"Morena, Linda, Sensual, de Olhos Verdes" = Romance = Capítulo 46

Alguns dias depois Eliane sabia tudo a respeito da vida pregressa do delegado, doutor Antônio Carlos F. Almeida. Fruto da união de duas famílias ricas, de sólidas e antigas fortunas feitas desde a época em que o café fazia as primeiras grandes fortunas em Santos, era policial pelo prazer de exercer a profissão e a autoridade. Mulherengo, boêmio, destemido no cumprimento do dever, só nos últimos anos acalmara seus ímpetos devido à fraqueza do coração. Era obrigado a levar uma vida mais calma, mais rotineira, abstendo-se do que mais lhe dava prazer, se quisesse viver ainda por alguns anos. A primeira providência que tomara fora o desquite. Os dois filhos eram maiores de idade, formados, encaminhados e nada mais lhe pesavam financeiramente. À esposa pagaria a pensão alimentícia pelo resto da vida, mas isso representava apenas uma parcela de seu salário, que bem pouco lhe pesava ou importava.
- Eliane, minha paixão, você nem imagina o que tenho, do quanto disponho para viver como um rei até meu último dia. Antes de conhecê-la estava até disposto a continuar trabalhando, mas agora quero mesmo é requerer aposentadoria por motivo de doença e sumir com você pelo mundo. E por um bocado de tempo. Quero te levar pra conhecer tudo que eu conheci sem dia e hora pra voltar. Há alguma coisa que a impeça de ir comigo conhecer o mundo?
- Nada, meu delegadinho lindo. Nada mesmo. Não tenho nada que me prenda aqui. Desde que nos conhecemos que venho me desligando de vez de tudo que pudesse prender-me aqui. Digo financeiramente, porque sentimentalmente eu estava absolutamente livre quando nos conhecemos. Graças a Deus, já que não gosto de magoar ninguém e teria terminado meu relacionamento com qualquer pessoa assim que bati os olhos em você. ( Romero que me perdoe essa mentira, mas ela está sendo dita por ele, por causa dele.)
- Você sabe, minha querida, que em minha profissão a gente desenvolve uma espécie de sexto sentido, uma capacidade cada vez maior de conhecer as pessoas e chega a um ponto que basta uma olhada rápida pra gente poder diápida pra gente poder dizer: esse presta, esse não presta. E assim que bati os olhos em você, no exato momento em que a vi pela primeira, fiquei encantado. Vi logo que você é, sem dúvida nenhuma, a mulher de minha vida.
- E o que mais você viu em mim, Toninho?
- Sua bondade, seu altruísmo, sua generosidade. Coisas que a gente, depois que desenvolve a capacidade que lhe disse, percebe logo de cara. Posso apostar tudo que tenho que você é simplesmente boníssima. Tipo anjo sem asas com um coração imenso, repleto de bondade.
- Exagero seu, amor. Tenho defeitos como todo mundo, tenho minhas implicâncias, minhas chatices, meus crimezinhos...
- Crimezinhos? Essa é boa, muito boa!! Conte-me alguns de seus crimezinhos para que eu possa prendê-la, para que eu possa levá-la algemada para a cama e fazê-la cumprir uma longa pena deitada.
- Outro dia mesmo eu recebi troco a mais na padaria e não tive disposição ainda de ir lá devolver. Estou com isso pesando na consciência até agora, meu querido.
Toninho, o doutor Antônio Carlos, o severo delegado de polícia, derreteu-se de vez. Abraçou-a com força, encheu-a de beijos no rosto e na boca e depois levou-a carinhosamente para a cama, em seus braços.
- Vamos lá, minha famigerada criminosa preferida, vamos lá que eu vou te dar um belo castigo.
Eliane fazia com que ele fosse devagar e sempre no ato sexual, não o deixava esforçar-se muito, não deixava que acabassem praticando trepadas mais agitadas e violentas. Nada, enfim, que pusesse em risco sua pouca saúde de cardíaco. Ainda era cedo para qualquer coisa nesse sentido.

- Toninho, eu sei que você vai rir de mim, mas quero te contar uma coisa.
- Prometo que não rio. Pode contar-me o que quiser, meu amor.
- Sabe que nunca vi um dólar de perto?
Depois de uma boa risada, o delegado abraçou-a e pediu desculpas pela quebra da promessa:
- Venha aqui, minha gatinha linda, não precisa ficar encabuladinha desse jeito lindo. Venha aqui comigo que quero lhe mostrar pilhas e pilhas de dólares. Lindas pilhas de dólares.
Pegando-a pela mão, atravessou a sala com ela, afastou um quadro grande para um lado, que deslizou suavemente, e ela viu então a porta de metal de um cofre de quase um metro por um metro embutido na parede.
- Toninho, que cofrão imenso para um apartamento!!
- De acordo com as necessidades, minha querida. Aqui dentro tem boa parte de minha vida financeira. Nos bancos eu deixo quase nada, mas aqui tem boa porcentagem do que meus pais me deixaram, muito do que acumulei com meus negócios e nada do que ganhei como delegado. O salário e tudo mais eu gasto, mas meus investimentos partem daqui. Partem daqui e geralmente voltam bem engordados.
- E você não tem medo de ter um cofre desse tamanho em casa?
- Ninguém sabe que o tenho. Isso é, agora você sabe, mas é pessoa de minha total confiança. Você nem pode imaginar o trabalho que foi colocá-lo aqui em absoluto segredo. Os homens que o carregaram e afixaram à parede foram trazidos para cá durante a madrugada, abriram o buraco na parede durante a construção do edifício, fizeram o acabamento da sala sem poder olhar um segundo para fora e depois foram levados de volta com os olhos vendados e de camburão. Não tiveram a mínima idéia de onde e para quem trabalharam.
- E você tem absoluta certeza disso? De que eles não sabem onde e para quem trabalharam?
Antônio Carlos riu gostosamente antes de responder:
- Minha paixão, mesmo que eles soubessem de alguma coisa, garanto que não poderiam dizer a ninguém, mesmo que quisessem. Eram seis criminosos frios, da pior espécie de gente possível e foram incentivados a realizar o serviço em troca da possibilidade de caírem fora da cadeia.
- Você mandou cortar as línguas deles?
- Alguns amigos cuidaram deles pra mim depois do serviço feito. Não tive nada a ver com o que houve com eles. Para falar a verdade, nem soube o que foi feito deles, te juro mesmo.
Eliane abraçou-o carinhosamente por um bom tempo:
- Meu querido, se há coisa que admiro em um homem é a capacidade de defender-se, de prever as coisas e de cuidar-se. Detesto ver um ser humano sendo judiado, mas não considero criminosos como seres humanos. São apenas rebotalhos da humanidade e como tal devem ser tratados. Você não acha?
- Claro que acho. E por isso nunca, jamais, em tempo algum, dei moleza pra bandido. Bem, vamos ver os dólares.
O delegado mexeu no segredo do cofre em alta velocidade e em alta velocidade Eliane foi gravando os poucos números e voltas que ele dava ao mecanismo. Mais uma ou duas vezes que ele voltasse a lidar com o segredo e ela o decoraria para sempre.
Quando ele abriu a porta os olhos de Eliane arregalaram-se de legítimo espanto:
- Meu Deus do céu, Toninho!! Você é bilionário, amor!!
- Que nada, querida. Que nada. Quando muito posso dizer que sou um milionário disfarçado e, como não quero deixar nada pra ninguém, esse é o capital que temos para correr o mundo, jogar dinheiro por aí em troca de muitos prazeres e deixar só um tanto para garantir a velhice. O que você acha?
- Acho que será simplesmente maravilhoso viver ao seu lado, passeando, gastando, vivendo, curtinho a vida e fazendo muito, muito, muito, muito amor sempre. Mas sempre cuidando do coraçãozinho do meu amor.
- Bem, vamos fechar esse cofre e planejar nossas voltas pelo mundo.
- Vamos. Por onde você gostaria de começar a viagem?

Nas duas semanas seguintes o delegado teve que abrir mais duas vezes seu enorme cofre caseiro e nas duas ocasiões Eliane prestou atenção com a fisionomia de quem não estava nem aí, aérea e distraída da vida. Estava gravada definitivamente em seu cérebro a combinação para abri-lo quando quisesse.

Um dia ela viu o quadro afastado da parede e a porta do cofre apenas encostada. Fechou-a e colocou o quadro no lugar com um ligeiro empurrão.
- Meu bem, acho que você está muito distraído. Saiu e deixou a porta do cofre só encostada, e o pior, sem o quadro escondendo-o.
Ele apenas sorriu e beijou-a. Ela passara por seu teste. Se tivesse tentado sair dali levando alguma coisa do cofre seria detida de imediato.
- Porque esse sorriso e esse beijo, amor?- Eliane fez-se de desentendida.
- Por nada, querida, por nada.
A partir daquele dia Eliane, vagarosamente, discretamente, começou a acelerar seus movimentos na cama. Fazia amor cada noite com mais vontade e vigor e Antônio Carlos fazia tudo para acompanhá-la. No dia seguinte era visível seu cansaço, mas não dava o braço a torcer.
- Meu querido, minha amiga Marianne me contou, faz tempo já, que o marido dela era fogo na cama, não dava sossego a ela e já estava com mais de sessenta anos. Ela custou a descobrir o segredo dele.
- E qual era esse segredo? Ela contou?
- Claro que contou. Ela que experimentasse me deixar curiosa...
- E qual era?
- Pó de guaraná. Ele tomava duas colheres de pó de guaraná com o suco de laranja e ela diz que o negócio dele ficava duro feito ferro.
- E será que eu posso? Você sabe que eu tenho um probleminha no coração.
- Acho melhor não arriscar, não é mesmo? Deve haver outro modo de conseguirmos dar duas ou três em uma só noite sem usar esse tipo de coisa.
A partir daquela conversa Antônio Carlos começou a experimentar, discretamente, meio medrosamente ainda, o pó de guaraná e a sentir uma melhora em seu desempenho sexual. Melhoria que Eliane aplaudia calorosamente.
- Meu galo!! Meu tarado delicioso! Você me fez subir ao céu nessa última trepada maravilhosa! Meu macho inesquecível! Você conseguiu! Você me ensinou o que é orgasmo, querida. Você me ensinou, amor de minha vida!
E o delegado aumentou gradativamente a dose de pó de guaraná e Eliane aumentou em muito os elogios pós coito.
Até que o coração dele parou de vez em um simples e corriqueiro papai-e-mamãe.
- Ô Toninho, você morrer, tudo bem, mas precisava ser em cima de mim, querido? Que peso...Será que terei que chamar alguém pra tirar você daí, amor?

= Continua amanhã.


Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 18/08/2007
Reeditado em 18/08/2007
Código do texto: T613324
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