Helena

Helena era uma criança como qualquer outra e, como qualquer outra criança, era diferente. Certa vez, José Dias a perguntara: o que você quer ser quando crescer?

- Eu já sou, disse ela.

Não era uma resposta que se poderia esperar de uma criança. Talvez, fosse o “esperar” a causa do espanto, caro leitor. Dirá então que alguém a teria dito o mesmo, sendo-lhe familiar reproduzir o que fazem os adultos. Dirá que a mesma pergunta lhe fora ofertada anteriormente e, portanto, o que foi dito, seria fruto de uma causa muito bem pensada.

Por favor, não subestime a sabedoria das crianças. É de nosso feitio planejar o futuro, não estando ele ao nosso controle nem ao nosso alcance. Assim como você, presumo, quiseram que Helena fosse tantas coisas. Não quiseram-na, pois, criança!?

Os Medeiros diziam que ela daria uma boa médica, pois era cirurgicamente habilidosa com as mãos. Dolores, discordava:

- Vejam como ela presta a atenção aos sons. Ah! Nossa pequena musicista está crescendo. Tia Cristina, no entanto, tinha outra opinião:

- Dançarina. Meu deus! Meu Deus! Olhem esses pezinhos, exclamava.

Numa coisa, todos estavam certos. A imaginação de Helena era farta, por isso, poderia ser o que quisesse. É que mergulhado em sua própria miséria, infeliz leitor, te esquecestes disso.

Não avalie os outros por suas pessoais frustrações. Porque disseram-lhe que acreditar não seria o suficiente? Ouse acreditar que pode ou passará o resto da vida fazendo, o mesmo que, provavelmente, o faz agora. Não o culpo por isso!

Helena era diferente! Não tinha planos, tinha sonhos. Se um dia tiveres a oportunidade de fazê-lo, pergunte a um engenheiro sobre os seus planos. Ele os porá no papel, lógica e metricamente calculados. Apto a convencer quem que seja sobre o êxito de sua busca. Dirás então à eventual ruína, porque os seus planos não deram certo? E assim, como houvera sido desde o princípio, ele exibirá as suas planilhas sabedor do erro tão óbvio que lhe escara à expertise. Apto a convencer quem que seja que tivera feito da amarga experiência o seu melhor aprendizado.

Os sonhos, contudo, não cabem em míseros pedaços de papel. Logo, se desejardes ver a prova, ouvirás de Helena o mesmo que me fora dito:

- Se tu tivesses olhado em meus olhos terias visto algo muito além de córnea, pupilas e lágrimas.

Nem terias sequer me perguntado sobre o que serei. Curioso, que sei, há de perguntar, também, porquanto lhe pareça apropriado, porque os sonhos de Helena não deram certo. Assim, a grosso modo ouvirás:

- O que lhe faz pensar que os meus sonhos não deram certo?

- Ora, Helena, simplesmente porque eles não aconteceram da mesma forma que tu havias me contado.

- Que há de errado nisso, José? Sabia que existem outros sonhadores além de mim? Acha que seria justo sacrificar os seus sonhos em troca dos meus?

Pobre homem! A vida é assim. Alguns querem comprar uma casa. Outros, preferem um lar. Alguns procuram trabalho para ganhar dinheiro. Outros procuram o amor, pois quando o houverem encontrado, nada, absolutamente nada lhes faltará.

Poeta Curitibano
Enviado por Poeta Curitibano em 22/05/2018
Código do texto: T6343854
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