Batata Ouro

Um fazendeiro de largas terras sonhava com a riqueza. Da varanda de sua casa grande media a vastidão de suas posses tomado por uma possessão quase febril, de que naquele oceano de terra, em algum lugar, esperava por ser descoberto e brilhar, o amarelo do ouro.

Os dias, meses e anos se sucediam e o homem, um tanto alquebrado pela fatigável luta continuava a cavar aqui...ali...acolá, sem resultado algum. Ás vezes, desanimado com a inútil batalha ocorria-lhe a idéia de largar tudo, abandonar a terra ingrata e partir em busca de lavras por outros lugares .Certa feita, alimentando a mirrada criação de porcos com umas velhas batatas que havia ganhado na cidade, reparou que algumas apresentavam pequenos brotos. Cuidou então em separá-las e logo que pode, deitou-as no macio ventre da terra.

A idéia de encontrar um filão de ouro, acendia-lhe um clarão repentino que ofuscava tudo à sua volta. Imaginava, agora em seus quase delírios, a fazenda pungente, o casarão restabelecido, todas as dividas pagas e enfim a redenção, a justa paga, materializada em grandes pepitas amarelas. Ficava assim, ardendo até altas horas, e ia vagarosamente arrefecendo até ser abraçado pela realidade, a dura realidade, que sem rodeios terminava por lhe mostrar que tudo estava desmoronando à sua volta.

Um dia, pela manhã, quando caminhava como que alheio de si pelos arredores, notou umas ramas verdes que se esparramavam. Eram de um verde escuro forte, brilhante, vigoroso, como se nelas houvesse uma atividade intensa, alimentado fartamente pela terra. Num átimo, lembrou-se das batatas, e deixou-se tomar por um encantamento quase juvenil. Ficou ali, por um bom tempo, observando, pasmo de ver tão grande progresso em tão pouco tempo. Voltou para casa e continuou embevecido pelo que acabara de ver. No outro dia, acordou mais cedo do que de costume e sem demora tomou o rumo da cidade. Procurou, quase que ferozmente, por trabalhadores com experiência no campo e especialmente com conhecimento no cultivo de batatas. Conseguiu com muito esforço, depois de muitas tentativas, três sujeitos, que mesmo desconfiados aceitaram a tarefa, mas deixando bem claro, logo após o serviço receberiam como pagamento sua minguada criação de porcos. O homem estava tão exultante com a idéia de plantar batatas, que não se importou com exigências. Assumiu obstinadamente o comando do trabalho e a ordenação das coisas de uma tal forma, que surpreendia aos antigos conhecidos. Agora, a rede da varanda, velha amiga de antigas divagações, ficara como esquecida, e só às vezes, no começo da noite vinha ele, deitar e olhar as estrelas, cheio de planos e sonhos, que não demoravam muito a serem tragados por um sono profundo. Sono de trabalhador.

O trabalho do plantio, não demorava muito e se transformava em resultados surpreendentes, o que começou a motivar um pequeno movimento de pessoas em busca de comprar o produto da colheita ou de emprego. O resultado do negócio tornava-se palpável, e cristalizava-se de uma tal forma, que mais homens foram empregados e as batatas floresciam ávidas, num abraço fraternal à boa terra.

Tempos depois, numa manhã de abril, Osório, agricultor ou fazendeiro de batatas, deitava seu olhar sobre a imensa plantação...sua manada de pequenas reses engordando sob o manto da terra. Refletindo, pensou, e num quase murmúrio, falou para si mesmo...

- Meu ouro verde!