CABRAL PREPARA SUA VOLTA AO BRASIL

No dia 18 de julho de 2017, ano do senhor Jesus Cristo, Cabral encontra-se a beira do Rio Tejo, na marina Botafogo conversando com seu amigo inseparável, escritor famoso, literato de suas viagens, Pero Vaz. Estão a discutir os últimos detalhes de sua viagem ás terras brasilis, pois com muita saudade está este velho singrador dos mares daquelas terras tupiniquins. Diante de mapas, bússolas, GPS, o velho Cabral conversa animadamente com Pero Vaz, porém com uma certa preocupação.

Mas caro Pero Vaz, tu tens certeza que a gente vai chegar às terras brasilis usando esta geringonça tal de GPS? Pois me preocupo em muito, não quero errar novamente o caminho. Confio bastante na bússola e no mapa, com este tal de GPS fico desconfiado, não sou afeito a estas modernidades de hoje. Bom era nosso tempo, a bússola e o mapa dava certinho o norte, tu escrevias as cartas com uma pena e uma folha de papel, hoje tem esta máquina onde bates na tecla e sai palavras, coisa difícil de entender.

Meu caro amigo Cabral, não seja desconfiado e aceite a modernidade. Pensas que vamos errar o caminho e bater pelas bandas das Índias, estás enganado, o GPS não erra nunca, ele é preciso, ademais para quem já errou uma vez, errar outra até que seria compreensivo.

Nada disso nobre amigo, eu sou um português comprometido com minhas obrigações e desta vez não vou permitir erro algum. Já bastou a decepção que cometi a nosso rei D. Manuel I ao me perder nos mares coisa que nunca havia acontecido dantes.

Caro amigo Cabral, tu és um burro ou um ingênuo? Nosso rei não ficou decepcionado, pelo contrário ficou foi muito feliz, não percebestes o império que virou aquelas terras tupiniquins? Quanta madeira e ouro nosso rei trouxe a Portugal para enriquecer os cofres da coroa? Aquelas terras contribuíram bastante para o crescimento de nossa economia, ora, pois, pois. A nossa igreja mandou missionários para catequisar seus silvícolas, pecadores que adoravam a natureza, por isso andavam todos nus, que pouca vergonha. Só foram conhecer o nosso Deus com a chegada de nossos humildes frades, que Deus os tenha. Devemos agradecer a Frei Coimbra por ter nos acompanhado nesta viagem e rezado a primeira missa entre os pelados, homem de fé, não se envergonhou. Vestiu sua roupa santa e celebrou a primeira missa naquelas terras longínquas.

Pois é nobre amigo, pensando bem, quantas benesses trouxemos aquela gente. A nossa religião, o uso de roupas, a nossa inteligência, mais tarde os negros africanos para trabalharem nas fazendas. Penso que aos dias de hoje aquela gente deve estar nos agradecendo pelo nosso feito, sem modéstia, tudo começou por nós. É por isso que decidi rever aquela gente, aquele pedaço de chão luso-brasilis. Fico a pensar quando nossas naus se aproximavam daquela vastidão de terras meu coração palpitou, tive a certeza de que estávamos no lugar certo, na hora certa, terra de Vera Cruz. Estou emocionado.

Caro amigo Cabral, disto sempre tive certeza, do caminho estar correto, pois este era o roteiro, afinal foi eu que escrevi o diário de bordo, lembras? Escrevia as cartas para o nosso rei cada passo dado nesta viagem, ele estava a par de todo acontecido, argumentando ser necessário manter segredo do reconhecimento destas novas terras que fariam parte do nosso domínio. Quanto ao futuro, deixamos que os historiadores se encarregassem de contar a estória para as gerações futuras. Não foi um belo conto, caro amigo Cabral?

Será nobre amigo? Como fica a minha reputação de descobridor?

Caro amigo Cabral, continua igual. Tu és o grande descobridor das terras brasilis. Esta estória é contada nas Escolas, nas Universidades, nos livros, sites etc. O mundo todo está convencido desta estória, se bem que hoje existe um grupelho de pessoas questionando, mas são tão poucos que não oferecem perigo a nossa reputação. E falando em reputação, me senti triste quando soube que o nosso rei D. Manuel I preteriu teu nome para uma nova viagem para as Índias. Entrastes em desavença com o nosso rei? Não sabias que ele era um nobre de pavio curto, que não permitia ser contrariado?

Pois é, nobre amigo. Infelizmente entrei em colapso com D. Manuel e desta forma fui preterido para este empreendimento. Senti-me muito triste e traído, se queres saber. Diante disto pedi minha aposentadoria e sumi da história.

Caro amigo Cabral, bem dissestes, sumistes para onde? Fiquei a te procurar e não mais te encontrei. Fostes banido?

Nobre amigo foi algo parecido e diante deste mal que ainda me faz, prefiro me negar a comentar tal assunto. O importante é que nos encontramos agora, depois de tantos séculos neste mesmo lugar de partida, diante desta magnífica Torre de Belém, na beira do Rio Tejo, que já não é a mesma, diga-se de passagem, a saborear uma boa cerveja Sagres, lá de Vilonga, planejando nosso retorno a terra brasilis.

Caro amigo Cabral está ótimo esta conversa, a cerveja muito saborosa, mas temos de ir a Nau fazer os últimos preparativos. Já fiz o roteiro, o GPS está sincronizado. Temos de ver como está a despensa, combustível, autorização e pronto já zarpamos amanhã de madrugada.

Nobre amigo não tenha pressa, vamos beber a última da noite. Nos despedir dos amigos desta marina e pronto.

Caro amigo Cabral ia esquecendo, qual o nome que darás a esta nau?

Nobre amigo não pensei, mas que tal Catarina?

Caro nobre Cabral, homenagem a tua filha?

Nobre amigo, sim homenagem a minha filha predileta. Minha Santa e bela Catarina. Eu mesmo vou pintar seu nome nesta Nau.

Caro nobre Cabral permita que eu te ajude?

Nobre amigo, pois sim. E Traga mais cerveja para mais esta comemoração, brasilis a vista.

Valmir Vilmar de Sousa (Veve) 18/07/17

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 19/07/2017
Reeditado em 19/10/2017
Código do texto: T6059405
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