O BÊBADO e A MENINA

Cornélius bebia, e bebia todas, da pura à misturada, da nova ou da velha, não tinha nenhuma objeção. E nem ocasião. Bebia para esquecer os problemas pessoais, mas, se estava triste, bebia para se alegrar e se estava alegre, também bebia... só que para comemorar. Não importava o clima: se estava frio, bebia para esquentar o corpo; se estava quente, bebia para refrescar-se! Bebia para comemorar a vitória de seu time de futebol, o Palmeiras, as também bebia na derrota do mesmo para esquecer os fracassos do alviverde em campo. E por isso, como bebia.

Mas bebia também para esquecer um grande amor de sua vida que não deu certo. Entretanto, seus amigos se perguntavam se não deu certo porque ele bebia ou se ele bebia porque não deu certo o seu relacionamento!

Sua irmã, recém-separada, voltou da capital com uma filha de três anos. Morava sozinha e Cornélius tomava conta da criança enquanto ela trabalhava no setor de limpeza em uma firma terceirizada pelo banco da cidade. Só vinha em casa para almoçar e voltava para o serviço, regressando no final da tarde.

Com os pais doentes e os outros membros da família ocupados em diversas funções, Cornélius, o bebum, era a sua única opção visto que não possuía recursos suficientes para pagar uma babá.

Mesmo confiando no irmão, ela era sempre era alertada pelos parentes e amigos:

“Onde já se viu deixar um pinguço tomando conta de uma criança? De uma menina, ainda!”

“Cuidado! Um dia pode acontecer uma tragédia!”

E aconteceu.

Naquele dia de outubro, ainda claro pelo horário de verão, quando se aproximou da sua casinha, encontrou a horda da vizinhança junto ao seu portão, toda alarmada, com o dedo em riste, falando aos gritos: “Eu não te disse, não te disse!”

Vinha da janela da casa o grito de uma criança assustada. Em algumas ocasiões se podia ouvir algumas frases, em desespero:

“Não, tio! Não faça isso! Não, tio! Por favor!”

De repente, um grito alucinante e o choro da criança.

Então, a porta que dava para a rua se abre e cambaleando, Cornélius aparece ao batente da porta, com as roupas rasgadas, mostrando o seu dorso seminu e trazendo na mão direita uma faca de cozinha, ainda pingando sangue!

A plateia que estava na calçada pulou a cerquinha de madeira e a socos, pontapés e pauladas, estas de ripas retiradas da própria cerca, puseram o malfeitor ao chão, morto!

Só então a mãe invade o quartinho de onde vinha um choro da criança! Aos pés do berço da filha nua, um corpo estendido. Ela conhecia aquele homem. Era o seu ex-marido! Saíra da penitenciária recentemente de onde estivera preso pelo crime de estupro e agressão e voltara para cumprir as ameaças proferidas nas brigas de marido e mulher, quando ela anunciou a separação e a eventual vianda para o interior:

“Vou te encontrar, sua biscate! E vou matar você e sua filha!”

Jonas De Antino
Enviado por Jonas De Antino em 23/10/2017
Código do texto: T6150663
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