A Morte da Tartaruguinha

Gilmarzinho chorava copiosamente.

Alfredo, sua tartaruga de estimação, tinha acabado de ser encontrado desfalecido no quintal, a cabecinha pendendo para fora do casco igual maria-mole.

- Não fica assim não, meu filho - consolava Gilberto, seu pai.

- M... m... mas papai... ele era meu amiguinho, e agora eu nunca mais vou poder brincar com ele - balbuciou Gilmarzinho, e as lágrimas continuavam a escorrer.

- Meu filhinho... é muito triste isso que aconteceu com o Alfredo, mas veja pelo lado bom: ele agora está no Céu das Tartaruguinhas!

Por um instante, instigado pela curiosidade, Gilmarzinho engole o choro.

- Isso existe?

- Claro que existe, meu filho! E digo mais, onde ele está agora, ele é muito mais feliz! Tem vários amiguinhos lá brincando com ele, e ele se diverte muito!

- MAS ELE NÃO ESTÁ AQUI COMIGO! - berra Gilmarzinho, e tome choro.

- Calma, meu filho, calma... Vamos fazer o seguinte, sabe aquele boneco do Batman que você está a fim e ia ter que esperar até o seu aniversário pra ganhar? Pois bem: amanhã mesmo vamos na loja e eu compro ele pra você! - o choro cessa por alguns instantes.

- Só o Batman?

A demora na resposta de Gilberto faz com que uma careta (daquelas pré choro) comece a tomar forma na cara de Gilmarzinho, e ele diz rápido: - Não, claro que não! Pode escolher mais UM. Mas só mais um, pro seu Batman não ficar sozinho.

- Superman! - surge um sorriso no rosto de Gilmarzinho. - Que legal, eles são amigos e podem fazer qualquer coisa juntos, igual eu e o Alfredo quando... - a lembrança faz com que o choro recomece.

- Filho, filho, filho... Não chora mais não! Vamos fazer assim, além dos bonecos, vamos fazer uma festa-velório pro Alfredo, que tal?

- Festa-velório?

- Sim! Nós pedimos uma pizza e enterramos ele no jardim!

- Pizza de novo?!?!?! Não pode ser cachorro-quente?

- Pode, Gilmarzinho. Você manda!

- Posso chamar meus amiguinhos pro velório? Eles gostam de cachorro-quente!

- Pode sim.

- Que legal! Vou chamar o Guilherme, o Torto, a Amandinha, o Zé Luiz, o Jaime e a Miranda! Ah... o Jaime eu não vou chamar não, ele tem mau hálito, parece que comeu bosta...

- Pode chamar quem você quiser! Eu vou fazer o cachorro-quente mais gostoso que vocês já comeram nas suas vidas!

- Com purê de batata e batatinha palha?

- Com purê de batata, batatinha palha e tudo o mais!

- Vai ter refrigerante também?

- Claro! E quer saber mais? Depois do cachorro-quente, ainda vou levar vocês pra tomar um sorvete, e depois vamos no cinema!

- Papai, eu te amo!

Eles se abraçam. É quando Alfredo, que jazia de barriguinha para cima numa mesa de centro em frente a eles, abre os olhos e começa a sacudir as perninhas. Pai e filho se entreolham perplexos ao perceber o movimento rápido dos pequenos membros do réptil.

Gilmarzinho dá um salto do sofá e, empunhando seu chinelo, parte para cima de Alfredo:

- MATA ELE, MATA ELE... MATA!

FIM