Crime de domingo

- Lá vem a boca de fossa.

- Ave, mãinha KKK, já lavei. Bença?

- Bençoe, café tá na mesa.

Samona saiu e voltou mais o comer. Sentou-se falando da noite passada: Bira tinha broxado.

- Um pau grande, mãinha, mas molenga.

Assistiam ao preço da arroba no Globo Rural quando aconteceu.

PÁ-PÁ-PÁ-PÁ-PÁ

- Uma hora dessa? Quem?

- Fala baixo!

Nalva botou a TV no mudo e desceu das chinelas. Foi pro portão com o andar regulado. Encarou o olho mágico. PÁ-PÁ-PÁ. Virou-se arregalada pra Samona. Fez mimicas de cala boca e de faca cortando goela. Voltou molhadinha pra sala, aos sussurros:

- Não fala na-da, desliga isso, são eles!

- ???

- Testemunhas de jeová.

No bole-bole o controle escapuliu da mão de Samona. PÁ-PÁ-PÁ. Mãe e filha se atracaram:

- E agora?

Nalva correu do abraço pro celular. Um nove zero. PÁ-PÁ-PÁ.

- Central de polícia, em que posso ajudar?

- Reféns, moço, eu e minha filha tamo feita refém.

- Onde a senhora se encontra?

- No quarto.

- A senhora está sozinha?

PÁ-PÁ-PÁ

- Eu e minha filha, eles tão lá fora.

- Eles estão em quanto?

- Quatro, três homens, uma mulher.

- Ok, peço que a senhora mantenha a calma e me passe seu endereço.

- Rua do Cajueiro, 31, Cabedelo, de frente pro AA.

Os policiais chegaram à casa 10 minutos depois. Evacuaram a rua e empunharam megafone: que as reféns fossem entregues, a casa tava cercada. Na mesma hora Nalva saiu agarrada mais a filha. Foram direto pro SAMU receber os primeiros cuidados.