NOVA GUARANI

NOVA GUARANI

Ao poeta

FERNANDO MEDEIROS

Bem-te-vi, Peri!

Veio o sol e alumiou a Terra. Ouve o canto do pássaro, Peri! O sabiá também já cantou.

Peri cantou triste...

“_ Volta cá, guerreiro goitacá!” - implora Ceci.

Não, Ceci, não é neste lugar que o indígena deve ser visto. Aqui só há edifícios suntuosos.

“_ Então... onde está meu Peri?”

Lá, junto às flores agrestes, onde a civilização não teve ainda tempo de penetrar todo interior; lá longe, na Periferia, coberta de melões campestres. Lá onde a terra e a pedra são feridas pelo sol, onde transitam homens, mulheres e crianças por ruas não asfaltadas, esburacadas, e sobrevivem numa luta terrível contra a matéria, contra a miséria.

“_ Mas lá só há homens selvagens, de linguagem áspera! Corre-se o risco de morrer ferida... _ oh! meu amado Peri, eis você!”

“ _ Ceci, se ama Peri, você não poder viver longe dali, pois *tudo é o mesmo, desde que te causa prazer, senhora.”

Então Ceci decidiu partir junto a Peri-feria o perigo em Festa!

De repente, o espelho d’águas! As águas caíam e cobriam a Terra.

Rapidamente, Peri abriga Ceci na cúpula de uma imensa palmeira.

A inundação cresce cada vez mais. Súbito, um lençol de imunda espuma cobre toda cidade, desaba sobre vivos e mortos. Luxo e lixo as águas turbulentas levam, devastando tudo aquilo que um dia fôra Cecidade... A Peri feria assistir tamanha destruição, porém sabia ter a amada Ceci ao seu lado; dois ardentes corações.

Assim, o apaixonado casal sobre * a palmeira arrastada pela torrente impetuosa fugia...

*E sumiu-se no horizonte...

E longe, bem longe, no fundo do horizonte, o canto do pássaro anuncia:

“_ Bem-te-vi, Nova Guarani!"

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NOTA:

1) As passagens acima assinaladas com * foram extraídas de BERALDO, José Luiz. “José de. José de Alencar: seleção de textos, notas e estudos biográfico, histórico e crítico...” São Paulo: Abril Educação, 1980 (Literatura Comparada).

Prof. Dr. Sílvio Medeiros

Campinas, é inverno de 2007.