REVOLUÇÃO MORAL

Em todas as ciências humanas, o sonho não representa um deslocamento espacial, antes simboliza uma procura de si mesmo no mundo conhecido dos fatos e no mundo inacessível das ideias.

O professor Érico, que era graduado em Ciências Econômicas, tendo lecionado a vida inteira no ensino superior, graduou-se também em História, iniciando o curso depois que teve o seu requerimento de aposentadoria deferido. Nessa situação, e dotado de um temperamento irrequieto, precisava de alguma ocupação para passar o tempo e, principalmente, sentir-se útil à sociedade como sempre fora até a concessão da aposentadoria. Estudo também é trabalho. Durante a adolescência, quando cursava o ensino médio, dava aulas particulares em casa de Matemática para os colegas de turma. Ganhava algum dinheiro com isso. O sentimento de inutilidade pode aflorar à consciência quando a pessoa aposentada não possui outra atividade além daquela que exercera na ativa por anos a fio. Como não tinha nenhuma ocupação produtiva para preencher o tempo que passava ocioso, decidiu voltar a estudar. Aluísio, o filho único da família Loligo, também era economista e estava com passagem marcada para viajar para a França, onde faria um curso de pós-graduação em Gestão Financeira na Universidade Panthéon-Sorbonne em Paris.

Sempre assíduo e pontual, aprendeu que o primeiro governo que reconheceu a independência do Brasil, proclamada em 1822, foi o governo norte-americano em 1824. O último foi o governo russo em 1831. Naquela época, os ingleses eram os principais investidores no Brasil, concentrando os seus recursos financeiros nas estradas de ferro e nos engenhos de açúcar. Aprendeu que a cafeicultura favoreceu o surgimento e o fortalecimento do setor bancário. Os ingleses abriram uma expressiva quantidade de instituições bancárias em terras brasileiras. A incipiente indústria nacional desenvolveu-se durante a década de 1880. O tempo passou e o parque industrial ampliou-se. Construída entre os anos de 1942 e 1947, a Companhia Siderúrgica Nacional é uma empresa de suma importância para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional, gerando trabalho e renda para muitas famílias brasileiras. Um motivo de orgulho para o povo brasileiro até os dias de hoje.

Como tudo na vida, o Brasil tem dois lados opostos: o positivo e o negativo. Do ponto de vista positivo, existem cidades no litoral brasileiro incrivelmente cativantes pela beleza natural para as pessoas que pretendem descansar da agitação dos grandes centros urbanos, onde podem banhar-se em águas cristalinas e bronzear-se sob o Sol radiante. Há praias quase desertas, repletas de coqueiros e com uma extensa faixa de areia, ideal para caminhada e jogo de frescobol, e também muitas pousadas para hospedar os visitantes brasileiros e estrangeiros. O preço da diária costuma ser condizente com o conforto das acomodações charmosas e acolhedoras, capazes de tornar inesquecível a estadia dos hóspedes. Muitas pessoas costumam visitar esses lugares nos finais de semana de céu aberto, ou no gozo de férias, locais que mais parecem a projeção mental da imaginação criativa de um exímio artista plástico do que propriamente ambientes reais.

Do ponto de vista negativo, o professor Inácio comentou em sala de aula que a corrupção política não é uma novidade no cenário político nacional, é uma triste realidade histórica da forma de governo federativa e presidencialista que remonta à proclamação da República ocorrida em 1889. Na década de 2010, aconteceu o maior escândalo de corrupção da História do Brasil, seguido de uma ampla repercussão mundial promovida pelos meios de comunicação social. Por conseguinte, atualmente constitui uma necessidade impostergável para o orgulho patriótico ferido pela improbidade administrativa a recuperação e a valorização moral do Brasil no cenário político internacional, na medida em que quanto mais a corrupção sistêmica for reprimida e punida pelos operadores da lei, menos achaques e humilhações estará sujeito o povo brasileiro na condição de vítima indefesa tanto do marketing político quanto do marketing eleitoral, ambos pensados e implementados por políticos e empresários descompromissados com o interesse público e a soberania nacional prevista na Constituição Federal, aproveitando-se da confiança, ingenuidade e desinformação do eleitorado. Se o eleitor vota no candidato correto e este não se elege, o candidato errado eleito o ensinará mais tarde como dói no organismo social a escolha desastrosa e equivocada. Com o tempo e a gradual repressão da corrupção praticada por segmentos do meio político mancomunados com alguns setores empresariais oportunistas, gananciosos e desonestos, espera-se restabelecer o esquecido conceito sociológico de Política, que é o ramo das Ciências Sociais que estuda a governança de um Estado ou Nação, além de ser também uma arte de negociação para compatibilizar interesses conflitantes, e a noção da importância suprema da participação dos eleitores na apreciação, por meio de veredito popular, das propostas apresentadas pelos parlamentares que visem ao aprimoramento, pela via democrática, das relações entre o Estado e a sociedade para a construção de uma Nação escolada, politizada e próspera. Com certeza, é um sonho difícil de ser realizado, mas não impossível. Basta de haja vontade política, capacidade intelectual e aporte financeiro. A corrupção público-privada é o sangue da estrela vermelha que brilha no céu político brasileiro do século XXI. A corrupção do sistema político assemelha-se muito com a prostituição. Nesta, vende-se o corpo. Naquela, a consciência moral. “Eu achava que a política fosse a segunda profissão mais antiga do mundo. Hoje vejo que ela se parece muito com a primeira", declarou com convicção à imprensa o ex-presidente norte-americano Ronald Reagan.

Certa vez, disse o professor Inácio aos alunos que nenhuma outra crise econômica acarretou tantos malefícios aos cidadãos como a atual. A presença de investidores e empresas internacionais no país depende da criação e manutenção de um ambiente político que transmita um clima de confiança e segurança jurídica, em consonância com os objetivos constitucionais em vigor.

Antes de encerrar a aula, o mestre comentou com os alunos que um estudo realizado pela Organização das Nações Unidas indica que o dinheiro desviado do erário brasileiro permitiria maiores investimentos em educação, saúde e segurança pública. A corrupção mata. Mata ao tirar dinheiro das escolas, dos hospitais e das polícias.

— Isso gera um custo social de grande monta para a sociedade e, em especial, para as camadas mais pobres e vulneráveis — acrescentou Érico ao comentário de professor Inácio.

— A penúria impera nos serviços públicos, inclusive naqueles considerados essenciais por lei, que são prestados indistintamente à população. Cada recurso financeiro desviado da sua finalidade social pode significar uma evasão escolar, uma vida perdida ou um policial assassinado pelo crime organizado. A queda da taxa de inflação contribuiu para a alavancagem das vendas no comércio varejista, mas algumas vezes a criminalidade desenfreada leva ao fechamento das portas dos estabelecimentos comerciais em situações de conflito armado. Até o mês de agosto de 2017, foram assassinados exatamente cem policiais fluminenses. Assim caminha a Cidade Maravilhosa, o coração do Brasil, principalmente na zona suburbana. Na próxima aula falarei sobre o impacto dos roubos de cargas no mercado consumidor — finalizou o mestre com um ar desolado no semblante enquanto fechava o livro que consultara no transcorrer da aula. Apagou o que escrevera no quadro negro, sentou-se à mesa e fez a chamada nominal dos alunos.

No dia seguinte, o professor abriu a porta e entrou na sala de aula com um ar sombrio nas feições enrugadas pelo tempo.

— Todo mundo anda tenso nesses dias de incerteza.

No silêncio carregado de curiosidade, a turma mantinha a atenção voltada para a explanação. No encerramento da aula, o mestre lançou um olhar de desalento na turma.

— Desde a noite dos tempos, a sociedade convive com a criminalidade, como é o caso do roubo de cargas. A História Geral está repleta de episódios de ódio e indiferença e, ao que parece, essa realidade nunca vai mudar. Talvez a mudança ocorra em vocês mesmos, se cultivarem no campo mental pensamentos positivos que frutifiquem a paz e a felicidade de quantos lhes conhecerem pelos caminhos que ainda haverão de palmilhar na vida.

É preciso surgir das cinzas da crise institucional vigente uma nova liderança política que promova uma revolução moral em favor da cultura da honestidade, com o foco direcionado para a valorização da probidade administrativa e a repressão efetiva, eficiente e eficaz da corrupção público-privada sistêmica e socialmente lesiva, responsável pelo receio do capital internacional em investir recursos no mercado produtor de bens e serviços que poderiam gerar emprego e renda para a classe economicamente ativa do povo brasileiro e crescimento da necessária arrecadação tributária a fim de custear as ações governamentais nas áreas sociais ainda incapazes de satisfazer plenamente a demanda popular pelos serviços públicos essenciais, de cuja qualidade depende a expectativa de vida do cidadão.

Carlos Henrique Pereira Maia
Enviado por Carlos Henrique Pereira Maia em 08/04/2018
Código do texto: T6302906
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