ONDE HAVIA PARAÍSO

Havia um aglomerado de pessoas esperando numa fila indiana, comprida, mal-ajeitada.

Dois garotinhos, que estavam no final daquela renque, tentavam olhar o que acontecia logo à frente, porém, era difícil, havia murmúrio, inquietação.

Eles esperaram por dois dias.

Depois daquele tempo, logo atrás de eles, havia uma fileira de pessoas, novamente, até onde suas vistas pudessem alcançar. Eles eram os primeiros, e em destaque, um grande portão dourado, alto, e dois sentinelas. Estes, entregavam chaves, mas antes, faziam perguntas que curiosamente ninguém conseguia ouvir, senão a pessoa que era questionada.

O garotinho mais velho se aproximou do portão e o sentinela indagou: "onde encontra-se o paraíso?" Ele pensou por um tempinho na resposta, e disse, sem hesitação: "aqui!" O sentinela lhe entregou a chave e pediu para que abrissem o portão. Ele adentrou-se.

O segundo garotinho, um pouco mais novo que o primeiro, se aproximou. O sentinela fez a mesma pergunta, e ele respondeu rapidamente: "Na verdade, sinto o paraíso, mas não sei onde ele está". O sentinela lhe entregou a chave, sorrindo, e ordenou que abrissem os portões. Dentro, o garoto percebeu, através das frestas das grades do portão, que o seu amigo estava no final da fila, de novo. Ele ficou encucado com aquilo, mas compreensivo. O garoto olhou para a chave em suas mãos, percebendo que havia uma fechadura em seu peito, em direção ao coração, e a abriu. Em seu interior, percebeu uma luz, harmônica, que lhe acalmava, e algo que definiu como: infinito paraíso absoluto.

C.M. Novaes - 11/04/2018