Morena
A noite estava nublada dentro dele. No fundo do bar, tocava uma triste melodia, que combinava com o brilho úmido dos olhos.
O corpo embalava-se com a música lenta, mas não conseguia ninar a alma, que de tão cansada e fustigada, tornara-se insone.
Olhava a porta de saída, acreditando ser a hora de partir. Coração fechado nunca encontra esperança. E ao olhar novamente a porta por onde partiria, estremeceu, ao deparar-se com a mulher que acabava de chegar.
Usava um vermelho e justo vestido que delineava seu esbelto e lindo corpo, e deixava seus ombros nus, e uma sandália de saltos altos, de poucas tiras vermelhas, onde apareciam os pequenos pés de unhas vermelhas.
Ao conseguir levantar o rosto, deparou-se com uma linda morena de verdes olhos, boca carnuda e saborosa, pintada de carmim e um longo, liso e sedoso cabelo negro, que lhe caía até o meio das costas.
O sorriso que ela lhe deu, aplacou as nuvens que apagavam o coração, trazendo a lua dos iluminados e as estrelas de sagitário, para este machucado céu de viver.
Seria capaz de adentrar as profundezas da magnitude sensual da morena, matá-la e suicidar-se após muito amor profano.
Provocar o orvalho em cascata, ao toque da carne, nos gestos pecaminosos, junto das vozes roucas, içá-la ao paraíso, queimando-se no ardor do inferno viril.
Seria capaz de mostrar seus encantos, guardados a tempestade das perdidas almas e, assim, prendê-la na liberdade de querer voltar e novamente, outra vez, repetidamente, novamente...
Seria capaz do que seria mais importante, para todas as estrelas e luas do universo: sorrir de novo, para uma verdadeira mulher.
Marcelo Bello de Oliveira
Direitos Autorais Reservados®