O Dia da Censura

- Todos tem que procurar uma fonte boa de renda. Todos querem ser algo na vida. E só será quem estudar. Até porque em nossa família a mais baixa é a Chiquinha, que encasquetou querer ser professora. Essa é uma retorica dos meus avôs. Bem como dentro dos padrões sociais todos devem buscar ser um médico, Advogado, Engenheiro e etc. Assim falava dona Vitória a sua filha, enquanto conversavam sobre o que Catariana queria ser.

Conflito normal de quem está saindo da adolescência, ou seja, situação natural de quem está indo cursar uma Universidade e quase sempre nas aulas do ensino médio é muito procurado e pesquisado sobre o que fazer. E nesse modismo, do padrão social, todos se veem cobrados, como se os mundos – da família- da escola e da sociedade estivessem te esgoelando para definires, qual carreira seguir e posteriormente como serás olhada.

Assim, na família Ferreira, não poderia ser diferente. Seguindo com dona Vitoria, ela conversava com a sua filha sobre a neta, quanto ao que ser na carreira, ter uma posição social e muito dinheiro quando o seu netinho Paulo Neto se expressou:

- Vovó, quando eu crescer quero ser lixeiro.

Eles de uma família de classe média alta, conversavam na mais alta patente dos cursos em escolha para a neta, afinal eram família tradicional. Foram pegas de súbito, mãe e filha com aquela declaração infantil.

E dona Vitoria se antecipou falando brincando ao menino:

- meu filho não diga isso nem de brincadeira, pois o que falamos de coração atrai. E você além do tesouro da vovó e da mamãe, e tem que ser o rei, tem que ter muito dinheiro, posição, ter seu carro e não ser um qualquer. Você tem que ser um médico ou um advogado. Mentalize desse jeito. Concordou a mãe do garotinho:

- É meu filho siga o conselho da vovó. Nunca mais diga isso.

Dias se passaram e num domingo, onde toda a família estava em lazer degustando um bom churrasco. Veio à tona a conversa sobre o que fazer na faculdade e muitos tios e avós teceram comentários sobre as boas e más profissões e o menino causou um frisson, quando no microfone de cantoria ele a fim de participar da conversa falou o pecado mortal.

- Vó eu quero ser lixeiro.

Sob olhares de cóleras, preocupações e já por final de brincadeira, muitos riram e não levaram a sério. Afinal era uma criança, que estava declarando um posicionamento, que daquele momento até o futuro era uma impossibilidade, até porque o pai do garoto era um empresário forte e a mãe dona de uma franquia no shopping, portanto a grana corria solta. Mesmo assim, o tio Beto foi conversar com o garoto e junto com ele foram várias pessoas acompanhando, quando ele disse ao baixinho:

- meu netinho querido, você não pode ser lixeiro. E o menino quis saber o porquê.

Quando o velho lobo falou:

- É que lixeiro é só quem não tem estudo e você, pelo que me contou a sua avó, já sabe ler.

Momentaneamente demovido do seu imaginário infantil, o menino ingênuo, com expressões angelicais, olhou em cada um dos nove rostos adulto, autoritários e aristocráticos, bem como senhores de um padrão social, de mulheres e homens, disse simplesinho:

- Tá bom vô. Não serei mais lixeiro, mas vou ser o motorista.

O velho lobo interrogou. O que?

- É vô, vou ser o motorista.

- Motorista de onde? Quis saber a sua avó. E ele tão inocente, desprovido da ambição e cobiça, que corrompe a alma do mundo, prontamente respondeu:

- Ora do carro do lixo!

E todos, por mais preocupados que tivessem, naquele instante desabaram em risos. Pois sabiam que a ditadura dos que vivem a bailar nessa seara iriam intervir, para fazer aquele menino ser como os normais. No entanto, Dona Graça, amiga de dona Vitoria, falou ao ouvido da sua amiga : Minha querida, vale dizer, que não vem dos bens e riquezas materiais o nosso bem estar e sim de uma vida simples, onde se promove o amor entre as pessoas.Dona Vitoria pegou uma taça de Champagne e desfilando pelo salão, com seu vestido verde musgo, no

simbólico valor de hum mil reais, citado por ela a amiga, simplesmente, ignorou o recado e a vida seguio esperando o que cada um deve dar como entendimento, para o seu bom viver, enquanto estiver aqui nesse planeta.