Vida de Caverna
Moravam numa caverna: pai, mãe e filho recém-desmamado. Os tempos andavam difíceis, a caça escassa, pouca água e poucas frutas nas árvores.
Quando alvorecia, Ele saía à procura de alimento para a família. Em tempos passados, quando havia fartura no planalto, os vizinhos se uniam para caçarem juntos, mas, desentenderam-se por conta da liderança. Ele, que não aceitava líderes, afastou-se com a família.
Ela cuidava de deixar a caverna aconchegante para o filho e para seu homem, que, mesmo viril e dominador, derretia-se com seus cuidados. O filho, resmungão, queria ser o dono do mundo. Feito o pai.
Certo dia, Ele aproximou-se do grande rio, em busca de uma grande caça que serviria para alimentar sua família por vários dias. Logo encontrou: um urso, um grande urso marrom, que ao vê-lo, ao invés de correr, acuou o caçador.
Ele, sem saída e vendo que sua lança para nada serviria, andou para trás sem olhar e acabou caindo no grande rio.
Ele nunca havia aprendido a nadar e em sua cabeça, naquele momento de desespero — em que a água lhe puxava para baixo —, só lhe vinha o rosto delicado dela e o sorriso do filho. Não podia partir, tinha que voltar para eles.
Começou a bater os braços e as pernas de forma desengonçada, sabendo porém, que precisava manter-se calmo, para não afundar. O rio, vendo que Ele resistia bravamente, desistiu de levá-lo em suas corredeiras.
Cansado e machucado, Ele saiu do rio e foi correndo em direção a sua caverna. Mas, no meio do caminho, colheu peras e flores do campo.
No lar, Ele foi recebido com carinho. Entregou a Ela, as peras e as flores, sem nada comentar sobre seu dia. Ela olhou para Ele e percebeu, calada, que o dia havia sido difícil; Enfeitou então, a caverna com as flores, serviu as peras aos seus homens e os colocou em seu colo.
Amanhã seria um novo dia.
Marcelo Bello de Oliveira
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