Mini-conto - O bilhete

"Vai te catar", era a única frase do bilhete que conseguiu ler e se lembrar. "Te catar" martelava dentro de si como a um relógio ditando a hora sem parar. Sem parar, passava o pente nos cabelos enquanto olhava o céu estrelado e o infinito escuro como o esmalte da mão, ruído. "Te catar", a última vez que leu, abriu um largo sorriso nos labios, pegou a tesoura, contou os longos cabelos, saiu de casa e entrou no primeiro bar da rua de trás, pediu um gim martine duplo e bebeu de uma vez só. Sozinha, sentou-se na mesa do jogo e catou a própria sorte no baralho. Era uma dama, perdeu o rei, mas encontrou um valente que lhe aqueceu as carnes.