Ela... quem é Ela?

Olha bem, traga a lupa, chegue mais perto e repare detidamente em minhas pétalas. Elas aparentam ser iguais, mas tal ideia é ilusão de ótica. Nada, mas nada é igual, e em tudo encontrarás diferenças. E embora peques pelo excesso de conhecimento e saber, humildemente digo que são as diferenças que torna o feio, belo; a tristeza em alegria; o preto em branco; a dor em paciência; a fome em abundância; as lágrimas em sorriso; porém, os raios de sol que te aquece agora, exatamente nesse instante, não são os mesmos de ontem nesse mesmo horário. E embora necessite de sua luz, só, vaga o brilho da lua no céu, sempre vaga e nada, vazia. Uma hora ou outra, será cheia. Abri a boca para dizer que nem a pigmentação de minhas cores são iguais, mas esses exemplos são suficientes e bastam. Os calendários alteram tudo e tornam diferentes os supostamente iguais, em segundos. Piscou, a roda gigante do tempo mudou de lugar.

Então, peço encarecidamente que atente-se aos acontecimentos ao seu redor e desnude sua mente de opiniões formadas; porque em certos casos, as sementes não retornam aos jardins, os quais originaram as flores. Ventos, pássaros, semeadores e polinizadores voam livremente aos quatro cantos do mundo.

Foi um prazer e se não nos vermos mais, feliz colheita... e melhor ainda, semeadura. Sordidamente, envelheci e minhas sementes foram acometidas pelo climatério, consequentemente o gineceu carunchou; portanto, não prestam mais para a renovação de minha espécie. O máximo que faço enquanto não dobro definitivamente sobre o talo, é uma vez por ano sair para divulgar as boas novas nos campos.

Flores são sensíveis. Frágeis e necessitam de cuidado, de mãos carinhosas e macias para tocá-las, tanto quanto as penas que desprendem-se do pássaro e desce balouçando; e por não saberem em qual pedaço de terra vão cair, pedem socorro desesperadamente. Portanto, faça isso por elas, trate-as bem, com generosidade; e elas hão de recompensar-lhe com o mais puro néctar olorado da florescência que se inicia.

Tenho que ir, devem estar me esperando para o jantar; está tarde, o que me dará direito de pedir um leito para ressonar... amanhã tudo igual novamente; ou melhor, aparentemente igual; pois ainda que os dias iluminados e as noites escuras aparentem ser iguais, assim como as aparências, estarei um dia mais velha. Como a brisa, como as águas, como a locomotiva arrastando uma infinidade de vagões, as flores também passam; não menos, ela... sempre ela que vem e vai como Dom Quixote, cavaleiro andante, quem é ela? Certamente não é um bouquet de flores de mesma cor...

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 28/09/2017
Reeditado em 28/09/2017
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