A Noite de São João

Aquela noite poucos vão esquecer, até se poderia dizer, pra nunca mais lembrar. Porém, há que se relatar e assim, faz-se, que sob o domínio da luz incandescente, o céu estava estrelado, a lua saia tímida e as fogueiras ardiam, em frente a cada casa no meio da rua. Algumas bandeirolas, uns ramos de açaizeiro e o mingau de milho sendo servido antes da hora da quadrilha. Senhoras e senhores em frente as suas residências, crianças brincando de passar na fogueira, de compadre e comadre; outros casando e alguns fazendo adivinhações.

O quadro perfeito estava sendo pintado, como antigamente. A alegria adejava no ar e a brisa fria se estendia já a fazer namorados se ajuntar e as bandeirolas, como os balões em par, como enfeites marcarem antecipada a dança.

Poetas e adivinhos, meninos e meninas, cavalheiros e damas, boi bumbá, noivos e o pai da noiva, com padre e delegado harmonizavam-se no portão de entrada sob o som do são João na roça, quando rompendo o pitoresco, alguém gritou inferindo desespero:

- Socorro não deixem eles me matarem!

Sem dar tempo pra assimilar direito, como numa guerra, ouviu-se tiros, mulheres, homens e crianças embaladas pelos desesperos, buscavam em rumos difusos salvarem suas vidas. A gritaria generalizada, os desmaios ocasionais, o passar mal, e a intranquilidade assomada a falta de segurança, a matança exacerbada em nossos dias e a maldade dos nossos tempos fez-se a “Guêrnica”. Pilão, o noivo correndo em desespero, escalou um muro de três metros pra se esconder no quintal da Ester; Seu Mimim, o pai da noiva com o delegado, Estevam, deram as mãos e correram pra casa do senhor Antônio; Seu Venâncio, que havia completado 94 anos passou mal e foi carregado pelo Osvaldo e Minhoca a sua casa; Jô, que estava linda, envaidecida, com seu vestido de noiva, desmaiou; Dona Graça, mais do que depressa pegou seu banquinho, seu cachorro e sua gatinha e se agasalhou; Dona Nê, que estava passando na fogueira de namorada com o seu Antônio, num de repente acompanhou dona Filó na corrida pra casa de sua filha Vanuza, que entrou bem antes e bem desesperada, sem lembrar da mãe trancou a porta; As meninas da dona Raimundinha lá do alto de sua sacada gritavam e se escondiam; Marilene, a miss, perdeu a faixa, parte da saia e o óculos; Ruthe, Robertinho, Rodrigo, Casemiro, Professor, Lúcia, Serginho, Regina, Esther, Lica, Nã, Mirian, Léa, Seu Piauí, Sabá, Cabeludo, Ionaldo, Julia e a France corriam de um lado para o outro e se encolhiam nas paredes, como a se proteger de algo.

Em meio a tanta fumaça, gritaria, tiros e desesperos viu-se uma luz. A polícia chegava e já algemava um suspeito, que embriagado, gritava em desespero, ao adentra no carro de polícia.

De longe, de perto e bem de perto, os curiosos foram obtendo a confissão, tomando de pé da situação e começaram, enfim a esclarecer a história. Segundo alguns relatos, o rapaz preso dirigia embriagado e quando viu uma blitz, entrou na rua pra se ver livre, no entanto, na rua havia um terreiro, obstáculo intransponível e em seguida a policia em perseguição deu tiros pro alto de alerta pra que ele obedecesse a voz de prisão, gerando toda aquela confusão e frustrando aquela diversão.” Pois em tempos difíceis, quem acreditaria em cumprimento da lei”, encerrando a fala seu Godinho a tv, que se fazia presente naquela confusão.