Aquele que já tenha desgustado de um bom gisado de veado assado, acompanhado de uma saborosa farofa de dênde, regada á cerveja estupidamente gelada poderá muito bem supor do que estou falando. A rubra carne do veado catingueiro, ou veado- mateiro é firme, macia, e suculenta. Penso eu que seja uma previlegiada raridade para desgustação dos deuses, e claro de ávidos caçadores e seus adeptos feito eu.

Naquele tempo, apesar da invasão das terras por parte dos fazendeiros, e suas fazendas com seus sanfenos e gado comprometerem a fauna nativa, o Raso do Búri, recortado por ravina e cânios apresentava ainda uma diversidade de animais mamíferos como veado-catingueiro, suçuarana, e sariguê.

Era fascinante aos olhos de falcão dos caçadores encontrarem caititus, tatu bola, peba e hiliófilos de hábitos diurnos feito o teîú-gûaçú em abundância. Embora um tanto escassa, ainda se encontra esses animais e também diversas variedades de aves da especime codorna, nambú-pé, perdiz, a avoante e a arara-azul-de-lear, considerada a mais ameaçada de extinção do mundo.

Foi ali, naquele platô sofrido e massacrado pela intensa erosão, no qual a vegetação era a caatinga arbustiva repleta de mandacarus, xiquexiques e bromélias, onde um quinteto de exímios caçadores estavam se preparandos para uma epopeica caçada, dentre eles o meu compadre José e seus amigos caiçaras; Tica de Galegão, Milton de Zenaide, João irmão de Zefa e João de Chica. Eles já haviam ajeitado tudo, o saco de nylon com os apretechos, o aióuo e tudo mais necessario para a lida de verdadeiros desbravadores das brenhas.

A esta altura José, um desses curibocas de soriso largo como a aragem da alvorada, já estava calçando as botas para adentrar aquele cenário magnificiente por natureza. No entanto era preciso ficar atento onde pisava, e todo cuidado era pouco, além do mais pense numa mata cobrenta. Depois de ver que estava tudo no jeito, eles soltaram a cachorrada que saltitaram de felicidade, fazendo festa, andando de lado batendo o toco de rabo duro e desbocando o beiço para mostrar os dentes de cães caçadores.

E assim se sucedeu que lá por volta das onze horas, depois de andarem bastante no platô do raso do búri sem nenhuma novidade, em meio a quipé, pinhão, cipó e um sol de rachar o côco, sem nehuma caça a vista, opitaram por não sobrepor os já fatigados cães aquele sol escaldante, e os deixaram na casa de um amigo denominado Severino sob seus cuidados.

O quinteto de caçadores caminhou um pouco mais de três kilometo e meio para em seguida darem logo de cara com o eclodir de um veado-catingueiro, o bicho era dos grandes, devia pesar entorno de uns 14 a 15 kilos, estava acerca de desesseis braças a pastar numa sombra de caatingueira. Media uns oitocentos e vinte centimetos de comprimento, talvez, e tinha sobre a sua cabeça chifes simples e eretos, com uns dez centimentos aproximadamente, o couro era de cor marom avermelhado com borrifos brancas.

Foi naquele exato momento que o meu compadre José apontou a sua cartucheira calibre vinte e oito e fez mira, efetuou o primeiro tiro no Catingueiro. Nao sei ao certo, se o bicho, que tem sentido aguçado deu um grande e agil salto ao ouvir o estampido, ou se ao sentir o chumbo quente queimar-lhe o lombo. O que sei foi que ele caiu ao chão feito jaca mole, no entanto, logo em seguida se levantou e faz fiapo no mundo.
 
Ouvi-se outro estrondo de escopeta, desta vez fora a alma lisa de calibre trinta e seis do Tica de Galegão que havia atirado. O agil catingueiro caiu novamente, levantou-se e fez fiapo no mundo pela segunda vez. Mais um estampido de outro tiro se fez ouvir, desta feita quem atirou foi o João irmão de Zefa. O Veado caiu na relva, levantou-se pela terceira vez consecutiva e fez fiapo no mundo.

Na correria o cervidae passou em disparada próximo ao local onde estava o Milton de Zenaide. Sujeito cautelo e atirador nato que era, cuidadosamente e com esmero fez mira e puxou do gatilho, outro disparo que derrubou o bravo animal, o catingueiro caiu de patas drobadas, rolou na relva para logo em seguida sacudir a poeira, levantar e fazer fiapo no mundo.

Era uma balbúdia infernal de galhos de arbustos se quebrando a cada debandada do veado. O chão estrugia diante a pisadura rápida e galopante do adiposo animal. Um quinto estrépito ecoou raso adentro. Desta feita havia sido a espingarda de João de Chica que cuspiu fogo. O quadrupede por sua vez não caiu ao chão. Parecia ter ficado estroso, caminhado a ermo e/ ou talvez teria sido exinanição? Nunca se soube ao certo, o fato é que ele ficou ali atibado, meio zomzo e bobo a tal ponto do João de Chica pegá-lo a mão.

No corpo do animal haviam vários pontos negros de chumbo mesclados ao rubro de seu sangue. Até os dias de hoje não se sabe com certeza qual fora o tiro fatal que matou aquele bravo e belo veado de capoeira. No entanto, o escarceu fora tão grande que nenhum dos caçadores quizera saber quem havia, de fato executado aquele quadrupede esplendido, pois eles o dividiram em partes iguais entre si. Nada mais justo, já que no dorso do animal havia chumbo penetrados de toda forma e tamanho, causado pelos vários disparos efetuados por todos eles no escachelado veado-catingueiro e sua couraça de jacaré.
Marcos Antônio Lima
Enviado por Marcos Antônio Lima em 27/12/2017
Reeditado em 27/12/2017
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