A MALDITA TRANSFORMA O HOMEM EM MALDITO

A MALDITA TRANSFORMA O HOMEM EM MALDITO

Marília L. Paixão

Dirceu estava a ponto de olhar para o relógio pela última vez. E aquela seria mesmo a última. Tinha tanta certeza disso que resolveu não olhar. Afinal, se olhasse teria que ir e sua tolerância de macho já tinha esgotado. Agora seu nome, sua honra, seus inteiros valores estavam ameaçados. Não poderia olhar as horas pela última vez e continuar ali plantado como uma plantinha medíocre sem vida implorando por água sem ninguém lhe dar a mínima. Resolveu por bem olhar para o poste e imaginar quantos metros ele teria. Deixou o olhar se estender por ele e ficou a procurar passarinhos no fio. Não havia nenhum! Já não estava se permitindo aumentar o ritmo da raiva, pois poderia ter um troço! O jeito seria esquecer aquela maldita e ir embora macho da vida. Pensou em fumar um cigarro. Isso! Que ótimo seria! Mas não podia! Nem isso podia! Tinha duas semanas que prometera não mais fumar para agradar a maldita! Se ela chegasse e o encontrasse fumando colocaria tudo a perder! E estava tudo indo tão bem... Havia até lhe comprado aquele anel. Estava todo alegre com a surpresa que lhe faria. Sua irmã havia lhe dito: - Toda mulher amaria ganhar um anel como este. Claro que ela iria gostar!!! Sem hesitação nenhuma Dirceu gastou metade das suas fuças naquele anel. Mas ele era um cara trabalhador e ela merecia. Merecia??? A maldita que queria encontrá-lo morto ali a esperar por ela. Morto de raiva. Morto de tédio. Morto de sonhos. Morto de chifres. Morto de pensamentos homicidas e talvez até preso antes de cometê-los. Meu Deus! Dirceu começou a querer rezar de tanto que estava se sentindo um pecador. Chame Deus, alguém para me denunciar e podem me levar preso antes que eu mate mesmo a maldita! Prevenir é melhor que remediar! E depois que eu recuperar meu bom senso podem me soltar que eu mesmo com minhas próprias mãos pularei de uma ponte feita para os desesperados mais calmos. Pois agora, com certeza eu a mataria antes. E se ela me aparecesse com aquele... Seriam dois crimes! Bom Deus me ilumine! Tire todo este mal de dentro de mim. Devolva em mim só aquele idiota, paspalho que se apaixonou por ela. Que depois da dor da enorme perda chorará simplesmente como todo homem bom, chora. Não permita que a maldita me transforme em um maldito daqueles que ninguém adora.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 21/08/2007
Código do texto: T617978
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