Alceu, o Vendedor de Livros.
Tinha um monza ano 1987 marrom, vestia roupas amarrotadas e pitava sem parar. Descabelado e esbaforido, vendia livros jurídicos nos fóruns e escritórios de advocacia do interior do Brasil. Seu nome era Alceu, o vendedor de livros. Interrompia audiências, fumava no cartório, brincava com todos e era tido como meio louco ou louco e meio. Não tinha família, filhos, sobrinhos. Não tinha ninguém e nada a não ser seu carro urrante, seus livros jurídicos e um pacote de maços de cigarros. Dormia no carro quando era noite e tinha sono, comia quando tinha fome e enchia a cara quando tinha sede. Não fazia questão de vender fiado (até dava o livro se o possível comprador "chorasse" demais!) e nem dava prazo para pagamento. Só precisava comer um pouco, abastecer seu carro, tocar uma punheta vez ou outra e pitar, pitar, pitar, pitar incessantemente.
Faleceu em meados de um ano esquecido pelo calendário, solitário como sempre, dentro de seu monza marrom, após pitar dois cigarros e comer um kibe com ovo no estacionamento do restaurante Bola Preta, nas proximidades de Bom Jesus de Goiás. Ninguém saqueou seus livros. Levaram apenas os cigarros e deixaram seu corpo morto lá, na frieza crua de uma vida sem sentido.