'Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Capítulo 45

   Na delegacia, prestando depoimento, Eliane foi confrontada com Geraldo:
- A senhora reconhece esse homem como a pessoa que invadiu seu apartamento e ameaçou de morte?
- Reconheço sim senhor.
- Houve também tentativa de estupro?
- Quase, doutor. Mas parece-me que ele é impotente. Bem que tentou, mas não conseguiu...o senhor entende, não é?
Geraldo não conseguiu conter-se:
- Estruprei ela sim, doutor. Ela sabe que estruprei ela. Tá dizeno que não só pr mi humilhá.
- Então o senhor confessa, de livre e espontânea vontade, que, além de assaltá-la, obrigá-la a assinar um cheque, ainda estuprou a moça aqui presente...Muito bem. Isso acrescentará alguns anos à sua pena.
  A desgraçada, com o seu truque baixo, o obrigara a dizer o que não devia. Geraldo sentia-se como uma bateria recebendo carga máxima. Carga de ódio mortal.
Eliane sorriu bondosamente para o delegado, que a encarava com olhos cobiçosos:
- O senhor veja, doutor, a gente quer ainda aliviar as coisas para um meliante e recebe essa ingratidão toda. Tenho muita pena dele, apesar de tudo. Ele era carcereiro na Praia Grande e vivia criando problemas com os presos. Ele se apaixonava por um deles e o coitado sofria nas mãos dele se não fosse correspondido. Quem me contou isso foi um primo de minha vizinha, um outro coitado, homossexual como ele, que cumpriu pena lá.
  Por pouco Geraldo não conta ao delegado que ela lhe pedira para matar o Waldemar do Sindicato e que ele aprontara a morte do ex-companheiro dela. Por muito pouco mesmo. Lembrou-se a tempo que quanto mais pena tivesse, mais difícil seria a vingança.
   Conteve-se, manteve-se sob controle e encarando Eliane, sorriu para ela.
   Nessa hora ele teve mais medo dele do que nunca, mas não demonstrou.
- Doutor delegado, que sina a minha...Sozinha no mundo, passo um susto deste tamanho e não tenho quem me proteja, quem me faça companhia numa noite como esta. Até pra casa terei que ir sozinha...
- Ora, dona Eliane, não seja por isso...Faço questão de oferecer-lhe não apenas uma carona, mas a minha proteção pessoal. Basta a senhora aceitar e farei plantão na porta de seu apartamento para não deixá-la só e assustada.
- Que amor de pessoa o senhor é, doutor. Olha, não vou abusar de sua bondade, mas uma carona bem que aceito, pois assim poderei privar mais um pouco de sua companhia.
   Conversa vai, conversa vem, o delegado acabou subindo, entrando no apartamento de Eliane, refestelando-se no sofá, aceitando um uísque importado, repetindo a dose, ficando mais à vontade e não resistiu quando ela lhe pediu que “montasse guarda” no sofá da sala.
- Doutor, só por saber que o senhor está aqui em casa já me sentirei mais do que segura. Espero que o sofá seja confortável para o senhor.
- Menina, pare com esse senhor pra cá, senhor pra lá. Meu nome é Luiz Roberto, ao seu dispor.
- Então fique à vontade, Lu. Vou me preparar para dormir que hoje foi um dia horrível.
   O delegado esticou-se no sofá, achou-o duro e incômodo para seu peso de homem forte, mas mesmo assim permaneceu deitado à espera de um sono que sabia que não viria. Na verdade estava se contendo para não entrar no quarto da moça e oferecer-se para ajudá-la a trocar de roupas.
   Pouco mais de meia hora depois Eliane voltou à sala e cutucou-o ligeiramente:
- Lu, está dormindo?
- Não, minha querida. Porquê?
- Acho que será muito difícil ficar sozinha no meu quarto hoje. Posso ficar aqui com você?
- Claro. Afinal de contas a casa é sua.
- Mas não quero te incomodar. Você pode continuar no sofá que eu me ajeitarei ali na minha poltrona. Tudo bem?
- De maneira alguma, minha cara. De maneira alguma. Estou acostumado à dureza, a fazer campana em viatura. Faço questão de ficar na poltrona e que você ocupe o sofá.
   Discutiram risonhamente por algum tempo e Eliane, agradecida, beijou o delegado no rosto. Um beijo que parecia inocente, mas que demorado e um tanto quanto espalhado pela bochecha, foi convite explícito para um outro tipo de ósculo. E o delegado o deu.
   Na manhã seguinte saiu da casa de Eliane um delegado desgastado e feliz pela noite de prazer intenso, agora doido por uma dormida de verdade. Na idade dele seria necessário pelo menos um dia de descanso após a maratona sexual.
- Oh, meu Deus! Encontrei a mulher da minha vida...

    Algum tempo depois Eliane ria, feliz. O coronel estava bem substituído. O delegado era mais jovem, mais forte, mais escolado ainda que o coronel nos prazeres da cama. E, o melhor de tudo, dera a perceber que seria de bem mais fácil controle. Desquitado, cardíaco, pai de apenas dois filhos homens já adultos e independentes e com os quais não se dava a mínima por influência da mãe. Com um detalhe sem qualquer importância: tinha muito dinheiro amoitado.
  Nos intervalos das atividades sexuais, durante os quais ela lhe trazia bebidas, um café forte e sem açúcar como ele gostava, ou apenas lhe fazia cafunés, a autoridade policial ia se abrindo e lhe contando coisas de sua vida profissional, e sem medo algum, certo de que já a conquistara definitivamente, fez confidências sobre ganhos extras, as vantagens que levava sobre bandidos da pesada, os acordos com bicheiros e traficantes, o que possuía em nome de laranjas e ria, feliz da vida, com a admiração imensa que Eliane demonstrava a cada vez que mais e mais ele se abria.
- Meu querido, você é um gênio. Simplesmente um gênio. Não é por estar em sua presença, mas jamais imaginei que houvesse um homem tão inteligente, preparado e sagaz como você. E do jeito que você faz as coisas, é quase perfeita a sua segurança.
- Quase porquê, meu amor?
- Ora, meu querido. As pessoas que você usa como testa-de-ferro podem morrer de repente, podem ser assassinadas, podem resolver lesá-lo...
- Isso de lesar, nunca. Não seriam bestas a esse ponto.
- Eu, por mim, usaria apenas uma pessoa de confiança. Uma pessoa que lhe deixasse um documento firmado em cartório, uma procuração sei lá, dando-lhe a posse de tudo em caso de morte, sumiço, doença, ou qualquer outra eventualidade. Enfim, que fizesse de você o herdeiro de seus bens, que na verdade são seus mesmo.
- Caso eu me decidisse a fazer isso, você aceitaria ser essa pessoa?
- Acho que não, meu amor. Estaríamos misturando nosso amor com dinheiro, e isso é coisa que está longe de mim. Jamais misturaria essas duas coisas tão diversas, tão diferentes entre si.   Quero você pra mim, todinho, mas quero como meu protetor, meu anjo da guarda, meu amante gostoso e minha segurança de mulher desprotegida e só.
- Pois saiba, minha paixão, que eu só centralizaria meus bens em uma única pessoa se essa pessoa fosse você. Não confio em mais ninguém neste mundo.
- Nem em seus filhos?
- Aqueles dois são os mais legítimos filhos da puta que conheço. Seriam capazes de correr e entregar tudo pra mamãezinha querida deles. Se você não aceitar, meu amor, tudo continuará como antes no “quartel de Abrantes”.
  Eliane quase rilhou os dentes naquela citação idiota que a fazia lembrar-se de seu pai, aquele vegetal nojento.
- Eu vou pensar sobre isso, amor. Mas juro que morro de medo de te perder, de você achar que sou uma dessas mulheres materialistas, interesseiras, que misturam amor com dinheiro e dinheiro com amor. Eu, na verdade, prefiro viver com independência, pagar minhas contas, gastar um pouco do que papai me deixou...
- Eliane, meu amor, escute uma coisa de uma vez por todas: mulher minha quem sustenta sou eu. Se eu souber que você comprou pão com seu dinheiro, amor, você pode ter certeza de que encherei sua bunda de palmadas. E olha que sou forte nas palmadas. Entendeu?
- Acho que essa será nossa primeira briga séria, meu querido.
   Quando o delegado saiu da casa de Eliane conseguira, a muito custo, que ela concordasse em que não mais gastaria um tostão do dinheiro dela com coisa alguma e que a partir do dia seguinte passariam a viver juntos no apartamento dele à beira-mar.
- Mulher direita demais dá nisso, meu Deus. Vê lá se vou admitir que mulher minha viva às próprias custas...Só me faltava essa. Mulher independente a gente não controla como se deve, todo mundo sabe disso.

= Continua amanhã.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 16/08/2007
Reeditado em 16/08/2007
Código do texto: T609446
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