Futuro Assassino

Em 2027 ela tinha me emprestado um livro sobre viagem no tempo. Através da transcendência espiritual e um conhecimento parco em relação ao espaço-tempo seria possível avançar e regredir em anos. E foi no dia seguinte que ela terminou comigo, disse que tinha conhecido um rapaz em Londres, falou que em 2042 seu coração tinha ficado mais exigente. Eu achei estranho esse papo de 2042, de novo cara, e de terminar comigo sem motivo. Depois ela me explicou que em 2032 nós estávamos casados e certo dia eu enchi a cara, dividi um comprimido com ela e fiquei louco. Fui diagnosticado com esquizofrenia. No dia 24 de maio de 2034 eu tentei matá-la com um espeto de churrasco. Então me internaram em um manicômio judicial, fui considerado inimputável. Nos primeiro cinco anos ela me visitava todo sábado. Ia com uma roupa provocativa, partes de baixo combinando. Levava 5g de cocaína escondida na vagina, ficávamos chapados, transávamos e depois eu tentava matá-la de todas as formas. Certa vez na ânsia de se defender, ela enrolou a calcinha no meu pescoço e me asfixiou, disse que eu morri de forma muito resignada, quase não reagi. No meu enterro só foram ela (alegou legitima defesa, com razão) e meu psiquiatra. Ele leu uma passagem de Freud e ela leu “Poema do Menino Jesus” de Pessoa. Sei lá, fiquei muito confuso com tudo isso. Então resolvi ler o livro...Em 2043 assassinei ela. Era o dia do casamento com esse novo “cara”, detestei a alegria dela e a forma como tinha superado o fato de ter me matado. Roubei um taxi e a atropelei na saída da Igreja. Acabei matando mais gente...foi uma tragédia. Fugi para o ano de 2052, senti a necessidade de contar e expor essa história. Ela é minha vizinha e é casada com um pastor evangélico. Hoje somos amigos. Ela me contou que sempre volta ao manicômio para me matar. Eu não quis lhe revelar, mas também a mato uma vez por semana, só que mudo o método. Tiro, fogo, pedrada, paulada...Uma vez matei até o Padre. Temos uma união de morte, um amor além do tempo. Já sei que em 2063 morreremos em um acidente de carro. Juntos, é claro. Sinto muito, mas matei o pastor.

Rodrigo Sanchez
Enviado por Rodrigo Sanchez em 12/09/2017
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