DESAPARECIDO

Samuel nasceu em um localidade distante, chamada São Judas, interior do interior, filho de dois agricultores muito pobres, que tinham mais quatro filhos. Como pode-se imaginar, nem sempre os pais podiam sustentar a todos em casa e então, os filhos eram colocados por um tempo em casa de parentes, amigos,padrinhos. O mais velho foi sempre a primeira vítima para essas “saídas” e por isso foi criando raízes nas ruas, arrumou amigos, inimigos,conhecidos, estudou um pouco, frequentou a Igreja católica, fez comunhão e crisma,para se tornar bom cidadão.No entanto, acostumou-se com a rua e dela quase não saía,vinha em casa de vez em quando, quem mandava notícias para sua mãe, eram alguns antigos conhecidos de família e parentes que diziam estar bem e quando o vissem de novo mandariam ir em casa ver os pais e os irmãos. Dessa forma Samuel viveu e cresceu, não afastado da família,mas distante, porque montou seu próprio habitat fora do lar de origem.De sua vida longe de casa os pais e os irmãos não sabiam nada.Apenas que não era criminoso,nunca envolveu-se em ilícito, nara a mãe, nem o pai, ou seus irmãos que diziam, eram pessoas honestas, trabalhadoras, como os agentes ferroviários, que afirmavam com certeza absoluta.Em brigas se defendia como qualquer cidadão e assim ia levando a vida. Certa feita as notícias não chegavam mais aos ouvidos de sua mãe, aqueles velhos amigos e parentes não sabiam mais dele, não mais o viram na cidade. A família começou a procurar e não o encontrou e o tempo foi passando.Vale lembrar que as pessoas não gostam muito de ir à polícia queixar-se de seus problemas, principalmente os mais humildes e preferem esperar.Assim fizeram os pais de Samuel.Esperar em vão. Passaram-se alguns anos e um dia ele apareceu.Foi uma festa grande de boas vindas,mas Samuel disse apenas que estiveram em São Paulo,trabalhou por e que retornaria para aquela cidade.Dias depois realmente ele viajou sem deixar endereço. Mais uma espera de alguns anos e nunca mais a família teve notícias de Samuel. Muito tempo depois o irmão mais novo soube que o mesmo estaria no Rio de Janeiro trabalhando em construção civil, conseguiu um endereço, escreveu e não obteve resposta. Talvez Samuel tenha tido família, ou tenha permanecido solteiro, tomando whisky, bebida que apreciava, entrando em boates da moda, porque sempre guardava dinheiro, talvez tenha morrido, afinal este é o destino certo de todos os seres vivos. Samuel nunca foi esquecido e com certeza não esqueceu dos seus, mas foi se distanciando no horizonte, sem olhar para trás e quando notou estava tão longe de todos os seus que não conseguia mais vê-los. Porque motivo uma pessoa resolve sumir, sem dar notícias a ninguém, por conta própria para buscar novos horizontes, aventuras, por mulher, por dinheiro, ou sabe-se lá quais motivos movem um homem, uma mulher. Há aqueles que passam a sofrer das faculdades mentais, não me parece ser o caso por Samuel era tinha com certeza uma “mente sana in corpore sano”.

Se morto,ao longe,deve ele zelar pelos seus irmãos, se vivo deles deve lembrar-se e a nostalgia o fará ver ao longe os pirilampos,o cantar das cigarras e o boitatá em chamas pelos campos do Rio Grande do Sul,quando ainda juntos brincavam, deve lembrar-se da comida caseira da mamãe, do pai trançando cordas de couro cru e do clássico BaGuá aos domingos.

drmoura
Enviado por drmoura em 10/01/2018
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