IRAQ - As lágrimas de dois Iraquianos


Os princípios de uma história e sua gente nasceram no Iraque nos primórdios das civilizações da Mesopotâmia surgindo os primeiros passos dos registros históricos com o nascimento da escrita, não há quem negue seja lá, o nascimento da primeira civilização do nosso mundo, a Suméria com localização geográfica nos terrenos férteis dos rios Tigre e Eufrates em meados de 3.100 a. C., com sua decadência atribulada ao desenvolvimento cultural, várias dinastias e raças foram absorvidas pela Babilônia e mais tarde pela Assíria. Sabe-se que a Bíblia remonta em seus livros históricos e lendas mesopotâmicas como o Gênesis da qual desfruta o primeiro paraíso territorial do homem como Édem ou Adem.

A frutificação bíblica do dilúvio universal, assim como a história de Jô em escrita cuneiforme está no Museu do Louvre ao laço primordial das expedições cientificas napoleônicas ao grande Oriente Médio. Sendo que os Caldeus estabeleceram no sul da Mesopotâmia traços marcantes sobre uma cultura naquelas populações entre Sumérios e Acádios, tomando em desvantagem as invasões ocasionadas pelos povos Assírios que logo foram se associando na acelerada civilização da escrita.

Como falei anteriormente, a grande Babilônia expandindo os seus potenciais de guerra na conquista ao Egito, empreenderam ao povo judeu o mais ardoroso Cativeiro da Babilônia descrito na Bíblia, daí afirmam alguns historiadores terem estes aprendido as diversas formas de linguagem e escrita, e por isso que boa parte das lendas mesopotâmicas estão inseridas na Bíblia Sagrada. 

Não se pode olvidar que foi neste período da civilização mesopotâmica que se criaram as leis escritas mais antiguíssimas do mundo – O Código de Hamurabi em versões de três línguas completamente diferente, baseando-se na ética, moral, costumes e impondo retaliações numa sociedade organizada na prevenção de atos presentes e futuros. É daí conhecida mundialmente a Lei de Talião, com formas e vários preceitos – “olho por olho, e dente por dente”, servindo de ancora a realidade jurídica daquela época. 

Finalizando, foi daí a crescente do maior desenvolvimento bélico do império babilônico transbordando as mais severas guerras com a sua última derrota pelos povos Persas, que reiniciou novos tempos e mudanças, inclusive a Bíblia Sagrada relata o registro da libertação dos judeus e o retorno à Palestina. 

Quem não se lembra da primeira Guerra do Golfo em 1991, quando soldados de 31 países abriram ofensiva contra o Iraque pelo fato do mesmo ter invadido o pequeno Kuwait, oportunidade em que o Governo iraquiano exigia dos credores diminuição dos juros de bilhões de marcos à época da guerra com o Irã, ou deixassem o seu país vender mais petróleo para gerar emprego aos seus milhares de jovens soldados. E neste passo, a economia iraquiana já insustentável, ainda mais com a negativa dos credores, impôs a invasão somente para enfraquecer uma reação na produção de petróleo dos países vizinhos, e por promessa de invasão recebera castigo da ONU com embargo militar e financeiro, além dos bombardeios impostas pelo bloco. 

O ditador Saddam, perdendo forças na guerra ocasionou a destruição de vários poços de petróleo no país vizinho, bem como atacou Israel, perdendo assim a guerra do Golfo e não pagando a dívida. Importante frisar, que o berço da humanidade, onde se encontra a ruína de Hatra conhecida como a Cidade do Sol constitui um dos monumentos mais antigos da Mesopotâmia, com vários legados culturais, os bombardeios ocasionaram a destruição desses monumentos que se encontram espalhados por todos os lados do velho Iraque, são ruínas, escultura de pedra assíria, palácios, estátuas e templos além dos sítios arqueológicos. 

Como se sabe, os bombardeios ininterruptos no Museu Nacional de Bagdá no centro da cidade foi alvo principal de ataques aéreos, assim como o palácio do rei Nabucodonozor do século 6 a. Cristo cujo local os pesquisadores em trabalho encontraram indícios dos Jardins Suspensos da Babilônia considerados uma das Sete Maravilhas do mundo antigo, a cidade natal do profeta Abraão – Ur, as Ruínas de Nínive considerada na história como o berço de toda a civilização mesopotâmica. Entre estas duas recentes guerras bestiais, os ataques norte-americanos são responsáveis pelos grandes estragos ao patrimônio como se fosse uma brincadeira de estilhaços atingindo a população indefesa. Ressalto aqui, que nenhum americano ou coligado havia resguardado os interesses na proteção da população e seus bens históricos, apesar de possuirem teconlogia de ponta,  havendo o único interesse, destruir o povo e o governo dos quais uma minoria faziam parte . Com tanta tecnologia inteligente não houve nestas duas guerras qualquer intenção em resguardar os valores que guarnecem os traços de uma geração passada ou poupar a vida dos civis.

Dando de presente aos saqueadores, ladrões, máfia de colecionadores, gangs e milícias vasculharam à vontade todos os bens patrimoniais do Iraque exterminando em boa parte a sua história constituída por séculos e séculos. 

Era março de 2003, o sul do Iraque estava sendo severamente bombardeado, cordilheiras de fumaças invadiam o céu da segunda maior cidade iraquiana lançando chamas, reunindo numa só voz as comunidades religiosas ligadas entre seus membros na ajuda recíproca de várias denominações como: a Ortodoxa Síria, Católica Síria, Ortodoxa Armênia, Evangélicas e Católicos Caldeus que não eram poupadas das tragédias e o povo nas ruas despedaçados numa carnificina sem fim.

O lastro da pobreza em Basra estendia-se num padrão nefasto localizado a 600 quilômetros de Bagdá, enquanto que os melhores níveis sociais da população, afastavam-se da cidade atravessando fronteiras, outros atacados e roubados na distante estrada do deserto.

Apesar da religiosidade plena em Deus, plantada em inúmeras mesquitas espalhadas por todos os lugares, o povo de Basra, ainda continua adorando o seu Deus e ele fielmente abençoando o seu povo pobre, alimentando incansavelmente pelas palavras do Senhor.

A guerra na frente sul, transformou-se numa das batalhas mais sangrentas pelo controle de Basra, bombardeios atravessavam a ponte Al-Zubeir pelas forças anglo-americanas num enfrentamento desde a invasão do Iraque.

As duas forças da coalizão compostas pelos americanos e britânicas, lançavam toneladas e toneladas de bombas e mísseis no preparo para uma batalha aberta e decisiva na cidade - casa por casa, iraquiano por iraquiano, demonstrando a superioridade armamentista contra centenas de carros e tanques velhos de combate sem uso.

Os ataques aéreos contra Basra, eram momentâneos e ininterruptos, podia se ouvir a mais de 150 quilômetros de distância as explosões, nem mesmo os alarmes não conseguiam soar seus avisos na prevenção da ofensiva. Por trás, estavam a Guarda Republicana do Iraque,  já enfraquecida era abalada por seqüência de ataques de mísseis de "cruzeiros", pondo em desvantagem as antigas baterias de defesa antiaérea que nada atingiam. As explosões atingiram alvos como mesquitas, quartéis, hoteís, casas, estradas e pontes, espalhando nuvens de fumaça no céu de Basra com enormes bolas de fogo crescendo por todos os lados, e a poeira dos edifícios destroçados lançavam-se entre as avenidas.

Já se passava mais de quatro dias de bombardeios, e o velho Iraque convivia com o mais ardoroso bombardeio pelas forças da coalizão, e naquele lugarejo da periferia de Basra era sombrio, o dia parecia noite, tremores, incêndios, gritos e gemidos se perpetuava nos lençóis da miséria e opressão.

O mundo todo ouvia, olhava as tragédias de uma guerra bestial com braços cruzados, nada faziam, apenas comentavam as injustiças ocasionadas. Todos os homens planetários sentiram medo da força da Coalizão às ameaças de George Busch caso houvesse intromissão. E a população desguarnecida refugiava-se naqueles casebres infortunados na escuridão do destino. Terríficos pássaros destruidores como os Aviões F-16, posicionavam-se em grande altitude cruzando o céu negro e despejando o vômito da morte com torpedos e mísseis que caíam aos pés dos sacrificados e inocentes povos de Basra.

As tempestades de projéteis lançados, sacudiam com estrondos os telhados a longa distância numa verdadeira escalada que parecia não ter fim. Era naquela casa de três cômodos que um míssil explodiu, instante em que se alastrava num raio de 500 metros, lançando objetos, corpos, derrubando por completo uma vila de casas rústicas da periferia de Basra. Podia-se contar mais de 140 bombas jogadas pelos aviões do inferno, e um mar de fogo, poeira e fumaça cobriam os rostos, as faces dos indefesos que fugiam pelas ruas. O desespero e a agonia eram marcados pelas luzes e chamas ardentes num metabolismo de combustão, eternizando na maior violência contra uma civilização sufocada por uma guerra, onde o inimigo não tinha forças e preparo às ofensivas brutais, mesmo não participando dos combates, os civis eram alvos de um vencedor a procura de mostrar aos demais países do globo, a objetividade do poderio bélico e invejável..

As bombas de fragmentação, é uma das armas mais cruéis utilizadas na guerra contra civis por conter mais de seiscentos e pequenos artefatos que se dispersam por uma imensa área, explodindo no momento do impacto e contaminado o local com outras explosões deixando centenas de feridos e mortos, assim foi em Basra.

Numa das vielas da periferia, a Cruz Vermelha e a Defesa Civil não atingiam seus objetivos, ambulâncias não circulavam devido aos incalculáveis estragos de grandes proporções nas ruas, avenidas e becos. Reinava os incêndios que se alastravam em paredões invencíveis com temperatura há mais de mil graus com restos humanos irreconhecíveis faziam a combustão do inferno em Basra.

Na casa em que caíra o míssil fora totalmente destruída pelo fogo e seus proprietários indefesos não tiveram tempo de fugir, passavam-se mais de oito horas com ventos violentos e negros que esfriavam as paredes dos escombros onde duas crianças que brincavam no quintal de bola de gude, esconderem-se dentro de um tambor de ferro por trás de um velho banheiro e lá permaneceram desmaiadas por várias horas.

Um menino chamado Abud com seis anos de idade, seu irmão Alli com cinco anos, abrem os olhos e acorda o irmão caçula, o choro se transporta nas pupilas decaindo no fundo do tambor, aos reclames Alli pergunta.

-Abud! Cadê mama e papa? Onde nós estamos?

Sem nada entender, Abud responde.

-Eu também não sei, parece que tudo pegou fogo, está quente. Ai!

-Abud, tô com medo, quero a mama!

-Vamos procurar? Mãe...! Mãe...! Pai...! Pai...!

As duas crianças saem do tambor molhadas de suor, e gritam por seus pais, não havendo respostas que consolasse naquele momento sombrio, olham os destroços e ruínas por todos os lados. Sem respostas, tudo devastado pelas bombas lançadas se dirigem aos destroços da velha residência enquanto o menino Alli reclama:

-Abud! To com fome e sede!

-Calma! Fique calmo! Vamos procurar por mamãe e papai.

Eles adentram nas ruínas e observam dois corpos queimados.

-Abud é mamãe e papai!

-Não é o papai e nem a mamãe, não seja tolo.

-É sim! Veja o anel dela no chão!

-Eu já lhe disse não é a mamãe e nem é o papai, aqui não é a nossa casa.

Alli não contém suas lágrimas, imediatamente Abud consola abraçando-o.

- Não chore! Seja homem de Alá, Alá não chora! Alá não tem tristeza!

-Aqui é a nossa casa, você tá mentindo pra mim! Veja o meu brinquedo queimado!

Os dois reconhecem o brinquedo e choram abraçados entre os destroços onde a dor e aflição compartilham no mesmo caminho no desespero da ingratidão humana, sem qualquer guarida, saem por uma estreita viela a procura de seus pais, de mãos dadas desviando das pedras transpassam o tempo nas folhagens amargas da tristeza de quem não conhecia as mazelas de uma guerra de perto.

Os garotos dois iraquianos utilizavam roupas que cobriam todo o corpo assemelhando a um vestido longo, expondo apenas o rosto e as mãos, passavam gritando por seus pais sem haver respostas enquanto que o pequeno Alli insiste:

-Abud! Quero beber, tô com fome!

-Calma, logo vamos encontrar no mercado mamãe e papai.

O irmão mais velho tenta acalmar a melancolia inocente vestida nos olhos, repentinamente, tropeça e fere o pé direito numa ponta de ferro, o sangue se espalha no solo quente e Alli socorre.

-Abud, não chore! Vem sentar aqui!

-Ai... Ai... Ai..., não posso está doendo demais. Ai...!

O guri de estatura menor carrega nos braços o irmão até próximo de um abrigo, preocupado em salvar Abud, rasga um pedaço de sua túnica na esperança de paralisar o sangue deixando vestígios nos passos que nem mesmo a mídia e os melhores jornais olvidaram de registrar tais fatos. Alli ainda insiste.

-Vamos procurar por mamãe!

-Não posso andar! Tá dolorido o meu pezinho!

-Eu te levo!

-Você não pode comigo!

-Eu posso te carregar de pedacinho em pedacinho ***(trecho –espaço)

O menor utilizando todas as forças leva o irmão mais velho naquela trajetória infeliz sem qualquer solução, instantes em que Abud comenta:

-Tudo está destruído, as pessoas estão mortas parece guerra, eu tenho medo. Onde será que está a mamãe?

-Não tenha medo! Alá é o nosso pai! Mamãe deve ter ido pra casa do tio Nagib em Mossul ou na casa do tio Salem em Bagdá.

As cenas horrendas aterrorizam as duas crianças que nunca presenciaram uma guerra, e de repente, soa um estrondo com vários disparos de metralhadores, desesperado Alli carrega Abud escondendo entre as ruínas de um prédio no bairro residencial de Basra, inconformado, diz ao irmão.

-Fique aí Abud! Vou vê o que tá acontecendo e logo trarei água.

O pequeno atravessa as ruas de Basra, momento em que o Jipe militar estaciona nas proximidades, assustado, Alli se esconde por trás de uma parede observando os passos dos militares que descem fortemente armados. O olhar atento do garoto em ver as cenas cruéis e desumanas daqueles que sobreviveram às bombas e mísseis. Um homem comum e sua muher saem da casa com as mãos na cabeça, implorando.

- Por favor não mate meu marido!

O soldado Steven Dale Green
com arma apontada, ordena:

-De joelhos e não se mexam. Bando de covardes! Entrem no quarto, bandos de idiotas. Cadê o teu Saddam e sua cúpula? Esconderam aonde?

-Moço! Eu não sei de nada. Por favor! Não nos faça nada.

Três moças filhas do casal alarmadas com as cenas de martírio, saem correndo do esconderijo e choram ao lado de seus pais que perdem a vida na porta da impiedade que não socorrem os prantos da paz. Não distante, se aproximam tres soldados que chutam os seus rostos, logo o rádio toca:

-OK! Sargento Robert da op 564 em Basra. A área está limpa, não há insurgentes e nem milícias, alguns ratos estão no porão, e vamos vasculhar a área.

-Entendido. Sd. James Barker
, aguarde as novas instruções para invasão na capital.

-Confirmado op 564.

A dor, a incerteza, a fúria, a intolerância e a ambição são atos perpetuados pelos vencedores de uma batalha no ultraje da vida que não se importa em ser humano. Desafiando o tempo, o Tenente Rick fala ao soldado Paul Cortez:

-Manda essas putas calarem a boca! Senão eu mato elas agora.

-Tenente, agora que começou a brincadeira, essas putas islâmicas precisam conhecer o sexo americano. Vou deixar as três peladas, eu nunca vi o corpo delas. Preciso conhecer e provar as delícias iraquianas.

O outro soldado Anthony Yribe, afirma:

-Vou matar a minha sede agora abrindo este alcorão. Que beleza! Depois agente manda elas se casarem no paraíso.

-Pega essa vagabunda pra ti Green, é gostosa e virgem.

Alli sem nada entender, ouve gritos e gemidos nas marcas de estupros que perfazem a nefasta história de militares em guerra, estampidos soam no esconderijo, as três moças iraquianas debruçadas na desgraça da sorte daqueles militares. E o tenente Rick ordena para colocarem várias bombas num raio de 200 metros, inclusive ao lado das mulheres para que terceiros não pudessem identificar os atos desumanos junto a ONU e terceiros interessados em divulgar.

A esperança de sobressair mais vidas, a luta pela existência do ser humana, e finalmente, a procura dos menores Abud e Alli, pequenos indefesos na busca insaciável de seus pais, são retratos que o mundo não conta, não retrata a perdição de tantas almas aprovadas por órgãos mundiais.

O homem é o universo cruel de si mesmo quando não planta o amor, escondendo-se na vingança as aspirações de viver ao seu modo. Por isso, a paz não vence e não pode reinar sozinha, depende de cada um de nós.

O homem é o universo cruel de si mesmo quando não planta o amor, escondendo-se na vingança as aspirações de viver ao seu modo. Por isso, a paz não vence e não pode reinar sozinha, depende de cada um de nós.

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ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 29/08/2007
Reeditado em 07/05/2009
Código do texto: T629848
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