ainda tinha vida pra viver

Moravam juntos, mas cansado da relação, Juarez disse a s Jurema: “Seremos apenas amigos. Porque quero outras coisas”. Ela, coitada, assustada, não se conformava.

E ainda emendou com decisão: “É isso ou cada um pro seu lado.” No primeiro dia depois do acordo, ele não voltou pra casa. Ela, desesperada, desabafava com a irmã: “Só pode ser outra... só pode, homem não larga tudo assim sem ter nada garantido...homem é tudo covarde! “E as noites foram passando, quando vinha pra casa, Juarez deitava no sofá e ali mesmo apagava, no outro dia ela fazia aquele café gostoso, caprichado, como se nada tivesse mudado. Continuava a lavar suas roupas, e cuidar da casa, como se ainda existisse aquele amor de antigamente.

Ele impassível, decidido, contente. Falava do trabalho, de suas histórias e ela ria sem ter vontade. Ele estava bem e isso Acabava com ela, deixava a pobre mais apavorada ainda. “Dez anos juntos e ele acaba e não sente nada, não sofre,

nada. Que espécie de gente é essa que não tem sentimento? Nem parece gente. Acho que nunca gostou de mim, é disso que se trata”

A irmã lhe dava colo, lhe ouvia, tentava animar, contava que homem é assim mesmo, igual passarinho, pousa, mas logo voa, e ela não reagia, “sem essa pra cima de mim”, gritava sufocando o som com as mãos. A mulher emagrecera, ficara triste e desengonçada. E Juarez cada vez mais forte, cada vez mais livre. Saindo bem Arrumado, comprou roupas novas, perfume caro, o sapato de couro que brilhava de novo, até os gestos estavam diferente, conforme ele se afastada dela, ela o percebia mais e mais bonito.

“Não precisa cuidar de minhas roupas, não tem obrigação”. Dizia Isso e ela não aceitava, pois cuidar dele ainda era um jeito de ter esperança. Passou meses, e nada do homem voltar a ser o que era. “Ele era frio comigo, mas era o jeito dele, eu reclamava, Agora nem isso, ele está bem e é isso que importa, não é?

Querendo se acalmar inventava aceitação. Tudo mentira, estava louca de paixão, lembrava das noites de antigamente, a vontade era morde-lo, possuí-lo. Mas a única coisa que podia era chorar, olhos inchados, doloridos, o coração despedaçado. “o que faço sem ele?”

A irmã que já estava cansada, um dia estourou: “Chega, Jurema! Não quero ouvir sua lamentação, vai pra vida, arruma um homem, chega, não aguento mais!...Enquanto isso continuar não venho mais na sua casa.”

Jurema se deu conta da sua situação. Estava sozinha e muito carente, e na sua cabeça isso não era justo, sempre foi uma dona de casa, uma amante, sempre cuidou dele, não era justo o que ela estava passando. Então, reagiu.

Naquela noite se arrumou toda, foi no guarda-roupa e pegou uma saia curta que desde moça não usava, uma blusa colada, um calor forte a sufocou quando se sentiu naquela roupa, se olhou no espelho, e deu uma gargalhada, pareço

Uma louca, se criticou, nessa idade vestindo assim...Mas bem Que ainda tenho pernas bonitas, meus olhos ainda brilham. Se alegrou, depois levantou a blusa, o seios pequenos, bonitos e bicos duros que faziam um degrade circular, a barriga batida...se enxergou como fazia muitos anos, o coração bateu, algo a preenchia de vida. Se deu conta dela mesma, acordou, suspirando, virou de costas e levantou a saia até aparecer a popa da bunda...arrebitou como se alguém pedisse, se excitou com o próprio corpo. “Aquele filho da puta me paga”.

Abriu a porta assustada. Meu Deus! Sou uma mulher casada, Que vergonha! Desceu a rua Jacarandá em direção a Praça da Feira. Vou na gafieira, vou na gafieira, repetindo pra dar coragem. Vou na gafieira de Seu Antônio. Vou sim, se não vou. Vou mesmo acha! Vou ficar morrendo enquanto aquele desgraçado some?

Viu uma mesa logo na entrada, nem viu se tinha muita gente. Parecia que a terra tinha se fechado, tudo escuro...Sentou...E logo o garçom veio: O senhor tem batida de limão? Tomou com gelo, numa golada, levantou a cabeça e nunca tinha

Visto tanto homem na vida, ficou assustada, mas estava viva, e sentia um turbilhão de sensações acordadas no corpo. Quis ir embora, voltar pra casa, lá se sentia segura. Mas não, trato é trato, não vou me decepcionar...Entre uma dose e outra, o coragem apareceu, o medo escafedeu, nem se reconhecia, foi dançar, dançou com um e com outro, com um moreno alto, depois um homem gordo, dançou com

um rapaz que parecia uma menina de bonito. Dançou com outro que cheirava a veneno que lhe esfregava com a fome de um perdido. Na frente primeiro, na parte clara, depois foi para os fundos onde acontecem os arrochos. Não se importou, foi arrochada, gostou demais, sentia uma adolescente e fumou um cigarro...Beijou na boca de um rapaz novo, poderia ser seu filho e isso a deixou mais vaidosa, sentiu o membro do menino crescendo entre suas coxas, beijo de língua...extravagante, ficou molhada de vontade, a calcinha ensopada...de madrugada, ria quando entrava na rua de sua casa.

Chegando em casa, uns vizinho a olhava. Não se sentiu envergonhada ou culpada, se sentia viva. Louca pra chegar em casa e olhar a calcinha como estava. Na porta, o marido esperando, desesperado, derrubado de sua segurança. Ela entrou, foi direto pro banheiro, tirou a calcinha, ainda úmida, pensou na dança e viu que ainda tinha vida pra viver,