Conto de Copa 1: A mascote Gilvaneide
Há oito meses Rosalva assistia à chance de levar a filha pra Rússia: tavam atrás de uma criançada pra servir de mascote na Copa. Chamou logo Gilvaneide.
— Ô, Gil! Vem cá, nêga.
...
— Hum.
— Quer ir pra Rússia entrar mais Neymar no jogo?
— Quando???
— Mamãe inda vai fazer a inscrição, a McDonau que vai levar, torce aí.
Três meses depois e o resultado: Gilvaneide Leite Rosa entre os 30 nomes escolhidos. Quatro dias na Rússia, com um responsável, passagem, hotel, tudo pago. O bairro de Camalaú tinha a boyzinha mais famosa da cidade. Vô Patrocínio chega babava na Praça do Pau Mole: a netinha ia entrar com a seleção, com Neymar!
Mãe e filha viajaram três dias antes da abertura da Copa. Foram bem recebidas no país, translado em van, quarto no terceiro andar. Só deixaram o hotel pros ensaios da cerimônia.
— Estejam sempre sorrindo, ok, porque a câmera vai focar em vocês na hora do hino — dizia a produtora em três línguas.
No fim do ensaio Rosalva colou na mulher:
— Minha menina é doida pelo Neymar, tem como a senhora colocar ela mais ele?
— Mas ninguém aqui vai entrar com o Brasil, essa turma foi sorteada pros jogos de amanhã e sexta. Como ela se chama?
— Gilvaneide.
A produtora folheou a lista: — Gi, Gi... Vai entrar com a Arábia Saudita no jogo de abertura.
Rosalva bateu embaixadinha com o queixo, fez carreira pra apagar as amostrações no Facebook. Seu Patrocínio quando soube teve cólicas:
— As picanhas tudo comprada, meu deus!
A novinha só deixou de chorar no dia do jogo, onde seguiu pro estádio fechada em si. Entrou em campo com o atacante Mohammad Al-Sahlawi. Quando se viu no telão, Gil sacou a boca: deu língua pra 3 bilhões de pessoas.