Inesquecível Carrossel

Era grande o movimento de gente que chegava para a festa da padroeira . A cidade já estava muito alegre e até o sino da igreja parecia musicado e mais festivo. As crianças corriam pra cima e pra baixo; pra lá e pra cá, alegrando a todos.

Um velho caminhão pára no centro da praça e dele desce um homem gorducho, carregando algumas ferramentas. A criançada, cheia de curiosidades, cerca o caminhão e tão logo se vai embora. Apenas uma delas ficou de plantão: o Chiquinho.

- Moço! O que está fazendo?

O homem, de joelhos no chão, parou de cavar. Enxugou o suor da testa com a costa da mão, encostou a cabeça no cabo da cavadeira e, olhando para o menino, calmamente lhe respondeu:

- Estou cavando um buraco!

- Pra quê? Pra quê você quer esse buraco? - Insistiu o garoto.

- Para plantar um brinquedo. - Respondeu-lhe com um largo sorriso e voltou a cavar.

- O que é que tem em cima desse caminhão, moço?

- Tem um brinquedo! Um lindo carrossel!

O menino ficou a se perguntar: - como será um carrossel? - E com um olhar inquieto começou a vistoriar aquele caminhão enorme, coberto com uma lona amarela; parado na praça; bem na frente da sua casa. Ele via aquele caminhão como se fosse um brinquedo gigante e não parava de alisá-lo e de se olhar refletido na pintura da boléia. Tudo lhe era novidade. E enquanto o homem cavava buracos na praça para erguer o carrossel, o menino fazia-lhe companhia e embaraçosas perguntas.

Suas curiosidades e a vontade de brincar no carrossel, eram tantas, que Chiquinho passou a desobedecer à sua própria mãe.

- Chiquinho! Oou Chiquinho! Eu vou te bater, entra! - Ela gritava, a todo instante, para que o menino parasse de amolar ao homem e voltasse para casa. Mas ele dava pouca importância às ameaças de uma surra, pois o que mais lhe preocupava era ver o carrossel e nele poder brincar.

- Moço! Como é o carrossel?

- É grande! Ele tem luzes, cavalos, leões e elefantes. Você vai brincar nele? - Questionou-lhe o gorducho enquanto furiosamente arremessava a cavadeira no buraco.

O menino fez cara de tristeza e aquietou-se. Ficou olhando para os cabelos esbranquiçados da barba do gorducho. Por pouco não lhe veio uma lágrima.

- Não! Não tenho dinheiro. Mamãe não tem dinheiro. Lá em casa ninguém tem dinheiro. - Disse e depois calou-se. Após um curto silencio o gorducho lhe consolou dizendo: - dinheiro você arranja. É fácil! Muito fácil. É só pedir.

A noite não demorou e as luzes do carrossel piscavam dentro de seus olhos como se fossem estrelas. Muitas fantasias corriam em sua mente, mas sua felicidade era nula: todas as crianças do lugar brincavam nos cavalos, leões e elefantes, menos ele, que apenas a tudo assistia correndo em volta do carrossel.

- Moço me dê uma moeda! Por favor, moço, me dê um dinheiro!

A resposta era-lhe sempre a mesma: - não.

- Moço deixa-me entrar! - E o bilheteiro dizia-lhe categórico: - não.

Aquele “não”, o deixava triste e magoado. Chiquinho percebia claramente que o caminhão iria embora e nunca brincaria num carrossel.

A festa acabou e todos se foram.

O homem desmontou o brinquedo e o cobriu com a mesma lona sobre o velho caminhão. Depois sumiu na curva da estrada, deixando para Chiquinho apenas o som de sua buzina como única recordação.

O menino voltou para casa e chorou.

José Pedreira da Cruz
Enviado por José Pedreira da Cruz em 24/10/2005
Reeditado em 17/10/2021
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