Um presente inesperado

Dezembro, fim do ano, férias, todo esse clima natalino acaba se tornando um clichê infindável, ganhar os mesmos presentes, ouvir as mesmas piadas ano após ano, rever as mesmas pessoas... é enfadonho, as vezes, eu sei.

Só que esse ano, parece que o bom velhinho resolveu me dar um help e tornar meu natal menos... digamos, a mesmice de todos os anos.

É, EU definitivamente depois de meses na fossa, ouvindo Marília Mendonça, Pablo, Henrique e Juliano (diga-se de passagem, coloquei até você voltar em modo repeat e acho que na retrospectiva do spotify com certeza ela listará dentre as mais ouvidas)...consegui me reerguer mas, porque raios eu estaria na fossa?

Simplesmente porque terminei um namoro que eu achei que daria certo, porque o cara era um amorzinho, um fofo, no início da relação, mas foi virando um imbecil, ciumento, machista, e... não vale a pena mais usar meu vocabulário de baixo calão com aquele estrupício... a realidade é que, apesar do ogro (muito pior que o Shrek) que ele se tornou, eu gostava daquela peste. Gostava até demais. E foi isso que me fez ir até as profundezas da terra e ficar lá ouvindo as minhas músicas que me afundavam mais e mais.

Eu e minha mania de mudar de assunto do nada, mas como eu estava falando, ou melhor, escrevendo, o papai Noel resolveu colocar um boy magia no meu caminho. E que boy magia! Acabei o conhecendo na faculdade mesmo, quando um dia, eu...

Flashback on:

- Eu não consigo acreditar que você não vai com a gente, macaca albina – minha melhor amiga, como ela assim se autodenomina, Renata, me falava enquanto andávamos pelo campus da universidade, depois de uma apresentação tensa de trabalho, já que eu paguei um mico do tamanho da minha testa ( e olha que não é pequena hein?) – O mico em questão, é que na hora de apresentar os slides, comecei a ter uma crise de risos, assim, do nada, ficando nos mais variados tons das cores do arco Iris. A muito custo consegui me recompor e graças aos céus, nem eu, nem minha equipe fomos penalizados

- Eu não posso, Rê, eu já confirmei a minha mãe que eu iria ajudar na recepção dos vizinhos novos, não sei pra que tudo isso, mas você sabe como dona Angélica é, não sabe? – de fato, minha mãe sabia ser bastante exagerada quando o assunto era a chegada de pessoas novas na rua onde morávamos. Até porque era a casa que era da nossa família que havia sido comprada recentemente, já que quem morava lá, que era o meu irmão mais velho, tinha acabado de se mudar para outra cidade, para tristeza e desespero dos meus pais. Dessa vez, ela tinha combinado com a mulher que se mudaria, de que iríamos jantar na casa deles no próximo final de semana, o que chocaria com o acampamento que o pessoal da faculdade estava planejando fazer desde início do ano, o qual era o motivo da Renata estar me azucrinando desde que eu dissera que não poderia ir.

- é, eu sei disso, mas bem que ela podia te liberar, não é Mari? Ai que droga, quem eu vou encher o saco durante a viagem, chutar as canelas, ou ficar cutucando até que você berre e me implore para eu parar, hein?

Eu estava a ponto de responder que ainda havia tempo dela cancelar a ida, (já que essa viagem sem mim também era um risco pra mim, eu não queria perder a minha melhor amiga de jeito nenhum) quando do nada, eu tropecei em algo, que depois eu saberia se tratar de uma raiz exposta das árvores gigantes que existiam no campus e me estrubufuquei no chão, igual cacho de banana maduro.. só que segundos depois do impacto eu reparei que não estava exatamente no chão, o chão é algo duro, e eu estava sob pedaços de tecidos que cobriam músculos e... PUTA MERDA!EU CAÍ POR CIMA DE UM GAROTO, Que aliás, estava parecendo um touro bravo de tão irritado que estava...

- NÃO OLHA POR ONDE ANDA NÃO, GAROTA? – ele berrou, clichê demais, eu sei, mas foi o que ele disse enquanto eu me erguia puxando a minha dignidade que também tinha caído comigo no chão.. ou melhor, no corpo daquele cara, que, olhando direitinho,e tirando a carranca no rosto, ele era LINDO. Era não, é.

- Me desculpa, cara. E-Eu realmente n-não te vi, e nem vi essa peste dessa raiz maior que o meu braço, desculpa mesmo. – o fitei, ainda me recuperando da queda, e então percebi algumas risadinhas vindas de trás de mim. A retardada da minha amiga estava rindo, em vez de me dar uma ajuda. Voltei minha atenção para o homem ali à minha frente, ainda se limpando da areia, e então me recordei de oferecer alguma ajuda – Você ta bem? Se machucou? Quer que eu te leve para um hospital, olha eu faço tudinho para me redimir e..

- Ok, eu entendi, eu não me machuquei. Mas na próxima, vê se não tenta ser tão distraída e olha por onde anda – ele falou, pegou a mochila e foi embora. E eu fiquei como? Me sentindo uma criancinha que levara bronca do pai porque teve dor de barriga por comer doces demais.

- AI, essa doeu – Renata falou, ainda rindo da minha cara. Eu a fuzilei com meus olhos azuis e ela então ficou séria.

Depois desse pequeno incidente, que já está na minha lista de micos pagos de 2017, pude reparar que o rosto do estressadinho ainda estava gravado na minha mente. Ele era uma mistura de Zac Efron com o Jeremy Irvine. Forte, musculoso, e ah, aqueles olhos maravilhosos, lindo, ah... e foi aí que ele virou o meu crush.

Flashback off

Depois desse dia, eu ainda o vi pela faculdade, descobri por intermédio do Vinicius, o namorado da minha tampinha ( ok, é bullying com a minha melhor amiga, mas fazer o que, ela me chama de branquela e de macaca albina também, ué), que ele era novo na cidade, mas estava cursando direito desde o ano passado nessa faculdade, o que é intrigante, já que eu nunca o vi por lá antes. Fui informada também de que o nome do dito cujo que andava invadindo meus sonhos mais loucos era Bernardo, e agora de fato, estava fincando raízes definitivas na cidade, depois de idas e vindas, como meu informante favorito me contou.

Ah,as vantagens de ter o namorado da sua melhor amiga como cúmplice...

Mas o pior não foi isso, foi o fato de naquele fim de semana, que eu abdiquei de ir ao acampamento com a Renata, e ido jantar com a família que estava se mudando para a cidade, que o crush também seria meu vizinho. Os pais dele explicaram que a decisão de mudar para o local onde o filho mais novo deles estava estudando foi tomada em conjunto, já que para Bernardo ficava cansativo ir e voltar todos os dias. Depois de descobrir essa coincidência maluca, não prestei atenção em mais nada naquela conversa estranha dos meus pais com os dele.

Na verdade, naquela noite fiquei morrendo de tédio, principalmente porque descobri que o meu crush era um imbecil, insensível que me deixou plantada na sala observando aquela conversa tediosa enquanto ele foi fazer não-sei-o-quê no quarto dele.

MaS... Voltando ao que eu estava falando, papai Noel me mandou alguém para me fazer superar a fossa na qual eu havia ficado por meses. Sério, foi muito difícil para minhas amigas tentarem me tirar, porque eu não queria sair. Ainda que o dito cujo até agora não demonstrou interesse, pelo menos parei de cantar Ai que saudade do meu ex ou Até você voltar que já estava enchendo o saco dos tímpanos dos ouvidos dos meus pais e das minhas amigas.

- Marinaaa, pode parar com esse show de artes cênicas porque eu não to vendo nenhuma atriz aqui em ascensão para você ficar fazendo drama! – A Pri me falou, depois de eu ficar reclamando da solidão, ok, isso foi uma semana depois do término, então não me julguem.

Claro que as outras meninas com quem eu andava também me ajudaram muito a sair do buraco no qual eu tinha me enfiado depois que eu pusera um fim no meu relacionamento, mas confesso que agora estou bem, graças a elas.

Já superei, estou bem. Agora que eu tenho um belo de um crush para admirar, não vai ser um imbecil machista, idiota e egocêntrico que vai me levar para a fossa novamente.

Eu não sabia onde estava, mas com certeza conhecia esse lugar. Estava escuro, só iluminado pelos pisca-piscas que rondavam o coisinho da escada que eu esqueci o nome, e os da enorme e estonteante arvore de natal da sala. Tentei me lembrar onde é que eu estava, mas nada veio.

Quando me levantei do confortável sofá, eu o vi. No topo da escada, com aquele sorriso descarado dele me encarando. Abri a boca para falar algo, mas nada saía, exceto pela possível baba, já que eu o estava secando descaradamente.

Mas não era pra menos. O cara estava sem camisa, exibindo o que eu já suspeitava que ele tiinha: um corpo maravilhoso, forte na medida certa, não bombado, com aquele tanquinho que eu jamais reclamaria em lavar minhas roupas ali, e aquele V ali.... alguém me abana? Tá muito caloooooor.... ainda por cima o filho da mãe estava com um gorro de papai Noel, e uma cuequinha vermelha, que não deixava muito para a minha imaginação. (GIF EPS DE NATAL PLL)

Ele estava irresistivelmente sexy, e à medida em que começou a descer cada degrau da escada, foi que me veio à cabeça duas constatações:

Estávamos na casa que era do meu irmão e que agora era da família dele;

Porque ele estava sorrindo maliciosamente pra mim?

Só então notei onde meus olhos estavam oscilando: Entre aquele rosto másculo e deliciosamente charmoso, e o seu pacote de natal, que por sinal, era O Pacote! Um pacotão daqueles, sabe? Quando notei onde meus pensamentos estavam indo, senti meu rosto esquentar, e deveria saber que eu coraria feito um camarão cozido.

Seu sorriso gostoso ainda estava em seu rosto à medida que ele descia os degraus, ficando cada vez mais próximo a mim, e eu lá feito uma mula empacada parada, babando feito uma bebezona e admirando aquele papai Noel sexy.

“Vai minha filha, aproveita que ele ta vindo, e vai pedir o presente pro papai Noel” foi o que o meu subconsciente me falou. “mergulha nesse homem, mulher”mais uma vez, o diabinho que tava assentado no meu ombro esquerdo me falou. E eu resolvi ouvi-lo, só não imaginava que literalmente mergulharia... mas no chão. Porque logo que dei alguns passos, não notei a porra de uma pequena caixa no meio da sala e tropecei nela. Oh, merda! Caí de cara no chão duro, e não no corpo musculoso do papai Noel mais sexy que eu já vira.

Acordei ofegante! Mas que merda, até nos meus sonhos eu era uma completa rainha do desastre... Em compensação, fazia um bom tempo que eu não tinha um sonho daqueles, acordei com um calorzão, principalmente em algumas partes específicas do meu corpo, o que me lembrava que... PRECISO DE UM BANHO FRIO URGENTE.

****

Depois do banho, já mais controlada, arrumei minha mochila e corri para tomar o café da manhã e ir para a universidade.

Não demorei muito, exceto pela pequena, mas evidente mancha de café que estava em minha blusa, resultado da minha linda e desastrada personalidade de sempre comer e me sujar de alguma coisa.

Encontrei a minha tampinha favorita me esperando perto da nossa sala, com ares de impaciente.

- Finalmente a donzela resolveu aparecer... agora vamos logo, que eu estava prestes a perder a minha aula favorita por sua causa. – ela resmungou e me puxou junto consigo, a delicadeza em pessoa. Só que não.

Depois de duas aulas de Psicopatologia,e uma De Neuropsicologia, paramos para comer alguma coisa indo sentar na raiz de algumas arvores do campus feito duas doidas. Na verdade, a Renata trazia a comida e eu trazia o estômago e assim éramos felizes. Ela já tinha se acostumado com o meu jeito “chimão” de ser, e trazia dois, três pacotes de guloseimas para dividirmos, isso quando o Vinicius não se juntava a nós.

- AGORA me conta tudoooooo! OS DETALHES MAIS SÓRDIDOS! – Ela praticamente berrou no meu ouvido depois de eu falar que tinha sonhado com o crush.

- Quer falar mais baixo, por favor? E eu vou contar, mas antes, vamos sentar que eu não quero conversar em pé e no sol.. – resmunguei, pois, apesar de ser branca um pouco em excesso, odiava ficar exposta ao sol, já que isso me fazia ficar contraindo o olho devido a excessiva luminosidade, o que dava a impressão de que eu talvez estivesse fazendo algum tipo de careta ou tentando imitar os povos orientais.

Andamos mais um pouco até alcançarmos o lugar onde sempre ficávamos. Parei para começar a contar os detalhes, me certificando de que o boy magia lindo não estava á vista, já que eu sabia (por intermédio do Vinicius) que ele tinha alguns amigos que faziam psicologia, também, o que poderia fazer com que ele desse o ar de sua graça, como no dia em que eu trombei nele.

- E eu ainda caí dentro do meu próprio sonho, você acredita? – falei, já começando a me sentar na raiz enorme da árvore ao lado de Renata, que já estava sentada. Foi quando aconteceu. Ouvimos um “ creeeeeeck”, um barulho semelhante a...

- Mari do céu... esse barulho... levanta aí...

Merda. Eu acho que a minha calça rasgou.

Me virei para saber onde tinha sido o rasgo, mas não demorei a descobrir pois a vaca sem coração da minha amiga começou a rir alto.

Apalpei a minha bunda, e soube na hora que o rasgo tinha começado naquela região, tão logo tinha sentido o tecido da minha calcinha. MERDA. Duplamente merda.

Olhei para os lados, para ver se alguém tinha visto aquilo,e a única pessoa que eu vi por perto tinha de ser exatamente ele. E estava vindo na direção onde eu e Renata estávamos. Tinha como o meu dia piorar?

- você tem um casaco aí, besta? – perguntei pra ela,que ainda enxugava as lágrimas com as mãos e fez que não com a cabeça. Hoje definitivamente, NÃO era o meu dia.

Olhei novamente para aquele pedaço de mal caminho, que por acaso era meu vizinho e vi que ele estava com uma camisa xadrez por sobre uma outra camiseta branca lisa, e o melhor,a camisa era de manga longa o que poderia me ajudar e muito. Só faltava agora eu criar coragem e pedir. A essa altura eu já estava encostada na arvore, de modo que o rasgo fosse escondido, mas não podia esconder as risadinhas que eu ainda ouvia a minha amiga dar.

- hm... Ei, ei ei! – falei, quando ele passou por mim feito um foguete, me ignorando totalmente. Ele virou e então me encarou, o rosto tomado por uma seriedade tamanha, que até deu medo.

- você lembra de mim, NÉ? Sou sua vizinha a-agora... – droga, marina, não gagueja!]

- Claro que eu lembro.. A maluca que trombou em mim, que não olha por onde anda, e ainda Por cima, veja só, é minha vizinha –seu sarcasmo escorria por aquela boca linda, esculpida, feita por... Foco, Marina, foco.

- Ok, é que eu... b-bem eu to precisando de um favorzinho seu... n-na verdade eu realmente pre-preciso que me empreste essa sua camisa xadrez... por favor... é urgente.. – fiz a minha maior cara de cachorro carente com dor de barriga para ver se o convencia. Ele ficou me encarando, como se me analisasse, como se pensasse se iria fazer isso por mim.

- Pra quê você quer a minha camisa, posso saber? – ele me questionou, levantando uma sombrancelha, e deus do céu, que homem era aquele, Brasil? A coisa mais sexy do mundo!

- É... hm... bem... – como eu ia dizer que por obra da minha excessiva falta de sorte, quando eu ia sentar ao lado da Renata a minha calça resolveu rasgar...e logo no traseiro... mostrando a minha calcinha, que apesar de não ser velha, não era das melhores que eu tinha ?? – Hm...

- Você por acaso não está, hm... naquele período que as... hm... mulheres ficam todo m-mês... não é? – caracaaaaa, ele gaguejando, todo bonitinho falando de menstruação pra mim, achando que eu tinha menstruado e precisava tapar era tão... OK, MARINA! CHEGA

- ahhhhh, isso? – dei um risinho sem graça – Claro que não é isso...é que...

- A calça dela rasgou na bunda e se você não emprestar a camisa para ela cobrir é capaz dela pagar o maior mico que essa universidade já viu!Pronto, falei – Renata despejou tudo de uma vez e eu fiquei mortificada. Puta merda!

Baixei a cabeça, e quando levantei, o infeliz estava começando a gargalhar. A rir, da minha desgraça. E o pior de tudo, o peste ficava mais lindo ainda com aquele sorriso. Tô pensando em comprar um ventilador só pra usar quando eu der de cara com esse homem, senhor!!!!

Esperei pacientemente ( ok, não tão paciente) o senhor risada-dos-micos-alheios parar de rir e se recompor para ver se ele realmente me ajudaria ou me faria ser a miss MICO UNIVERSITÁRIO 2017 .

-Ok... – ele finalmente falou, limpando lágrimas de risos que eu não conseguia enxergar. – Que horas é a sua próxima aula? A depender eu posso te deixar em sua casa, você troca de roupa e eu trago você de volta, já que eu vou ter horário vago agora, mesmo.

- Hm... minha próxima aula é daqui a cinqüenta minutos.. será que daria tempo?

- Mas é claro, amiga – Renata me deu um empurrãozinho de apoio – é melhor você trocar essa calça rasgada do que ficar desfilando com um negocio que mais iria parecer um rabo.. – ela deu uma risada – ah, e pede pra tia angélica fazer um pano de chão com a sua calça, amiga – ela começou a rir novamente e só parou porque eu dei uma cotovelada nela. Vergonha, no more.

Resultado: Acabei aceitando a carona do Bernardo, que ficou me zoando o caminho inteiro, e foi assim que viramos amigos.

Véspera de Natal...

Acordei uma pilha de nervos, porque:

O Bernardo iria jantar na minha Casa ( não só ele, a família dele, mas ele é o principal Pra mim)

Ele disse que iria aproveitar e me contar um segredo,e eu curiosa que sou, passei a semana toda azucrinando o desgraçado para ver se ele me contava, mas ele não o fez.

Pela manhã, ajudei mamãe no preparo da ceia ( desastrada do jeito que era, acabei derrubando alguns ovos e ainda quebrei a xícara favorita de papai, que ele não me mate)

Durante a tarde, fiz as minhas unhas e sombrancelhas, que já estavam querendo virar uma monocelha, visto que eu passei um tempo as negligenciando, já que eu odeio aquela desgraça de pinça nos meus pelinhos... fiz depilação né, ninguém mandou eu nascer mais cabeluda que coelho... e dei um jeitinho nos meus cachos rebeldes.

Agora estou aqui, devidamente arrumada, esperando a família e o Bernardo chegarem à nossa casa. Confesso que estou ansiosa e com um frio na barriga por antecipação em querer saber o que ele tanto quer me contar...

Ding dong. Não é a do Faustão,é a da minha casa mesmo, e eu to tão eufórica que tenho medo de tropeçar até nos meus próprios pés, de tanta ansiedade. Mamãe vai abrir a porta e eu vou pro sofá, me sentar como uma lady que sou. Só que não.

E lá estava ele, o crush dos meus sonhos, o bofe que toda a galera LGBT gostaria de ter, o boy magia que...

- Marina? Mari? Oiiii? – Ele passou a mão pelo meu rosto, tirando-me dos meus devaneios

- AH, você veio!

- Como não vir? Eu disse que eu viria, não disse? Aliás, onde a senhorita estava com a cabeça, te chamei umas dez vezes e você parecia estar em outro mundo...

Num mundo chamado Bernardo

Hoje eu acordei, me veio a falta de você

Saudade de você, saudade de você

Lembrei que me acordava de manhã só pra dizer:

“Bom dia, meu bebê!

Te amo, meu bebê!”

- Porque você tá cantando a música do Pablo, sua maluquinha? – ele falou, doido pra rir. E só então eu percebi que tinha cantado alto, não em pensamentos... mais um mico pra sua lista, marina. Corei violentamente, porque eu o chamava de “BÊ” e a música tinha a palavra “bebê” então...

- hm... o que era mesmo que você queria me dizer? – tratei de mudar de assunto, para saber logo o que diabos ele queria me falar.

- É melhor irmos lá para fora... – ele falou, colocando a mão no bolso, um gesto de timidez, talvez?

Levantei-me do sofá, acompanhando-o em direção à porta.

Quando saí, logo após ele, senti o frio em minha pele, fruto da mudança de ambiente.

- então, menino, me conta que droga de segredo é esse que você tanto quer me contar.. olha eu já não estou mais me agüentando de curiosidade para saber o que é.

Olhei pra ele, que me olhava com um sorriso enviezado. Ah, aquele sorriso, aquele maldito sorriso que mexe com todos os poros do meu corpo...

- Como você sabe, eu morava em outra cidade, e vinha todos os dias para a faculdade. Era chato, cansativo, mas conseguimos fazer tudo o que queríamos. Até que resolvi, em comum acordo com meus pais, que nos mudaríamos para cá, uma cidade maior, com maior quantidade de serviços, bem melhor para eles... eu não vou enrolar muito, relaxe, mari... é só que... o meu segredo é, que eu tô afim de uma garota aí e... – meu coração murchou naquela hora. Mais um crush que me colocava para escanteio.

- E? – O encorajei a continuar.

- Acontece que, bem, ela é uma pessoa completamente oposta a mim, vive se desequilibrando até com o vento, tem uma risada estranha, e fica vermelha até quando eu a elogio – masoque? Porque raios ele estaria falando as minhas características? – ela é muito engraçada, mas também adora pagar um mico, nunca vi uma pessoa que adora tanto um mico quanto ela, e teve a da calça rasgada, aquele com certeza foi impagável.

Eu já não sabia mais como reagir, meu coração tava pior que bateria de escola de samba. Meu rosto tinha perdido a cor. Definitivamente ele estava falando de mim. E se disse que estava afim de mim... era porque eu estava sendo correspondida... O CRUSH TAVA ME CORRESPONDENDO? OS ANJOS CANTAM AMÉM! Finalmente...

- É, eu sei que você sabe que eu estou falando de você, Marina, e... eu confesso que eu te vi mesmo quando você não me via... ri dos teus micos mesmo quando você não sabia que eu existia.... e aquele dia em que você caiu por cima de mim, foi uma puta de uma sorte, porque eu iria esbarrar em você, e não você em mim... mas... – ele pigarreou um pouco e voltou a falar, dessa vez, bem mais próximo de mim. Meu coração estava bem louco naquele momento, minhas mãos suavam, e eu tava com as pernas mais moles que macarrão cozido. –Eu queria que você me desse um presente, já que hoje é natal – riu da sua piada sem humor. – seja minha namorada. Hoje, amanhã, sempre?

Eu estava sem ar. Sem voz, sem fala. Aquilo era real, ou era outro sonho? Pra fazer a prova, resolvi me beliscar.

- AI MERDA! – gemi de dor quando me belisquei, e olhei pra cima, olhei para o Bernardo.Ele me encarava, o semblante divertido e ansioso pela resposta.

- Mas é claro que eu aceito! Eu seria louca de não aceitar! Finalmente santo Antonio deixou o meu crush me corresponder! – levei as mãos aos céus, o que o fez rir, e logo em seguida ficar sério.

E quando ele ficou sério, o encarei.

Nós nos encaramos, ele se aproximou mais ainda, e me puxou a cabeça. Mas em vez, disso, dei um pisão no seu Pé, totalmente sem querer.

- desculpinha – dei um sorriso amarelo, e ele sorriu de volta, dessa vez aproximando sua cabeça da minha. Tomando cuidado para pegar nos lugares certos. Suas mãos maravilhosas, se encaixaram na minha cintura, e sua boca, ah, aquela maravilhosa boca se encaixou na minha. Seus lábios tinham um gosto dele, só dele, um gosto que eu nunca tivera sentido antes. A maciez de sua língua em contato à minha, fizeram-me arrepiar até o dedinho do pé. Eita que presente bom,hein, papai Noel? Aquele foi o meu presente inesperado.

E lá fomos nós dois, às nuvens, sem tirar os pés do chão.

FIM

Conto: Um presente inesperado

Dezembro, fim do ano, férias, todo esse clima natalino acaba se tornando um clichê infindável, ganhar os mesmos presentes, ouvir as mesmas piadas ano após ano, rever as mesmas pessoas... é enfadonho, as vezes, eu sei.

Só que esse ano, parece que o bom velhinho resolveu me dar um help e tornar meu natal menos... digamos, a mesmice de todos os anos.

É, EU definitivamente depois de meses na fossa, ouvindo Marília Mendonça, Pablo, Henrique e Juliano (diga-se de passagem, coloquei até você voltar em modo repeat e acho que na retrospectiva do spotify com certeza ela listará dentre as mais ouvidas)...consegui me reerguer mas, porque raios eu estaria na fossa?

Simplesmente porque terminei um namoro que eu achei que daria certo, porque o cara era um amorzinho, um fofo, no início da relação, mas foi virando um imbecil, ciumento, machista, e... não vale a pena mais usar meu vocabulário de baixo calão com aquele estrupício... a realidade é que, apesar do ogro (muito pior que o Shrek) que ele se tornou, eu gostava daquela peste. Gostava até demais. E foi isso que me fez ir até as profundezas da terra e ficar lá ouvindo as minhas músicas que me afundavam mais e mais.

Eu e minha mania de mudar de assunto do nada, mas como eu estava falando, ou melhor, escrevendo, o papai Noel resolveu colocar um boy magia no meu caminho. E que boy magia! Acabei o conhecendo na faculdade mesmo, quando um dia, eu...

Flashback on:

- Eu não consigo acreditar que você não vai com a gente, macaca albina – minha melhor amiga, como ela assim se autodenomina, Renata, me falava enquanto andávamos pelo campus da universidade, depois de uma apresentação tensa de trabalho, já que eu paguei um mico do tamanho da minha testa ( e olha que não é pequena hein?) – O mico em questão, é que na hora de apresentar os slides, comecei a ter uma crise de risos, assim, do nada, ficando nos mais variados tons das cores do arco Iris. A muito custo consegui me recompor e graças aos céus, nem eu, nem minha equipe fomos penalizados

- Eu não posso, Rê, eu já confirmei a minha mãe que eu iria ajudar na recepção dos vizinhos novos, não sei pra que tudo isso, mas você sabe como dona Angélica é, não sabe? – de fato, minha mãe sabia ser bastante exagerada quando o assunto era a chegada de pessoas novas na rua onde morávamos. Até porque era a casa que era da nossa família que havia sido comprada recentemente, já que quem morava lá, que era o meu irmão mais velho, tinha acabado de se mudar para outra cidade, para tristeza e desespero dos meus pais. Dessa vez, ela tinha combinado com a mulher que se mudaria, de que iríamos jantar na casa deles no próximo final de semana, o que chocaria com o acampamento que o pessoal da faculdade estava planejando fazer desde início do ano, o qual era o motivo da Renata estar me azucrinando desde que eu dissera que não poderia ir.

- é, eu sei disso, mas bem que ela podia te liberar, não é Mari? Ai que droga, quem eu vou encher o saco durante a viagem, chutar as canelas, ou ficar cutucando até que você berre e me implore para eu parar, hein?

Eu estava a ponto de responder que ainda havia tempo dela cancelar a ida, (já que essa viagem sem mim também era um risco pra mim, eu não queria perder a minha melhor amiga de jeito nenhum) quando do nada, eu tropecei em algo, que depois eu saberia se tratar de uma raiz exposta das árvores gigantes que existiam no campus e me estrubufuquei no chão, igual cacho de banana maduro.. só que segundos depois do impacto eu reparei que não estava exatamente no chão, o chão é algo duro, e eu estava sob pedaços de tecidos que cobriam músculos e... PUTA MERDA!EU CAÍ POR CIMA DE UM GAROTO, Que aliás, estava parecendo um touro bravo de tão irritado que estava...

- NÃO OLHA POR ONDE ANDA NÃO, GAROTA? – ele berrou, clichê demais, eu sei, mas foi o que ele disse enquanto eu me erguia puxando a minha dignidade que também tinha caído comigo no chão.. ou melhor, no corpo daquele cara, que, olhando direitinho,e tirando a carranca no rosto, ele era LINDO. Era não, é.

- Me desculpa, cara. E-Eu realmente n-não te vi, e nem vi essa peste dessa raiz maior que o meu braço, desculpa mesmo. – o fitei, ainda me recuperando da queda, e então percebi algumas risadinhas vindas de trás de mim. A retardada da minha amiga estava rindo, em vez de me dar uma ajuda. Voltei minha atenção para o homem ali à minha frente, ainda se limpando da areia, e então me recordei de oferecer alguma ajuda – Você ta bem? Se machucou? Quer que eu te leve para um hospital, olha eu faço tudinho para me redimir e..

- Ok, eu entendi, eu não me machuquei. Mas na próxima, vê se não tenta ser tão distraída e olha por onde anda – ele falou, pegou a mochila e foi embora. E eu fiquei como? Me sentindo uma criancinha que levara bronca do pai porque teve dor de barriga por comer doces demais.

- AI, essa doeu – Renata falou, ainda rindo da minha cara. Eu a fuzilei com meus olhos azuis e ela então ficou séria.

Depois desse pequeno incidente, que já está na minha lista de micos pagos de 2017, pude reparar que o rosto do estressadinho ainda estava gravado na minha mente. Ele era uma mistura de Zac Efron com o Jeremy Irvine. Forte, musculoso, e ah, aqueles olhos maravilhosos, lindo, ah... e foi aí que ele virou o meu crush.

Flashback off

Depois desse dia, eu ainda o vi pela faculdade, descobri por intermédio do Vinicius, o namorado da minha tampinha ( ok, é bullying com a minha melhor amiga, mas fazer o que, ela me chama de branquela e de macaca albina também, ué), que ele era novo na cidade, mas estava cursando direito desde o ano passado nessa faculdade, o que é intrigante, já que eu nunca o vi por lá antes. Fui informada também de que o nome do dito cujo que andava invadindo meus sonhos mais loucos era Bernardo, e agora de fato, estava fincando raízes definitivas na cidade, depois de idas e vindas, como meu informante favorito me contou.

Ah,as vantagens de ter o namorado da sua melhor amiga como cúmplice...

Mas o pior não foi isso, foi o fato de naquele fim de semana, que eu abdiquei de ir ao acampamento com a Renata, e ido jantar com a família que estava se mudando para a cidade, que o crush também seria meu vizinho. Os pais dele explicaram que a decisão de mudar para o local onde o filho mais novo deles estava estudando foi tomada em conjunto, já que para Bernardo ficava cansativo ir e voltar todos os dias. Depois de descobrir essa coincidência maluca, não prestei atenção em mais nada naquela conversa estranha dos meus pais com os dele.

Na verdade, naquela noite fiquei morrendo de tédio, principalmente porque descobri que o meu crush era um imbecil, insensível que me deixou plantada na sala observando aquela conversa tediosa enquanto ele foi fazer não-sei-o-quê no quarto dele.

MaS... Voltando ao que eu estava falando, papai Noel me mandou alguém para me fazer superar a fossa na qual eu havia ficado por meses. Sério, foi muito difícil para minhas amigas tentarem me tirar, porque eu não queria sair. Ainda que o dito cujo até agora não demonstrou interesse, pelo menos parei de cantar Ai que saudade do meu ex ou Até você voltar que já estava enchendo o saco dos tímpanos dos ouvidos dos meus pais e das minhas amigas.

- Marinaaa, pode parar com esse show de artes cênicas porque eu não to vendo nenhuma atriz aqui em ascensão para você ficar fazendo drama! – A Pri me falou, depois de eu ficar reclamando da solidão, ok, isso foi uma semana depois do término, então não me julguem.

Claro que as outras meninas com quem eu andava também me ajudaram muito a sair do buraco no qual eu tinha me enfiado depois que eu pusera um fim no meu relacionamento, mas confesso que agora estou bem, graças a elas.

Já superei, estou bem. Agora que eu tenho um belo de um crush para admirar, não vai ser um imbecil machista, idiota e egocêntrico que vai me levar para a fossa novamente.

Eu não sabia onde estava, mas com certeza conhecia esse lugar. Estava escuro, só iluminado pelos pisca-piscas que rondavam o coisinho da escada que eu esqueci o nome, e os da enorme e estonteante arvore de natal da sala. Tentei me lembrar onde é que eu estava, mas nada veio.

Quando me levantei do confortável sofá, eu o vi. No topo da escada, com aquele sorriso descarado dele me encarando. Abri a boca para falar algo, mas nada saía, exceto pela possível baba, já que eu o estava secando descaradamente.

Mas não era pra menos. O cara estava sem camisa, exibindo o que eu já suspeitava que ele tiinha: um corpo maravilhoso, forte na medida certa, não bombado, com aquele tanquinho que eu jamais reclamaria em lavar minhas roupas ali, e aquele V ali.... alguém me abana? Tá muito caloooooor.... ainda por cima o filho da mãe estava com um gorro de papai Noel, e uma cuequinha vermelha, que não deixava muito para a minha imaginação. (GIF EPS DE NATAL PLL)

Ele estava irresistivelmente sexy, e à medida em que começou a descer cada degrau da escada, foi que me veio à cabeça duas constatações:

Estávamos na casa que era do meu irmão e que agora era da família dele;

Porque ele estava sorrindo maliciosamente pra mim?

Só então notei onde meus olhos estavam oscilando: Entre aquele rosto másculo e deliciosamente charmoso, e o seu pacote de natal, que por sinal, era O Pacote! Um pacotão daqueles, sabe? Quando notei onde meus pensamentos estavam indo, senti meu rosto esquentar, e deveria saber que eu coraria feito um camarão cozido.

Seu sorriso gostoso ainda estava em seu rosto à medida que ele descia os degraus, ficando cada vez mais próximo a mim, e eu lá feito uma mula empacada parada, babando feito uma bebezona e admirando aquele papai Noel sexy.

“Vai minha filha, aproveita que ele ta vindo, e vai pedir o presente pro papai Noel” foi o que o meu subconsciente me falou. “mergulha nesse homem, mulher”mais uma vez, o diabinho que tava assentado no meu ombro esquerdo me falou. E eu resolvi ouvi-lo, só não imaginava que literalmente mergulharia... mas no chão. Porque logo que dei alguns passos, não notei a porra de uma pequena caixa no meio da sala e tropecei nela. Oh, merda! Caí de cara no chão duro, e não no corpo musculoso do papai Noel mais sexy que eu já vira.

Acordei ofegante! Mas que merda, até nos meus sonhos eu era uma completa rainha do desastre... Em compensação, fazia um bom tempo que eu não tinha um sonho daqueles, acordei com um calorzão, principalmente em algumas partes específicas do meu corpo, o que me lembrava que... PRECISO DE UM BANHO FRIO URGENTE.

****

Depois do banho, já mais controlada, arrumei minha mochila e corri para tomar o café da manhã e ir para a universidade.

Não demorei muito, exceto pela pequena, mas evidente mancha de café que estava em minha blusa, resultado da minha linda e desastrada personalidade de sempre comer e me sujar de alguma coisa.

Encontrei a minha tampinha favorita me esperando perto da nossa sala, com ares de impaciente.

- Finalmente a donzela resolveu aparecer... agora vamos logo, que eu estava prestes a perder a minha aula favorita por sua causa. – ela resmungou e me puxou junto consigo, a delicadeza em pessoa. Só que não.

Depois de duas aulas de Psicopatologia,e uma De Neuropsicologia, paramos para comer alguma coisa indo sentar na raiz de algumas arvores do campus feito duas doidas. Na verdade, a Renata trazia a comida e eu trazia o estômago e assim éramos felizes. Ela já tinha se acostumado com o meu jeito “chimão” de ser, e trazia dois, três pacotes de guloseimas para dividirmos, isso quando o Vinicius não se juntava a nós.

- AGORA me conta tudoooooo! OS DETALHES MAIS SÓRDIDOS! – Ela praticamente berrou no meu ouvido depois de eu falar que tinha sonhado com o crush.

- Quer falar mais baixo, por favor? E eu vou contar, mas antes, vamos sentar que eu não quero conversar em pé e no sol.. – resmunguei, pois, apesar de ser branca um pouco em excesso, odiava ficar exposta ao sol, já que isso me fazia ficar contraindo o olho devido a excessiva luminosidade, o que dava a impressão de que eu talvez estivesse fazendo algum tipo de careta ou tentando imitar os povos orientais.

Andamos mais um pouco até alcançarmos o lugar onde sempre ficávamos. Parei para começar a contar os detalhes, me certificando de que o boy magia lindo não estava á vista, já que eu sabia (por intermédio do Vinicius) que ele tinha alguns amigos que faziam psicologia, também, o que poderia fazer com que ele desse o ar de sua graça, como no dia em que eu trombei nele.

- E eu ainda caí dentro do meu próprio sonho, você acredita? – falei, já começando a me sentar na raiz enorme da árvore ao lado de Renata, que já estava sentada. Foi quando aconteceu. Ouvimos um “ creeeeeeck”, um barulho semelhante a...

- Mari do céu... esse barulho... levanta aí...

Merda. Eu acho que a minha calça rasgou.

Me virei para saber onde tinha sido o rasgo, mas não demorei a descobrir pois a vaca sem coração da minha amiga começou a rir alto.

Apalpei a minha bunda, e soube na hora que o rasgo tinha começado naquela região, tão logo tinha sentido o tecido da minha calcinha. MERDA. Duplamente merda.

Olhei para os lados, para ver se alguém tinha visto aquilo,e a única pessoa que eu vi por perto tinha de ser exatamente ele. E estava vindo na direção onde eu e Renata estávamos. Tinha como o meu dia piorar?

- você tem um casaco aí, besta? – perguntei pra ela,que ainda enxugava as lágrimas com as mãos e fez que não com a cabeça. Hoje definitivamente, NÃO era o meu dia.

Olhei novamente para aquele pedaço de mal caminho, que por acaso era meu vizinho e vi que ele estava com uma camisa xadrez por sobre uma outra camiseta branca lisa, e o melhor,a camisa era de manga longa o que poderia me ajudar e muito. Só faltava agora eu criar coragem e pedir. A essa altura eu já estava encostada na arvore, de modo que o rasgo fosse escondido, mas não podia esconder as risadinhas que eu ainda ouvia a minha amiga dar.

- hm... Ei, ei ei! – falei, quando ele passou por mim feito um foguete, me ignorando totalmente. Ele virou e então me encarou, o rosto tomado por uma seriedade tamanha, que até deu medo.

- você lembra de mim, NÉ? Sou sua vizinha a-agora... – droga, marina, não gagueja!]

- Claro que eu lembro.. A maluca que trombou em mim, que não olha por onde anda, e ainda Por cima, veja só, é minha vizinha –seu sarcasmo escorria por aquela boca linda, esculpida, feita por... Foco, Marina, foco.

- Ok, é que eu... b-bem eu to precisando de um favorzinho seu... n-na verdade eu realmente pre-preciso que me empreste essa sua camisa xadrez... por favor... é urgente.. – fiz a minha maior cara de cachorro carente com dor de barriga para ver se o convencia. Ele ficou me encarando, como se me analisasse, como se pensasse se iria fazer isso por mim.

- Pra quê você quer a minha camisa, posso saber? – ele me questionou, levantando uma sombrancelha, e deus do céu, que homem era aquele, Brasil? A coisa mais sexy do mundo!

- É... hm... bem... – como eu ia dizer que por obra da minha excessiva falta de sorte, quando eu ia sentar ao lado da Renata a minha calça resolveu rasgar...e logo no traseiro... mostrando a minha calcinha, que apesar de não ser velha, não era das melhores que eu tinha ?? – Hm...

- Você por acaso não está, hm... naquele período que as... hm... mulheres ficam todo m-mês... não é? – caracaaaaa, ele gaguejando, todo bonitinho falando de menstruação pra mim, achando que eu tinha menstruado e precisava tapar era tão... OK, MARINA! CHEGA

- ahhhhh, isso? – dei um risinho sem graça – Claro que não é isso...é que...

- A calça dela rasgou na bunda e se você não emprestar a camisa para ela cobrir é capaz dela pagar o maior mico que essa universidade já viu!Pronto, falei – Renata despejou tudo de uma vez e eu fiquei mortificada. Puta merda!

Baixei a cabeça, e quando levantei, o infeliz estava começando a gargalhar. A rir, da minha desgraça. E o pior de tudo, o peste ficava mais lindo ainda com aquele sorriso. Tô pensando em comprar um ventilador só pra usar quando eu der de cara com esse homem, senhor!!!!

Esperei pacientemente ( ok, não tão paciente) o senhor risada-dos-micos-alheios parar de rir e se recompor para ver se ele realmente me ajudaria ou me faria ser a miss MICO UNIVERSITÁRIO 2017 .

-Ok... – ele finalmente falou, limpando lágrimas de risos que eu não conseguia enxergar. – Que horas é a sua próxima aula? A depender eu posso te deixar em sua casa, você troca de roupa e eu trago você de volta, já que eu vou ter horário vago agora, mesmo.

- Hm... minha próxima aula é daqui a cinqüenta minutos.. será que daria tempo?

- Mas é claro, amiga – Renata me deu um empurrãozinho de apoio – é melhor você trocar essa calça rasgada do que ficar desfilando com um negocio que mais iria parecer um rabo.. – ela deu uma risada – ah, e pede pra tia angélica fazer um pano de chão com a sua calça, amiga – ela começou a rir novamente e só parou porque eu dei uma cotovelada nela. Vergonha, no more.

Resultado: Acabei aceitando a carona do Bernardo, que ficou me zoando o caminho inteiro, e foi assim que viramos amigos.

Véspera de Natal...

Acordei uma pilha de nervos, porque:

O Bernardo iria jantar na minha Casa ( não só ele, a família dele, mas ele é o principal Pra mim)

Ele disse que iria aproveitar e me contar um segredo,e eu curiosa que sou, passei a semana toda azucrinando o desgraçado para ver se ele me contava, mas ele não o fez.

Pela manhã, ajudei mamãe no preparo da ceia ( desastrada do jeito que era, acabei derrubando alguns ovos e ainda quebrei a xícara favorita de papai, que ele não me mate)

Durante a tarde, fiz as minhas unhas e sombrancelhas, que já estavam querendo virar uma monocelha, visto que eu passei um tempo as negligenciando, já que eu odeio aquela desgraça de pinça nos meus pelinhos... fiz depilação né, ninguém mandou eu nascer mais cabeluda que coelho... e dei um jeitinho nos meus cachos rebeldes.

Agora estou aqui, devidamente arrumada, esperando a família e o Bernardo chegarem à nossa casa. Confesso que estou ansiosa e com um frio na barriga por antecipação em querer saber o que ele tanto quer me contar...

Ding dong. Não é a do Faustão,é a da minha casa mesmo, e eu to tão eufórica que tenho medo de tropeçar até nos meus próprios pés, de tanta ansiedade. Mamãe vai abrir a porta e eu vou pro sofá, me sentar como uma lady que sou. Só que não.

E lá estava ele, o crush dos meus sonhos, o bofe que toda a galera LGBT gostaria de ter, o boy magia que...

- Marina? Mari? Oiiii? – Ele passou a mão pelo meu rosto, tirando-me dos meus devaneios

- AH, você veio!

- Como não vir? Eu disse que eu viria, não disse? Aliás, onde a senhorita estava com a cabeça, te chamei umas dez vezes e você parecia estar em outro mundo...

Num mundo chamado Bernardo

Hoje eu acordei, me veio a falta de você

Saudade de você, saudade de você

Lembrei que me acordava de manhã só pra dizer:

“Bom dia, meu bebê!

Te amo, meu bebê!”

- Porque você tá cantando a música do Pablo, sua maluquinha? – ele falou, doido pra rir. E só então eu percebi que tinha cantado alto, não em pensamentos... mais um mico pra sua lista, marina. Corei violentamente, porque eu o chamava de “BÊ” e a música tinha a palavra “bebê” então...

- hm... o que era mesmo que você queria me dizer? – tratei de mudar de assunto, para saber logo o que diabos ele queria me falar.

- É melhor irmos lá para fora... – ele falou, colocando a mão no bolso, um gesto de timidez, talvez?

Levantei-me do sofá, acompanhando-o em direção à porta.

Quando saí, logo após ele, senti o frio em minha pele, fruto da mudança de ambiente.

- então, menino, me conta que droga de segredo é esse que você tanto quer me contar.. olha eu já não estou mais me agüentando de curiosidade para saber o que é.

Olhei pra ele, que me olhava com um sorriso enviezado. Ah, aquele sorriso, aquele maldito sorriso que mexe com todos os poros do meu corpo...

- Como você sabe, eu morava em outra cidade, e vinha todos os dias para a faculdade. Era chato, cansativo, mas conseguimos fazer tudo o que queríamos. Até que resolvi, em comum acordo com meus pais, que nos mudaríamos para cá, uma cidade maior, com maior quantidade de serviços, bem melhor para eles... eu não vou enrolar muito, relaxe, mari... é só que... o meu segredo é, que eu tô afim de uma garota aí e... – meu coração murchou naquela hora. Mais um crush que me colocava para escanteio.

- E? – O encorajei a continuar.

- Acontece que, bem, ela é uma pessoa completamente oposta a mim, vive se desequilibrando até com o vento, tem uma risada estranha, e fica vermelha até quando eu a elogio – masoque? Porque raios ele estaria falando as minhas características? – ela é muito engraçada, mas também adora pagar um mico, nunca vi uma pessoa que adora tanto um mico quanto ela, e teve a da calça rasgada, aquele com certeza foi impagável.

Eu já não sabia mais como reagir, meu coração tava pior que bateria de escola de samba. Meu rosto tinha perdido a cor. Definitivamente ele estava falando de mim. E se disse que estava afim de mim... era porque eu estava sendo correspondida... O CRUSH TAVA ME CORRESPONDENDO? OS ANJOS CANTAM AMÉM! Finalmente...

- É, eu sei que você sabe que eu estou falando de você, Marina, e... eu confesso que eu te vi mesmo quando você não me via... ri dos teus micos mesmo quando você não sabia que eu existia.... e aquele dia em que você caiu por cima de mim, foi uma puta de uma sorte, porque eu iria esbarrar em você, e não você em mim... mas... – ele pigarreou um pouco e voltou a falar, dessa vez, bem mais próximo de mim. Meu coração estava bem louco naquele momento, minhas mãos suavam, e eu tava com as pernas mais moles que macarrão cozido. –Eu queria que você me desse um presente, já que hoje é natal – riu da sua piada sem humor. – seja minha namorada. Hoje, amanhã, sempre?

Eu estava sem ar. Sem voz, sem fala. Aquilo era real, ou era outro sonho? Pra fazer a prova, resolvi me beliscar.

- AI MERDA! – gemi de dor quando me belisquei, e olhei pra cima, olhei para o Bernardo.Ele me encarava, o semblante divertido e ansioso pela resposta.

- Mas é claro que eu aceito! Eu seria louca de não aceitar! Finalmente santo Antonio deixou o meu crush me corresponder! – levei as mãos aos céus, o que o fez rir, e logo em seguida ficar sério.

E quando ele ficou sério, o encarei.

Nós nos encaramos, ele se aproximou mais ainda, e me puxou a cabeça. Mas em vez, disso, dei um pisão no seu Pé, totalmente sem querer.

- desculpinha – dei um sorriso amarelo, e ele sorriu de volta, dessa vez aproximando sua cabeça da minha. Tomando cuidado para pegar nos lugares certos. Suas mãos maravilhosas, se encaixaram na minha cintura, e sua boca, ah, aquela maravilhosa boca se encaixou na minha. Seus lábios tinham um gosto dele, só dele, um gosto que eu nunca tivera sentido antes. A maciez de sua língua em contato à minha, fizeram-me arrepiar até o dedinho do pé. Eita que presente bom,hein, papai Noel? Aquele foi o meu presente inesperado.

E lá fomos nós dois, às nuvens, sem tirar os pés do chão.

FIM

Larissa Siqueira
Enviado por Larissa Siqueira em 14/12/2017
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