O Gosto da Lua

Se arrastando para longe de um monte de terra, quase que morto, um homem de pele negra, olhos cinzas, cor da mesma terra em que lhe custava sair, e sorriso caloroso, tentava se recuperar da briga que acabara de ter com algumas estrelas que cruzaram sua órbita. "A sorte de conhecer

tais fontes de luz"- pensou ele.

Atravessou a rua e correu pela ladeira, se equilibrou, jogou o corpo por cima de um muro e, com certo esforço, chegou a um telhado que lhe parecia familiar. Como se fosse rotina, deitou-se sobre as telhas frias.

Se passava o seguinte cenário: nebulosas de todas as cores, estrelas sem importância, um vento refrescante e o cheiro de hortelã que trazia aconchego. O homem, respirando como se cada uma das suas 12 respirações por minuto fossem as últimas, olhou para a lua mais próxima de Júpiter e disparou a pergunta:

- Qual a resposta pra tudo?

As palavras jogadas ao vento quase nunca tinham respostas, mas desta vez, como quem já está cansada de ouvir a mesma pergunta, a Lua mais próxima olhou para o homem com um sorriso malicioso, já tinha a reposta na ponta da língua.

- 65 bpm - respondeu a Lua com uma careta.

- Hein...? - indagou o homem, mais confuso com a resposta que surpreso pela mesma.

- É a média de batimentos por minuto de uma pessoa.

- O que isso tem a ver?

- Que você está vivo - disse a Lua agora já séria.

- Não é uma opção. A gente nasce sabendo que amar é ser feliz... mas logo no primeiro amor você já perde o brilho, o gosto pelo carinho.

- Vocês humanos prometem amar para sempre, mas esquecem que o sempre não é um número, portanto, não tem validade. Se eu amasse diria: Vou te amar um segundo de cada vez até eu perder a noção do tempo.

- A questão não é amar, mas o sentido disso tudo.

- O sentido é sorrir... e às vezes chorar, e ai deixar as pessoas tentarem descobrir o porquê. O sentido é esconder seus segredos apenas para você, é gargalhar e se emocionar, é sonhar e focar apenas nos seus sonhos e quem se interessar por eles, você, provavelmente, subirá ao altar e dirá sim para esse alguém.

- É sentir os 65 bpm?

- Sim... é viver os 65 bpm do jeito mais normal que você puder.

A Lua voltou para sua nova eterna hibernação.

O homem, escondendo o segredo da vida pra si, voltou para casa agora gargalhando.

"Afinal, o normal nada mais é que 65 bpm, a resposta pra tudo, é ser o mais você a cada batimento e seguir a música na sua sintonia".

Doutora Frost
Enviado por Doutora Frost em 21/02/2018
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