O nome dela é Insanidade

Estamos enfrentando nossa primeira crise. Um dia ia ter que bater a porta e dizer uns palavrões. Mas ela não olhou pra trás pra ver que eu tava quase sem ar. Saiu sem documentos, nenhum, conferi cada cantinho pra ver se voltava mesmo, um dia. Fiquei olhando a poeirinha que os passos furiosos dela levantaram na sujeira do lugar, tudo que nos unia até ali era aquela poeirinha que ia se espaçando e sumindo. Pensei que depois de tantos tragos ia ser fácil pegar as chaves do carro e sair por aí num foda-se dedicado a ela. O espelho ainda quebrado. A madrugada dura o suficiente pra você conseguir se matar sem que suje o sapato ninguém, o que você pode conseguir em cinco minutos ou nunca terminar durante uma vida inteira. Isso acontece sempre do mesmo jeito sem que minhas mãos consigam se esconder dentro do bolso. Podia subir até o décimo terceiro andar e me jogar contra o asfalto esburacado. Ela ia segurar minha perna pra que eu morra aos poucos, não ia me deixar morrer só pra ficar dividindo dos meus tragos e rindo das minhas necroses. Essa depência têm sido o mais dificil, ela sabe disso e não me deixa em paz. A poeirinha já sumiu mas ela tá por perto esperando eu colocar a cabeça no travesseiro. Daí ela entra pela minha boca e fode com tudo que ainda restou aqui dentro. Cretina.

Tava tudo decidido. Antes de nos conhecermos era mais fácil abrir os olhos. Chegou de vermelho. Tinha meu nome escarificado por todo o corpo. Sempre foi a mais linda. De seus lábios saíram todas as palavras certas pra que eu pudesse amá-la. E a poeira que deixa na imundice do piso é que nos une, pois sei que ela sempre volta. Ela nunca vai me deixar. A odeio por isso.

Meus sentidos se rendem a seu vestido na sede por suas formas divinamente contornadas. Luto contra minha compaixão pra não sucumbir aos seus fetiches.

Entre nós existe algo desconchavado. E sempre terminamos num trago obsequioso.

A intimidade com seus demônios é capaz de prolongar seu martírio sem que sua dose embriague seus passos. Uma grande merda essa intimidade.

Tô me sentindo uma escrota do caralho por conta dessa cara inchada e desses lençóis todos manchados. A madrugada ainda vai durar mil horas. Ela volta assim que perceber minha parcimónia.

A verosimilhança entre os dias faz crescer minha admiração por ela. Mas a odeio por saber presente essa minha dependência. Nunca vai embora e me acostumei com isso. Espero a mudrugada cessar fogo e dou vez a mim mesma. "A paixão é isso, meu bem". E ela sabia disso quando resolveu se apresentar. Um dia eu limpo o piso e evito que essa poeira levante com minhas angústias. Ela não vai conseguir voltar e finalmente vou me ver livre dessa compulsão estúpida e poder parar de escrever...

"Adeus minha querida!"

Klaus
Enviado por Klaus em 03/09/2007
Código do texto: T636295
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