Cocaína


Era sempre a mesma história, ele fazia questão de cometer autocídio diário. Era algo que não se tinha mais o controle...

O pó branco de cheiro forte, batido no prato quente, canudos ensanguentados e algumas cápsulas vazias...
Naquele quarto esfumaçado jazia alguém, prisioneiro da cocaína...
O coração triturado fazia-o entrar em desespero, fremente da planta dos pés a cabeça, espamos e com uma respiração lânguida, decrescente, pontadas como a de punhais penetravam em seu peito, seu corpo gélido o levava à fraqueza súbita, seus batimentos cardíacos descompassados como um aparelho vestuto, o ar vital se extinguia, evaporava por entre os poros...
Como um bicho enclausurado, com olhos mais que arregalados, o "monstro" ficava mal a cada "teco".
Sua voz retumbava o desconforto que exalava, acelerado, suava frio, o seu olhar árido exibia a dor que o levava para o abismo, naquela ânsia demasiada, os pensamentos o transportavam para uma irrealidade, sentado, paralisado, olhando para o nada com as mãos sobre o peito, ali estacionava durante as horas de efeito das drogas.
Era algo estranho de se ver, os próprios familiares já não criam mais em sua recuperação, tratavam-o como um doente, um miserável de um doente...
E dia após dia, o penoso e insano homem, via no seu cárcere a escória de viver...
Anêmico, com aspecto cadavérico, o rapaz não conseguia se ver no espelho, a sua aparência incomodava...
Felippe Lacerda
Enviado por Felippe Lacerda em 19/12/2017
Reeditado em 22/12/2017
Código do texto: T6202666
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