Está noite, adeus escuridão!
Quando criança, temia o escuro, mesmo que minha mãe me dissesse
para não senti-lo, era inevitável e não havia coberta que me apaziguasse, pois ela era uma inimiga ardilosa.
A escuridão me adorava, insistindo em me tirar para dançar como a um amante, mantendo-me acordada até o amanhecer. Meus olhos já cansados resistiam em se fechar e meu cérebro não permitiria que eu fosse pega de surpresa, então eu não dormia e assim foi, por anos.
Mal sabia eu, que esse medo revestido de puro cansaço, tinha prazo de validade, a bailarina noturna sabia (eu não), ela temia isso, ainda continuaria existindo sem mim, mas não gostava da ideia de perder seu brinquedo favorito, como um gato, brincando com o rato, antes de devora-lo.
Eu me lembro como se fosse ontem, na verdade muito mais, se fecho os olhos consigo ver nossos fantasmas do passado revivendo cada passo. Na noite em que “dormi” em seu quarto, pela terceira vez (eu acho), mesmo depois que você adormeceu, eu fiquei acordada, ouvindo os sons lá fora, o movimento dos carros, os gatos, até que algo me chamou muito mais a atenção, sua respiração, que acabou por me dar uma certa agitação, ansiando entender porque me deixará assim.
Só entendi quando me dei conta de quanto tempo havia passado desde que dormira, o sol acabara de nascer e nesta incrível noite não temi, a escuridão não me abraçara, tinha outro em seu lugar está noite, então olhei para seu rosto adormecido e compreendi que ela não poderia ficar, tinha sido expulsa e que nada se aproximaria no escuro.
Num sussurro escapado disse: então você é minha luz? E pela primeira vez senti a mais pura gratidão, pois agora meus olhos poderiam descansar, então os fechei, e com um último pensamento adormeci. “Eu estava perdida no escuro e você me encontrou!”.