Monólogo em dupla
Seguiam caminhando ela rua pouco movimentada. Os passos eram lentos, distraídos e inseguros. Quando sentavam-se permaneciam dispersos. Ainda assim o coração estava acelerado, a boca estava seca e escorria pela lombar um suor frio. Trabalharam, divertiram-se, amaram... viveram no modo automático. O sono, ao final do dia, não chegava. Os olhos ficaram vermelhos e perceberam que estavam presos em outro universo, em outra dimensão (paralisados até o sol nascer e retornaram, mais uma vez, ao modo automático. Noites em claro. O travesseiro abafava os soluços e enxugava as lágrimas. Foram ao banheiro, já que deviam se recompor, olharam para o espelho e viram um único reflexo. Um ser estilhaçado por guerras interiores: duas personas, dois sentimentos, um monólogo em dupla. Uma arma carregada com palavras, gatilhos em interrogações e um ser brutalmente assassinado, lentamente, em um espetáculo dramático que
iniciava com um monólogo duplo. Quando fecharam as cortinas, restaram apenas os dois, em uma luta eterna entre o bem e o mal.
"A vontade de superar uma emoção é apenas a vontade de outra emoção ou de várias outras" (Friedrich Nietzsche)