Rolando (outubro de 2017)

Rolando se chamava assim por conta de uma mania de seu pai por nomes da Idade Média. Não faltaram crianças que o molestassem por conta de seu nome. Em resposta às investidas dos outros meninos, ele explicava que seu nome era antigo, que era nome de gente muito importante do passado da Europa. Mas isso não adiantava.

Com alguma dificuldade, terminou o Ensino Médio se profissionalizando em hotelaria. Como parece que Deus faz as coisas com alguma justiça, retirando o nome engraçado Rolando era um homem muito bonito. Por conta do nome, desenvolveu o hábito de responder aos flertes de jovens bonitas, mas na hora de apresentar-se gaguejava.

Oito em cada dez jovens mulheres que se aproximavam dele saiam pela tangente pedindo desculpas. As outras duas estavam sempre de partida do hotel onde trabalhava. Ele era muito competente no que fazia, então não tinha dificuldades para manter-se. Mas lhe incomodava o fato de não conseguir levar adiante um relacionamento.

Uma manhã em que estava de plantão na portaria, recebeu uma mulher inacreditavelmente bonita. A pele uma seda, os olhos de safira, os cabelos castanhos caíam em cachos pelos ombros. Foi para Rolando paixão à primeira vista e, por isso, passou a acompanha-la diariamente com a desculpa de que poderia ser-lhe útil.

O motivo de avivarem sonhos em Rolando? O motivo para acreditar novamente no amor? Por que essa jovem? O nome da jovem, tão linda como ele, era bestial para uma jovem mulher. Ela se chamava senhorita Orestes. Então era, “Senhorita Orestes está bem acomodada”? “Senhorita Orestes necessita de alguma coisa”

Rolando não se apresentou formalmente à jovem mulher, mas fez de tudo para que lesse seu nome no crachá: “Gerente Rolando”. Teve a impressão no terceiro dia que ela de supetão deu-se conta do nome do rapaz. E isso soou amargo para ela, que demonstrou com a face compaixão com Rolando, sem dizer uma palavra.

A partir de então, a jovem que estava hospedada sozinha no hotel, não tirava os olhos de Rolando. Sentava-se no saguão, depois do café da manhã, buscando sempre cumprimentar (mesmo que à distância) a Rolando em sua base na portaria. Depois ia à piscina fazendo o máximo para dar voltas e passar ao lado da portaria.

Rolando sentiu-se cheio de si. Não duvidava mais de seus dotes físicos, uma vez que os limites que lhe impunham o nome haviam sido postos abaixo. Seu superior notou que Rolando parecia “contar as nuvens do céu”, desconcentrado. Seu comportamento rendera-lhe por fim uma advertência. Que se mantivesse com os pés no chão, ou fora!

Rolando não abriu mão de sua musa belíssima com nome de homem da Grécia clássica. Mas aprendeu a observá-la sem parecer abobado. Conservava o empenho no emprego conservando os pés no chão. E outro dia chegava em que a senhorita Orestes impunha sua rotina enquanto Rolando fazia o máximo para não a perder de vista.

Rolando não mais dormia como antes. Revirava-se na cama procurando descobrir alguma tramoia que pudesse aproxima-la de si. Teria de ser um artificio tal que não a assustasse, que não fugisse de Rolando. E mais voltas na cama até a alta madrugada quando era finalmente vencido pelo sono.

Mas, eis que chegara seu dia de folga. Finalmente uma oportunidade de conhecer Orestes. Em “roupas de civil”, um jeans novo e uma camisa branca aberta por botões à frente, fingiu-se interessado em uma revista do saguão do hotel. Rolando sentou-se de frente à moça e começou a folhear a revista.

Imediatamente, a moça encontrou seus olhos, que se levantaram dissimuladamente da página da revista. Ambos sorriram e se cumprimentaram com os olhos. A moça, que este dia parecia impaciente, dirigiu seu olhar para fora, em direção ao caminho da piscina. Rolando não compreendeu nada, mas voltou os olhos novamente para a revista.

Passados uns vinte minutos de muito nervosismo para Rolando, ele corajosamente rompeu o silêncio entre os dois. Observou que a moça estava sozinha naquele hotel, uma vez que sempre a via sozinha. A moça respondeu educada, mas suscintamente que esperava por um telefonema.

Ele viu que não teria outro momento para declarar-se à moça, e com bravura dirigiu-se a Orestes para saber mais sobre a moça. Começou falando como os dois tinham nomes incomuns, o que não é algo muito fácil na vida. Ela assentiu com a cabeça e abriu um sorriso sincero.

Ela emendou que, desde criança até os dias de hoje, ainda é difícil não encontrar alguém que se espante quando revela seu nome. Já havia pensado em trocá-lo, mas no final desistiu por tratar-se de um nome dado por sua falecida mãe para homenagear a um tio que havia sido muito importante na criação dela.

Rolando perguntou-lhe firmemente se não gostaria de dar uma volta pela cidade com ele, para visitar a praia e tomar alguns drinques exóticos. Poderiam tomar o ônibus que saía às dez horas e retornar no ônibus das cinco da tarde. Ele lhe explicou que, por conta de seu trabalho, embora de folga, teria que dormir no hotel.

A moça parecia desconfortável e ruborizada. Não sabia o que dizer. Mas, engatou em um discurso: “Não me leve a mal, mas embora solteira estou a caminho de um convento, onde hei de fazer meus votos”. E completou, “O telefonema que aguardo é o de um tio que me acompanhará até lá”. “Não fosse isso, sairia com você, sem dúvida”.

A senhorita Orestes levantou-se e se foi. Transtornado, Rolando perguntou-se a si mesmo se o fato de terem nomes chistosos não foi o que fez a moça esconder-se atrás dos muros de um convento enquanto ele escondeu-se atrás da portaria de um hotel, ambos se escondendo do mundo mesmo nos momentos de prazer e descontração.