LITERATURA DANDO "OLÉ"/ ESPANHA

1---LAZARILLO - "A vida de Lazarillo de Tormes e de suas fortunas e adversidades": título muito comprido. Autor desconhecido. Tem lógica: autor anônimo grralmente significa reunião de fragmentos de 'muitos autores' juntos e misturados. Primeira edição em Burgos, provavelmente de Antuérpia (Bélgica), 1553 ou 54 (?), composta antes do Concílio de Trento, visto que a dr Alcalá, no ano seguinte, se diz "nuevamente impresa, corrijida". Em todo caso, prováveis autores Diego Hurtado de Mendoza, frei Juan de Ortega ou Sebastián de Horozco (há um Lazarillo em seu "Cancioneiro" = Espanha meados do século XVI, Renascimento, "Século de "Ouro", esplendor máximo, humanismo altamente divulgado... Nas palavras de OTTO MARIA CARPEAUX, crítico austrio-brasílico, "primeiro romsnce da literatura (espanhola, e) universal", LAZARILLO, novela picaresca, realista e humana, de ironia e paródia, humor satírico, ao mesmo tempo amargo, de desilusões e desenganos, onde personagem socialmente 'marginal', filho da baixa "nobreza" (provavemente feio, sujo, religioso, porém muito simpático, falso, egoísta, sem preocupação de honra) é o protagonista anti-herói, que não aceita totalmente a sociedade nem consegue alterá-la. Personagem pícaro nasce nas pequenas fábulas francesas, "fabliaux" - pequeno malicioso, heroí com alguns defeitos sem muita importância; busca de elementos populares, com provérbios e refrões. ----- A palavra 'pícaro' significa 'tipo de pessoa descarada, travessa e de mau viver, aventureiro, epicurista, que figura em obras magistrais da literatura espanhola'; relação possível com o nome geográfico 'Picardia' e derivado 'picardo', que seria o soldado aventureiro da região famosa pelas muitas guerras. Acabou guerra, para quê soldado? Na verdade, coitado! Pícaro, lutador de uma classe sofrida: "herói" nada ideal que reage ou nomínimo tenta reagir. Ironia - nenhum dos ideais e valores aristocráticos cavalheirescos. A fome o persegue, assim como a dependência a seus senhores. Por trás da figura dele, narrativa em primeira pessoa (autobiografia de um Lázaro narrador mais maduro), tremenda crítica social, entre pessimismo e riso. Censura e expurgo da Inquisição por certa imoralidade e anticlericalismo. Órfão de pai e mãe, amante que rouba para manter a casa. Triste destino! Em sucessão cronológica de incidentes, galeria de retratos, personagens da mais baixa sociedade espanhola renascentista: criado de um cego tirano; coroinha de um padre avaro; servo de um escudeiro ainda mais faminto que ele; depois casa (castigo?!) e vira um Toledo pregoeiro comercial da Justiça. ----- Em 1555, uma "Segunda parte..." e depois outras em 1617 e 1620; tradução francesa em 1615, italiana em 1635 e alemã em 1636, depois a inglesa e a russa; em português, ao que se sabe, somente em 1939. De todo modo, a divertida leitura da vida. Adaptações desde o século XVII na França, 'descendentes' em Gil Blas, de Lesage, Jacques o fatalista, de Diderot, Os infortúnios da virtude, do Marquês de Sade; na Inglaterra, de Daniel Defoe, Tom Jones, de Fielding... e no Brasil, embora não pareça à primeira vista, Memória de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.

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"Lazarillo, o berço do herói moderno", de Bella Jozef -- "Lazarillo: um 'pícaro' critica a vida" - Rio, jornal O GLOBO, 17-24/3/86.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 03/06/2018
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