Sob o Calor de Outubro.

Em 1979, quando completei dez anos de idade, o Internacional foi campeão brasileiro de futebol e nosso presidente era o Figueiredo, aquele que gostava de transar com cavalos. Os dias eram laranjados e eu ainda conseguia respirar sem fumaça.

Dos quinze em diante, quando vi que aquilo tudo era palhaçada, comecei a ouvir músicas, ler livros e jornais. Assisti muito filme e bati muita punheta na sexta sexy da Bandeirantes. As pornochanchadas da Manchete eram chatas. Mulheres feias e sempre o Paulo César Peréio ou o Reginaldo Farias entre elas. Broxante para um adolescente punheteiro.

Veio a Constituição de 1988, o Caçador de Marajás, a grande farsa, a grande depressão, a Copa de 94 e um calor dos infernos. O dinheiro para beber sempre escasso. Naquele tempo as pessoas lançavam foguetes nos outros e bebiam vodka como se fosse água sem gás. Era um tempo em que se a Seleção de futebol não ganhasse uma Copa do Mundo depois de 24 anos o bicho iria pegar e a fábrica de chocolates Nestlé falir devido à propaganda do Prestígio.

Tempos temerosos. Havia a guerra quente entre o Bush pai e o Ocidente. O Irá e o Iraque e seus horrores, os bálcãs e aquele desejo de ser jovem e enfrentar aventuras. Coisa de adolescente besta.

Com o derrocar dos anos 2000 quase tudo mudou. As punhetas deram lugar a algumas fodas em motéis baratos do centro velho, o dinheiro para a cerveja era mais extenso e a depuração pelo velho e bom rock também teve seus momentos.

E hoje estou aqui, depois de passar por lulismo, meningite, encefalite, febre tifoide, gastrite, atropelamento, ressaca, assalto, facada, casamento, golpe de estado, cusparada, soco no olho e chute no rabo.

Estou aqui entre vós!

Mas, do que estávamos falando mesmo?

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 06/11/2017
Reeditado em 06/11/2017
Código do texto: T6164107
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