Paisagem de um Amor.

Na penumbra deserta do seu quarto, Cláudio desperta de um mundo devastado, maltratado por seus apegos.

Quanta ironia retirada dos suspiros amanhecidos. Pensava em ficar só por alguns instantes, porém os desejos lhe remetem ao mesmo horizonte indefinido que há muito assola o seu íntimo carente, derrotado em conflitos permanentes.

Deu tantas cabeçadas em vão, que já não espera amar, sem se doar segue esquecido, pendurado na despedida descontraída que a vida proporcionou aos seus ideais.

Um ano havia passado e a mente não pretendia libertar seu coração da companhia sólida angustiante da solidão. Em conversa durante o trabalho, uma jovem colega comentou ter terminado de ler Fernando Pessoa, mas acomodado em recente distanciamento da leitura, achou melhor ir contemplar no final da tarde o amar. Meditou por duas horas, as razões nebulosas por que passava e em um rápido olhar, viu-se rabiscando na areia uma frase do Infante, que sem esforço lhe absolveu. “E a orla branca foi de ilha em continente”. Surpreendido, subitamente ergueu-se, começando a caminhar com um leve e gracioso sorriso.

Norma Barros
Enviado por Norma Barros em 13/08/2007
Reeditado em 06/08/2018
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