativa. “Viver não é preciso...”

Agora sou eu quem recita Fernando Pessoa.

Norma Barros
Enviado por Norma Barros em 11/08/2007
Reeditado em 15/08/2007
Código do texto: T603342