A SOLUÇÃO FINAL

Dedicatória

À Santíssima Trindade.

À Nossa Senhora, Mãe do Salvador.

Este livro é dedicado a todas as pessoas que amo nesta vida.

Aproveito para homenagear homens e mulheres que fizeram e fazem a história de Sergipe, deste país e do mundo, a exemplo de Osman da Silva Buarque e José Nabuco Couto (meus avôs), Tobias Barreto, o poeta e diplomata Vinícius de Moraes, Zé Peixe, Carlinhos Brown, Mahatma Gandhi, Anderson Silva, Chico Anysio, Antonio Manoel Carvalho Neto, Gregório de Matos, Abraham Lincoln, Papa João Paulo II, Vladimir Souza Carvalho, Irmã Dulce, Evaldo Campos, a cantora Amorosa, Amácio Mazaropi, Princesa Diana, Silvio Romero, Thomas Edison, Osvaldo Cruz, Walt Disney, Paulo Coelho, Luciano Pavarotti, Evita Peron, Dalai Lama, Michel Jackson, Eliseu Pereira do Nascimento, Luiz Gonzaga, Fedro Portugal, o apresentador Silvio Santos, Ayrton Senna, Caetano Veloso, Gumercindo Bessa, Sílvio Romero, Jacques-Yves Cousteau, José Mujica, Carlos Ayres Britto, Padre Peixoto, Albert Einstein, Edmilson Pimenta, Georlize Teles, Wolfgang Amadeus Mozart, Joana D’Arc, o químico e professor Barretão (José Barreto Fontes), Jean Jacques Rousseau, Joaquim Barbosa, Jouberto Uchôa de Mendonça, Toquinho, Reginaldo Rossi, Santos Dumont, Henry Ford, Carlos Gardel, Oscar Niemeyer, Leonardo Da Vinci, Garrincha, Hely Lopes Meireles, Gilberto Gil, Carlos Maximiliano, o pintor J. Inácio, Irmã Aparecida (minha tia freira), Pontes de Miranda, Elvis Presley, Benjamin Franklin, Antônio Carlos Magalhães, Euclides Paes Mendonça, Ariano Suassuna, Guido de Arezzo, os irmãos Lumiére, Assis Chateaubriand, Rui Barbosa, Arnaldo Sussekind, Carlos Cossio, Castro Alves, Machado de Assis, Steve Jobs, Margaret Thatcher, Nelson Mandela, Papa Francisco, Padre Fábio de Melo, Chico de Miguel, Maurício de Souza, Sócrates, Platão, Aristóteles, Charles Chaplin, Oskar Schindler, Miguel Reale, Costinha, Frank Sinatra, Galileu Galilei, Roberto Gómez Bolaños, Oviêdo Teixeira, Bill Gates, e tantos outros que merecem os parabéns. Para encerrar, gostaria de registrar um agradecimento especial para Dona Carlota, Dona Lúcia e Carminha, professoras do Educandário Imaculada Conceição (que existia na Avenida Barão de Maruim, centro de Aracaju), onde iniciei a minha alfabetização e hoje, na condição de professor universitário, fico feliz em mencionar o nome destas mulheres importantes na minha vida e de tantas outras pessoas.

A todos, o meu muito obrigado.

Prefácio

Este livro foi imaginado há mais de quatro anos e, ao longo deste tempo, venho alterando e mudando algumas ideias e personagens, muitas vezes por situações estranhas que aconteciam, ou seja, o que era para ser ficção acabava se tornando em realidade.

Interessante que, talvez pela existência destas ocorrências, tenha construído situações fictícias que nunca serão capazes de acontecer, principalmente, em razão de que tudo deva permanecer no âmbito do imaginário. Devo advertir que, durante a leitura, o imaginário o levará para cenas muito fortes e impactantes, porém não deixe de chegar até o final.

Costumo dizer que a sala de aula é um lugar sagrado e é neste local onde todos nós, professores e alunos, viajamos num mundo de aprendizado recíproco. Assim, alguns dos temas trazidos neste pequeno romance tenham apenas a vontade de levantar debates, não só do ponto de vista social, histórico e jurídico, assim como gosto de fazer em minhas aulas.

Algumas das “estórias” criadas pelos Governos acabaram virando “história” e, com isso, impuseram um rumo muitas vezes perigoso para a humanidade, sempre sobre a desculpa de que seria melhor assim, ao invés da verdade. Vejamos: todos nós sabemos que o “Grito do Ipiranga” não foi algo tão sublime ou recheado de patriotismo que justificasse um quadro mais bonito do que a realidade; ou ainda, o caso da morte de Getúlio Vargas que mais se parece com aquilo que foi criado para o desfecho do caso Paulo César Farias; ou ainda, o impeachment de Fernando Collor que nunca ocorreu; ou ainda, os “acidentes” dos presidentes Jânio Quadros - Jango e Juscelino Kubitschek - JK, num momento ditatorial. Quando os Governos não têm como inventar “estórias”, acabam por criar teorias da conspiração ou questionamentos mirabolantes para encobrir suas falhas, a exemplo do assassinato de John Fitzgerald Kennedy – JFK depois da sua divulgada intenção em acabar com a guerra do Vietnã; da invasão ao Iraque pelos Estados Unidos depois de um ataque terrorista afegão; morte de Osama Bin Laden sem apresentação do corpo, entre outras.

No cerne deste livro, está a possível fuga de Adolf Hitler para o Brasil ou Argentina, juntamente com grandes líderes nazistas, no sentido de manterem viva a ideia do seu Partido. Até hoje, não existe uma resposta contundente para este caso e tudo não passará de hipóteses ou conjecturas. No entanto, não podemos fechar os olhos para as possíveis invenções governamentais no sentido de evitar grandes comoções sociais, como alguns governantes assim acreditam que possa vir a acontecer. Aliás, a verdade não é algo comum na relação Governante e Governado.

O fato é que muitos governos ficaram mais ricos com a separação da Alemanha, no pós-guerra ou com a queda de Saddam Hussein; ficaram mais fortes com as ditaduras implementadas em países sul americanos e africanos; e se desenvolveram ainda mais com as inúmeras guerras que assolaram o século XX e assolam o XXI.

Com este romance, o foco do debate não será apenas histórico, como já dito, a reflexão sobre vários aspectos legais e sociais que viabilizam a vida daqueles que não estão preocupados com o bem comum, mas sim com os seus próprios interesses.

Somos, culturalmente, instruídos a não nos preocuparmos com a nossa realidade social, a mantermos uma cortina nos olhos que são colocadas todos os dias, através de novelas esdrúxulas, campeonatos de futebol alienativos, jornais televisivos para medíocres, campanhas publicitárias massacrantes, violência vendida como algo positivo, times esportivos voltados para a lavagem do dinheiro do tráfico de drogas, entre outras situações que fazem com que repensemos as nossas vidas em sociedade.

Neste sentido, “A Solução Final” é um livro para questionamentos, voltado para o debate sobre valores que hoje em dia estão ultrapassados, como ,por exemplo, a moral, a boa fé, o respeito pelo outro, entre outros. Do prisma jurídico, o julgamento da personagem central é cercado de demonstrações claras de que ainda precisamos amadurecer muito para chegarmos a um conceito, sem preconceito, dos inúmeros fatos que cercaram as suas ações, ainda que no plano imaginário.

Mister lembrar, que este ano, comemora-se os 70 anos de término da 2ª Guerra Mundial e do conflito entre Estados Unidos e Japão, após o lançamento das duas bombas atômicas. Estas marcas históricas nunca devem ser esquecidas para que no futuro não tenhamos uma terceira guerra, tão profetizada e que pode ser evitada.

Assim, espero que você viaje na vida de Eva e imagine a linda Aracaju, cercada com todas estas situações. Caso você ainda não conheça a minha bela Capital Sergipana, está feito o convite. Aliás, por amar a minha cidade Natal, tenho o prazer de inseri-la nos meus trabalhos acadêmicos e livros. Vale registrar que Sergipe possui inúmeras personalidades desconhecidas, algumas delas citadas na dedicatória deste livro e outras podem ser conhecidas com uma breve leitura do livro “Casos e Coisas de Aracaju”, do professor José Wilson.

Um Tríplice e Fraternal Abraço a todos e que Deus nos ilumine e guarde.

Alessandro Buarque Couto

Agosto de 2015

A solução Final

Capítulo I – Entendendo Eva

Ao som de “Only You” (cantada por The Platters), “Endless Love” (cantada por Lionel Richie e Diana Ross) e de outras músicas do mesmo gênero, num volume bem baixo (conforme solicitação da paciente), Eva explicava, para o Doutor Frederico Leão em seu consultório, o motivo pelo qual tinha tomado todas aquelas atitudes criminosas. O psicólogo ouvia, atentamente, a mulher que revolucionou, de certa forma, a sociedade Aracajuana, ou melhor, a sociedade internacional. A cada novo depoimento, o Doutor prestava atenção e anotava as informações, evidentemente, com a surpresa de quem passava a conhecer com detalhes os atos de vingança que culminaram em uma série de episódios isolados e contínuos.

Naturalmente, uma pessoa quando escuta outra, calmamente, a dizer os meios, métodos e motivos pelos seus atos tão chocantes, e ainda que se trate de um profissional acostumado a ouvir de seus pacientes as piores atrocidades humanas, não resta dúvida que isso causa impacto. A surpresa contorceu a fisionomia serena do Doutor Fred, um homem jovem, extremamente tranquilo, e que por traz de sua aparência tipo hippie dos anos sessenta (cabeludo e barbudo), obteve a confiança e um momento com a pessoa que era notícia de jornal em todo o planeta.

Antes de descrever todo o ocorrido, vale explicar o porquê da confiança neste Doutor. Certa feita, um pouco antes de executar todos os seus planos, ainda sob a ideia de efetivar o seu intento de vingança, Eva estava sozinha, por volta das 23 horas, lanchando na Nova Sorriso, uma lanchonete que fica de frente à rótula entre a Rua Lagarto e a Avenida Gonçalo Prado Rollemberg, no bairro São José, Capital Sergipana, exatamente onde ocorre uma feira de bairro. Naquela ocasião, o Professor Fred (pois o mesmo ensinava em uma Faculdade, onde Eva cursava Direito) chegou com seu amigo Helber Andrade, jornalista, e percebeu sua aluna sozinha, sendo atendida por Zezinho, o proprietário, que naquele momento entregava seu pedido a Lau para providenciar um hamburger caseiro com queijo, pois tinha faltado o passport de frango, o seu preferido.

Bela mulher, pois era assim que Eva era vista, uma vez que era bem alta, corpo bem feito, olhos negros, morena clara, de cabelos castanhos lisos até o meio das costas, bem no estilo top model (por sinal, extremamente feminina). Os dois, assim que chegaram, foram sentar para fazer o pedido. No entanto, o Professor Fred foi ao encontro da aluna que estava já com a cabeça baixa e as mãos a apoiando, como se estivesse sentindo dor de cabeça.

E, prontamente, o Doutor/professor, sorrindo, indagou daquela presença tão solitária, naquela lanchonete e àquela hora, e ela respondeu que o mundo tinha caído em sua cabeça, pois todos os seus planos de futuro tinham fugido por suas mãos. Seja como for, disse o professor, todos nós devemos ter calma e saber a hora de agir. Acalentou-a e, com lágrimas nos olhos, Eva olhou para o seu mestre, deu-lhe um abraço e disse que era exatamente o que ela precisava ouvir naquele momento, mesmo estando com sua fisionomia séria e seu olhar sem vida, como o de um tubarão branco.

Assim, em seu relato no consultório, Eva disse que tudo começou quando seu pai, Antônio Batista, que era a única pessoa que ela tinha na vida, uma vez que sua mãe tinha abandonado seu pai quando ela tinha apenas dois anos, foi acusado injustamente do crime de estupro por parte de uma vítima falsa, inventada pelo seu patrão Julio Palhares, o verdadeiro estuprador e que precisava acusar alguém para não ser prejudicado socialmente, já que ele era dono de uma das grandes construtoras e casas de material de construção de Sergipe.

Tranquila, ela narrou que seu pai tinha voltado para o local de trabalho (palavras dele), uma Grande Loja de material de construção, no sentido de pegar uma mochila que havia esquecido na empresa. Ao chegar no setor de estoque, ouviu alguns gritos e, por esta razão, subiu para ver do que se tratava. Foi quando se deparou com a cena chocante, ou seja, seu chefe estava cometendo o crime de estupro contra uma jovem recém contratada na empresa (inclusive ainda era menor de dezoito anos).

Reafirmando o seu caráter de um católico fervoroso, certo de suas convicções religiosas, tratou de defender a moça tentando afastar o agressor da vítima. No entanto, segundo relato de Eva, seu pai foi golpeado na cabeça por um terceiro e quando acordou já estava preso numa cela, todo ensanguentado, por conta da pancada que havia levado, dividindo o local com outros presos. Eva relatou que tomou ciência de que seu pai estava sendo acusado de vários estupros ocorridos nas redondezas dos bairros Médici, Castelo Branco e Jardins por intermédio da televisão, naqueles fleches especiais que passam quando uma notícia é bombástica. Ela relatou que por sorte estava assistindo televisão no minishopping da Faculdade.

Imediatamente, assim que soube das acusações, Eva narrou que partiu para a delegacia com o intuito de saber do ocorrido e lá, mesmo após se apresentar como filha do acusado, o delegado de polícia impediu o contato com seu pai. O fato é que a notícia tomou proporções nacionais e Eva se deparava com a situação de ver seu pai, um homem honesto e totalmente voltado para ajudar ao próximo, sendo vítima de uma acusação absurda. Antônio já contava com 51 anos de idade e sua saúde já não era das melhores. Com as agressões que sofreu por parte dos presos e policiais, somada à infecção por força das feridas abertas sem o devido cuidado, sofreu um agravamento no seu estado de saúde.

Zero em defesa, dez em acusação através da mídia. Não havia outra notícia de importância na cidade se não a prisão do maníaco estuprador. Eva, que além de estudante de direito, era professora de química concursada do Estado, viu sua tranquilidade ir embora. O pior, segundo ela, foi ter procurado a Defensoria Pública no dia seguinte e não conseguido agendar com nenhum defensor público, pois todos estavam ocupados e não quiseram ouvi-la, alegando terem vários casos para atender com a mesma urgência e por isso não poderiam atendê-la primeiro.

Eva procurou a Ordem dos Advogados, local onde foi recebida pela presidente, a vice e mais seis conselheiros. Todos fizeram pouco caso dela e, ainda insinuaram com palavras de assédio por conta do seu belo físico (por parte de dois dos conselheiros). Ela saiu da Ordem chorando e triste sem saber mais a quem recorrer. Foi quando, ao atravessar a Praça do mini-golfe, ouviu no rádio de um dos taxistas que ficam ali estacionados, que o maníaco estuprador havia sido levado ao Hospital de Urgência de Sergipe, com sérios problemas de saúde.

Sem perder tempo, pegou o taxi e partiu em direção ao hospital e, lá chegando, quase foi impedida de entrar. Conseguiu chegar até o seu pai, que estava numa maca, no corredor (que segundo ela, era muito fétido e sujo, mesmo sendo um lugar para atender seres humanos), todo sujo e ensanguentado, aguardando ser atendido pelo médico plantonista, sem contar o fato de estar acompanhado de dois policiais militares que o mandavam parar de gemer. Assim que ela chegou até ele, já foi gritando com os policiais, chamando-os de monstros. Antonio ao ver sua filha começou a chorar, insistentemente, dizendo que não tinha cometido nada daquilo, que sentia ter sido drogado, e pedia por tudo que acreditasse nele (oportunidade em que contou a sua versão do problema, ainda que com certa dificuldade).

Assim que ele narrou toda aquela fraude, Eva que já chorava muito, ao ponto de ser ouvida em todo o corredor, foi afastada do seu pai pelos policias que oportunizaram o médico e a enfermeira no sentido de que os mesmos o levassem para dentro da sala de urgência.

As pessoas que lotavam o hospital olhavam o choro de Eva demonstrando pena e em muitos casos, alguns mostravam desdém, pois ali estava a filha de um estuprador (ou seja, um prejulgamento motivado pela imprensa). Ao sair do hospital, aos prantos, um advogado de nome Raimundo Penalva, que tinha ido levar sua cunhada para o trabalho, ficou impressionado com a cena de dor daquela mulher e com isso fez questão de saber do ocorrido (pois acreditava ter sido ela sua aluna em alguns dos cursos que ministrou no Tribunal de Contas). Eva, ainda que aos soluços, narrou o ocorrido, sempre demonstrando a inocência do seu pai, fazendo com que o advogado prometesse cuidar do caso dela. Naquele mesmo instante, Doutor Raimundo pediu o número do telefone celular de Eva para manter contato e partiu para o fórum Gumercindo Bessa.

Lá chegando, fez uma consulta no sistema com o nome completo de Antonio e observou que todos os trâmites dos inquéritos tinham tomado uma agilidade fora do comum, ou seja, já havia indiciamentos, além de toda a processualística penal ter sido muito célere, desde o acolhimento do pedido de prisão até o acolhimento da denúncia pelo juiz. Para um advogado militante na esfera criminal, tais fases só ocorrem celeremente. Não pensou duas vezes, partiu para o escritório e preparou a petição para o Tribunal de Justiça, em seguida foi colher a assinatura da procuração que, após distribuição, foi encaminhada para um Desembargador plantonista que era integrante da câmara criminal. No entanto, o mérito não foi analisado no plantão e sim remetido para julgamento no dia seguinte.

Raimundo ligou para Eva e informou o trâmite processual e da necessidade de aguardar o resultado da análise por parte do Desembargador. Foi neste contato que ficou sabendo, por parte de Eva, que seu pai havia entrado em coma.

Nos dias que se seguiram, o advogado usou de todas as amizades possíveis dentro do Tribunal para fazer com que o processo andasse o mais rápido possível. No entanto, mesmo com todo o esforço e dedicação, além de demonstrar a relação primária do réu (ainda que houvesse a discussão no tocante ao concurso de crimes), não obteve na soltura do seu cliente, nem mesmo quando buscou a via recursal na câmara criminal, ainda que com todos os incidentes processuais arguidos, sendo sempre negados os seus pedidos em benefício de Antonio.

Resultado: o pai de Eva veio a óbito um mês antes da data do julgamento do novo pedido formulado ao Tribunal e poucos dias depois da prisão. No enterro, nenhum dos colegas e parentes estiveram no local, nem mesmo aqueles que sabiam da índole de Antonio. As únicas presenças estranhas eram do advogado (pois naquele momento já estava sentindo o peso da injustiça cometida, sem saber o porquê de tudo o que tinha ocorrido, já que juridicamente era possível, pois em situações parecidas eram concedidas as liberdades), e de um fotógrafo de jornal local. Era, na verdade, como se interesses muito fortes estivessem manipulando a situação. O fato é que Antonio morreu acusado de mais de vinte estupros, além de provável envolvimento com questões de pedofilia.

Eva, desconsolada, que não tinha mais ninguém na vida (exceto os parentes de Antonio), só tinha um objetivo: limpar o nome de seu pai. Ela ia várias vezes para a colina do Santo Antônio, rezar na pequena igreja (local de onde nasceu a bela Capital Sergipana), como forma de lembrar seu pai.

Ela era vista perambulando na cidade como se morta estivesse, sem rumo. Chegava em casa e ficava olhando as fotos de seu pai que estavam na estante.

Muitas vezes, recorria ao Padre Peixoto, na Igreja do bairro Santa Lúcia, para tentar amenizar a sua dor e por ter amizade e confiança naquele sacerdote. Foi quando o Padre sugeriu que ela procurasse um auxílio psicológico e ela então foi ao encontro o seu ex-professor Frederico, com quem teve uma consulta na rua Propriá.

Em um desses momentos de melancolia e revirando as coisas de seu pai, abraçando suas roupas, vendo fotos antigas, inundada em lágrimas, encontrou uma caixa deixada de presente pela pessoa que foi para ela como um avô. O nome dele era Joseph Braw, tendo sido ele, inclusive, que sugeriu a Antonio a indicação do nome dela. Joseph, morreu aos 100 anos, quando Eva tinha apenas 7 anos, idos de 1989, na cidade de São Cristovão.

Joseph Braw foi muito importante no crescimento intelectual de Eva, pois arcou com os cursos de inglês, alemão, francês, história, política nacional e estrangeira, mercado financeiro, química, além de esportes como tiro ao alvo e hipismo. Foi inclusive neste último esporte que Eva passou a ter mais contato com o seu padrinho chamado Juan Pablo (a quem chamava de tio), um argentino que sempre vinha vê-la e que tinha o maior cuidado com ela. Interessante, contava Eva, que dos momentos que recordava do seu avô Joseph com Juan, pois era pequena, via Juan sempre se ajoelhando com reverência e só olhando para o seu avô quando este o autorizava ou levantava o braço direito, como se ele fosse um soberano.

Ele, Joseph, disse antes de morrer, para a então criança, que aquele pequeno baú era para ser aberto quando ela realmente sentisse a necessidade de muita ajuda, desde que fosse depois de ter completado trinta e três anos, ou, excepcionalmente, quando sentisse um grande ódio.

Eva, que em poucos segundos reviveu os momentos com seu avô, limpou a tampa da caixa e foi pegar a chave que guardava em seu pequeno cofre, como amuleto da sorte.

Porém, sentiu um desejo enorme de ligar para o seu tio Juan, pois precisava conversar com ele, mas este não atendeu em nenhum dos seus telefones fixos da Argentina e sim no seu telefone celular que usava quando estava no Brasil.

Ele, ao atender, disse que já estava no Brasil e, antes mesmo que ela perguntasse qualquer coisa, ele questionou se ela estava certa de abrir aquela caixa. Ela ficou surpresa, pois foi como se ele estivesse ali ou como se existissem câmeras filmando toda a cena (de fato, existiam).

Ela, prontamente, disse que, até aquele momento, não havia sentido ódio, por isso nunca quis abrir a caixa, mas sabia que o momento tinha chegado e estava cumprindo o que seu avô tinha pedido. Juan disse que ela tinha dois caminhos: um era o mais difícil, ou seja, lutar sozinha contra todos os males que atingiram o seu ser, o outro caminho era o mais fácil, pois ela estaria acompanhada de muitos, embora com sede de vingança e com desejo de restaurar algo que ficou adormecido (em tese).

Disse ele que a vida é feita de escolhas, e as consequências são sempre duas, positivas ou negativas. No entanto, quando se busca resolver as coisas ruins com outras coisas ruins, a bola de neve crescerá para o caminho do mal, assim como ocorre quando alguém busca pelo caminho do bem, pois quem planta boas sementes colherá bons frutos ou vice versa.

Eva ouvia tudo aquilo com muita atenção e a lágrima descia vagarosamente. Esta caixa, disse ele, tem um poder que ela não imaginava e com toda certeza se procurar vingar o seu pai, a caixa trará este resultado. Agora, disse ele, você poderá buscar demonstrar a inocência de Antônio pelas vias judiciais, devendo acreditar na Justiça, pois ela tarda, mas não falha (ratificou, então, a confiança no Judiciário sergipano, um dos melhores do Brasil), e principalmente sendo ela uma acadêmica de direito que poderia no futuro se tornar uma grande advogada.

Juan, disse que ela sempre esteve protegida, pois ela era parte de um sonho que o avô dela havia sonhado, principalmente, quanto a sua personalidade forte e com total característica para assumir um lugar que Joseph Braw gostaria muito de vê-la ocupando (tempos depois, conversando com Juan é que ela foi entender muitas situações que aconteceram em sua vida, onde professores, diretores de escola, colegas em geral muitas vezes passavam a ter um comportamento mais agradável com ela mesmo depois de um desentendimento normal do dia a dia, além do fato dela nunca ter sido assaltada, mesmo morando em lugares com índices de roubos muito alto).

Ela respirou fundo e disse que iria abrir a caixa, pois apesar de amá-lo, acreditava que, no máximo, iria encontrar ali dentro uma arma ou um dos pensamentos escritos do seu avô, ensinado-a a ter calma e cautela, mesmo diante do ódio. Isto sempre foi o que ela imaginou ter naquela caixa. Juan disse que a arma que ela poderia encontrar podia ser muito maior do que ela era capaz de segurar, mas ele mesmo sempre desejou por este dia, mesmo sabendo que a abertura só poderia ocorrer quando este sentimento existisse dentro dela ou no seu ápice grau filosófico. Porém, deixou bem claro, que se optasse em abrir, deixaria que ela descobrisse sozinha todo o teor do segredo que existia por trás daquele pequeno baú.

Ao abrir o pequeno baú, deparou-se com algumas chaves antigas e um diário escrito em alemão.

Eva reconheceu a grafia de Joseph e, pontualmente, soube traduzir o escrito.

Lendo o diário, Eva se deparou com uma surpresa impressionante, difícil de acreditar. Aquele velhinho tão sério e sisudo, seu avô de criação, era nada mais do que o conhecido Adolf Hitler.

No diário, Adolf narrava a trajetória de sua família, de seu pai Alois, de sua mãe Klara e de seus irmãos, da sua origem, dos seus medos e das suas alegrias, conta que durante as várias conquistas que fez, conseguiu crescer a Alemanha graças a sua obstinação. Retratou ainda dos bens que confiscou dos judeus, inclusive narrando a quantidade de ouro que guardou para expandir o Reich nas Américas. Relatou que não foi o responsável pelo bombardeio a navios brasileiros (principalmente aquele que aconteceu em Sergipe e que hoje o local leva o nome de praia dos náufragos), pois tinha um bom relacionamento com Getúlio Vargas, inclusive, muitas das riquezas alemãs foram trazidas com o autorizo daquele presidente brasileiro. Pelo contrário, quem atacou os navios brasileiros foram os americanos para forçar o Brasil a entrar na guerra, conforme descrito no diário.

Adolf acresceu em seu relato que quando os aliados estavam cercando suas tropas e por conta de desejar manter viva a ideia de supremacia ensinada por ele, foi acertada a fuga para o Brasil, não só dele, mas também de muitos outros nazistas importantes para o ressurgimento do ideal. No diário, ele dizia que foi simulado um suicídio do casal, juntamente com outros integrantes do Reich (Eva de fato morreu no abrigo subterrâneo, pois para ela foi entregue um veneno verdadeiro por parte de um dos seus amigos fiéis, Adolf Eichmann, que morou na Argentina e era pai do Juan). Como Hitler era conhecido por seu bigode, cabelo e roupa, tratou ele de raspar todo o pêlo de seu corpo e vestir-se como vítima dos nazistas, com o intento de passar pelas tropas americanas e aliadas, como de fato acabou ocorrendo, pois ele e os demais nazistas se misturaram na população que estava sendo libertada pelos aliados (ele ainda narrava no diário que alguns americanos o ajudaram, pois acreditavam nos planos dos nazistas).

Descrevia no diário que, como boa parte do Atlântico já estava tomada pelos aliados, os navios de carga trouxeram para as Américas muitos fugitivos, entre eles o próprio Hitler e todo o seu grupo que estavam cumprindo a rota de fuga previamente preparada.

Alguns ficaram no Recife, outros no Rio Grande do Sul, outros em Santa Catarina, outros em Buenos Aires, na Argentina, e alguns, de forma isolada, em outros países da América do Sul, pois era necessário reorganizar o uso das riquezas no levante do Reich. Segundo os relatos do diário, muitos nazistas também se esconderam na Europa, Ásia, América do Norte e na África como forma de tentarem levantar grupos nazistas no futuro (os neonazistas)

O problema, segundo Adolf, conforme descrito no diário, foi que no Brasil Getúlio Vargas foi assassinado (pois segundo ele não houve suicídio e sim um bloqueio de um presidente que atentava contra os interesses americanos), os países da América Latina entraram em ditaduras e revoltas militares (por se tratar de um projeto planejado pelos Estados Unidos, segundo Adolf). Era como se uma cortina abafasse os planos de levante do Reich, como se os americanos e europeus soubesse dos planos do Hitler. Aos poucos, segundo ele, muitos dos nazistas foram morrendo, foram capturados e julgados, além de irem envelhecendo, pois o clima e a situação social era, extremamente, desfavorável para a colocação do plano em prática. Por esta razão, Hitler achou por bem centralizar muito do ouro que trouxeram em um lugar neutro, e o fez, construindo, em um porão gigantesco, em baixo de uma casa, em um sítio no município de São Cristovão, no Estado de Sergipe, local por onde tinha passado e gostado.

Relatou ainda, no diário, que ele reuniu os nazistas que estavam vivos, no ano de 1970, ano em que já contava com 81 anos, e selaram um pacto de sangue para nunca contar o que tinha ocorrido, pois esta atribuição só caberia a ele, o todo poderoso do Reich. Como todos naquela época já contavam com fazendas e propriedades que garantiam o sustento até o final da vida, outros já haviam voltado para a Europa ou ido para os Estados Unidos como professores Universitários, além de nomes falsos que enterrava por vez o passado. Naquele ano, cada um voltou para as suas casas, certos de que a história do Reich terminaria com eles (plano que foi mudado anos depois, pelo próprio Hitler, uma vez que encontrou ambiente propício para um novo levante, situação que fez questão de registrar no diário para ser cumprido por Eva e por todos, com competências específicas).

No diário, Hitler contou que o ouro e joias eram transportados enrolados em pano, como se fossem rolos para confecção de ternos. Claro, todo aquele embrulho vinha em caixas. O último malote foi colocado dentro do porão da casa no sítio, no ano de 1963. Local, diga-se de passagem, que também abrigava uma grande biblioteca de Hitler (alguns livros de sua autoria). Registre-se que os corpos daqueles que construíram o abrigo (porão), mortos por asfixia com o gás injetado no porão pelo próprio Hitler, por Juan e seus companheiros, e foram enterrados ali próximo. Isto foi necessário para evitar que se espalhasse a história daquele excêntrico e velho estrangeiro, cujo desejo era o de guardar rolos de pano em porão.

Quando chegou definitivamente em São Cristovão, ele narrou que raramente saia para ir na cidade, mas que sempre que isto ocorria, Antonio, então uma criança de aproximadamente 7 anos, sempre se predispunha a ir ajudá-lo. Foi assim que iniciou a feição por parte do conhecido senhor Joseph. Na verdade, Antônio arriscou sua vida ao salvar o velho Joseph de um ataque de cobra venenosa, fazendo com que aquele ancião enxergasse o pequeno Antônio com olhos de respeito.

Hitler em seu diário chegou a mencionar que tinha a pretensão de deixar toda a fortuna para Antonio, pois não imaginava viver tanto, mas foi com Eva que ele se arrependeu, em parte, de alguma das coisas que fez e foi com ela que sentiu pela primeira vez a alegria em ensinar e passar tudo que sabia, inclusive, talvez de reestabelecer o nazismo sob outro modelo, mais inovador. Por isso, pagou todos os estudos de Eva, mas sem demonstrar a magnitude do seu patrimônio. Claro, sempre com a presença do tio Juan.

Eva, depois de ler parte aquele diário, ficou completamente assustada e, não pensando duas vezes, ligou para Juan, mas este não mais atendeu. Então, resolveu ligar para Raimundo, solicitando a sua presença.

Raimundo foi ao encontro de Eva e os dois seguiram até o lago próximo ao oceanário, na orla de Atalaia, pois ela disse que precisava conversar em um lugar arejado. Lá, pediu a ele que a acompanhasse em uma empreitada, mas sem contar os motivos, pediu reserva. Ele concordou e assim, partiram em direção para a velha casa de Joseph Braw no sítio em São Cristovão. Lá chegando, vêm a casa abandonada, sem nenhum móvel dentro, sem algumas telhas, sem as janelas e portas, pois tinham sido furtadas. Não encontram nada que indicasse o ouro. Porém, como no diário, o seu “avô” desenhou como pista (perto onde escreveu os números de contas bancárias, com os respectivos nomes de bancos), a suástica, um pé de cabra e a palavra sala, em alemão.

Entendendo o código, ela e Raimundo varreram o chão da sala e encontraram sinais da suástica, de aproximadamente um metro e meio de diâmetro. Sem pé de cabra, mas com as ferramentas de troca de pneu do carro (diante da ausência de ferramenta adequada, o macaco hidráulico se transformou em instrumento para quebrar o cimento), Raimundo pegou a ferramenta e começou a quebrar o chão. Depois de muitas tentativas, verifica-se uma fenda que sinaliza a existência de uma tampa, como de um poço artesiano. De fato era um porão, de aproximadamente nove metros quadrados, com uma pequena escada para acesso. Após removerem a tampa, deparam-se com um porão vazio, para a tristeza de Eva, pois apenas se via uma bandeira de pano, com o símbolo do nazismo, rasgada nas pontas, presa na parede por pregos, além de uma lamparina de óleo e fósforos por perto. Pelo menos esta era a visão inicial que se tinha com a claridade que entrava pela luz do dia. Logo em seguida ligaram uma pequena lanterna na ponta de uma caneta que Raimundo tinha ganhado como brinde de propaganda, facilitando a visão do ambiente, que por sinal tinha aquele cheiro forte de coisa velha, mofada.

Os dois descem por uma velha escada de madeira e Eva então, puxa a bandeira, e sente como se a parede fosse oca. Raimundo prontamente inicia umas pancadas com as peças quebradas do macaco hidráulico, e logo um vazio escuro começa a se abrir, como se existisse outra área maior estivesse por trás daquele vazio. Eva, enquanto a parede estava sendo derrubada, em meio a uma grande quantidade de poeira que foi sendo levantada, tenta acender a lamparina e assim que consegue, o ambiente fica mais iluminado, já que a pequena lanterna da caneta não estava dando conta (o espaço escuro e empoeirado que acabara de ser aberto, volta a ver luz depois de muitos anos). O odor do local era uma mescla de livro velho com museu de arte sacra, o suficiente para muitos espirros naquele momento, quase que asfixiados. Quando finalmente vêm o que estava por atrás daquela parede falsa, observam inúmeras estantes contendo rolos de panos velhos e deteriorados. Quando pegaram nos rolos e puxaram, sentiram uma grande resistência, como se fossem pesados. Em cada fardo de pano, que quando eram puxados iam se rasgando, demonstrando que lá estavam aproximadamente cinquenta placas de um quilo de ouro, cada uma. Pelo que eles viram, deveria existir ali mais de uma tonelada de ouro, além de várias pedras preciosas.

Eva ficou muito impressionada, assim como Raimundo, que verdadeiramente se sentia um caçador de tesouros, começando até a sorrir sem parar, como se fosse ele o dono de todo aquele ouro. Além desta visão inusitada, também visualizaram estantes contendo livros dos mais variados tamanhos. Diante daquela descoberta, trataram de sair logo dali, inclusive se bateram em ossadas que estavam no chão e seguiram para fechar a entrada, jogando areia para disfarçar a tampa do túnel e em seguida foram para o carro.

Lá eles se entreolham e ficam meio sem reação, pois era uma história inimaginável. Raimundo dizia a Eva que ela agora era milionária. Eva ainda perplexa, sem saber o que fazer, disse a ele que precisa pensar no que fazer.

Como além daquele tesouro, Adolf tinha deixado números de contas, os dois decidiram partir para os bancos e constatarem as contas. Raimundo como tem um amigo que é gerente do Banco do Brasil, ou seja, banco de uma das contas citadas no diário, partem então para o banco no sentido de obterem informações a respeito. Chegando lá, vão ao encontro do gerente, de nome Luciano, e lá descobrem que o somatório das contas em nome de Eva, só naquele banco, chegava a aproximadamente trezentos milhões de dólares (cotação daquele dia).

Ainda no banco, onde o gerente viu que estava diante de uma milionária, quase bilionária, diferente daqueles que se acham ricos em Aracaju, o tratamento foi mudado impressionantemente. Ela que ao entrar no banco com óculos escuro e vestida de forma simples, sem qualquer cerimônia, ouviu pela primeira vez na vida um gerente perguntar se ela queria que ele suspendesse o atendimento de toda a gerência só para dar atenção a ela. Raimundo, que nesta hora sorriu muito, percebeu que ela ficou meio sem jeito. A única coisa que eles pediram ao jovem gerente “prestativo” foi o seu silêncio, sob pena de tirarem toda aquela pequena fortuna do seu banco. Aproveitando o ensejo, pediram para que ele fizesse o levantamento de suas contas, inclusive no exterior, a Exemplo do Banco da Argentina e do Banco Suíço. Ele pediu um tempo, mas disse que iria mobilizar todos os meios para atender a nobre cliente, inclusive contactar com o seu superior.

Em mais ou menos duas horas, o gerente recebeu os faxs e e-mails necessários para fazer o levantamento do patrimônio financeiro de Eva em Bancos, só no Brasil. O valor girava em torno de mais de dois bilhões de reais.

O gerente mudava de cor, não sabia se sorria ou se saia correndo de tanta felicidade, não cansava de perguntar, para aquela bela mulher, se ela queria algo, tipo café, champanhe, uma limusine, almoço, flores, etc.

Eva pede mais uma vez a reserva e silêncio de Luciano, dizendo inclusive que poderia contratá-lo em breve para seus futuros investimentos.

Marcam então um encontro no dia seguinte para as providências sobre o que fazer com o dinheiro. E ao saírem de lá, claro, Luciano a acompanhou até o carro, pois nunca tinha feito isso na vida, nem com a própria mãe, narrou ele depois, em depoimento a Raimundo. Naquele instante, Eva tenta mais uma vez contato com o tio Juan, sem sucesso, pois o mesmo não atendia as suas ligações.

A adrenalina estava alta, pois o poder literalmente tinha caído em suas mãos, mas não era qualquer poder, era “O Poder”. Imagine uma pessoa que vive com salário de professora estadual e de uma hora para outra é bilionária. De lá seguem em direção à colina do Santo Antônio, pois Eva disse que precisava pensar e lá era o lugar ideal. No caminho mais uma vez tenta falar com Juan, mas este não atende.

Sentados no banco da igreja, Eva folheia o diário e percebe que Adolf tinha deixado uma série de orientações sobre as operações financeiras e sobre a responsabilidade que assumiria caso fosse questionada pelos herdeiros da ideologia nazista, porém ela não entendeu muito bem. Vale acrescentar que em muitas das vezes Adolf cita no diário que ela será guiada por Juan e outros padrinhos que ela iria conhecer.

Duas horas depois, foram almoçar no restaurante Ki-Galeto, de seu Zico e Dona Suely, no bairro Luzia, e lá discutem o que fazer com o dinheiro. Ao chegarem no restaurante, Eva ouve de pessoas que estão em outra mesa, ainda que falando baixo, no sentido de fazerem menção a ela como filha de estuprador. Naquele momento Eva sente a raiva voltando com toda a força e pela primeira vez, sente o sangue na garganta, a la Faroeste Caboclo, com grande vontade de vingar a morte de seu pai.

Ela então, disse que não estava mais com fome e pede para que Raimundo a levasse para casa, pois precisava pensar melhor em tudo o que estava acontecendo. Quando estão saindo do restaurante, Raimundo recebe a ligação de Luciano pedido para que retornassem ao banco, pois precisavam assinar papéis. Raimundo questiona a rapidez no serviço do gerente e este pede para que compareçam com uma certa urgência e para lá partem, mesmo achando estranho o comportamento do Luciano ao telefone.

Assim que chegam ao banco, os dois são levados por Luciano para uma sala grande, com uma grande mesa de reuniões. Não demora muito, quando dois advogados de prenomes Fritz e Amélia, muito bem vestidos, que tinham acabado de chegar do Estado de Pernambuco, ingressam na sala. Eles se apresentaram como representantes de uma grande empresa internacional e que esta busca por estes dados de contas era esperada por vários anos. Disseram que Eva era acionista desta empresa e a partir daquele momento já contaria com segurança particular vinte e quatro horas, de forma declarada. Naquele momento Amélia informa que trabalham para o seu padrinho Juan e que em breve ele estaria com ela.

Eva ficou surpresa e perguntou o que ela deveria fazer e os advogados disseram que ela deveria viajar ainda naquele dia para o Rio Grande do Norte, pois seria importante para o contato com os outros acionistas, inclusive para entender melhor de todo o trâmite desta empresa internacional que atua, entre outros setores, no de indústrias navais e de transportes aéreos.

Ela fica sem reação, porém disse que gostaria de levar seu advogado particular, e eles inicialmente demonstram não gostarem da ideia, mas não emitem opinião em contrário, pois ela insistiu na sua presença. Raimundo na hora tenta amenizar dizendo para Eva que era melhor ela ir sozinha, no entanto ela insiste na sua companhia e ele aceita, apenas informado que precisava ligar para a sua esposa e relatar da necessidade da viagem emergencial. Neste instante, entra Luciano na sala, com ar de assustado e dizendo todo o tempo para Eva que ela não se preocupasse pois ele não contará nem que a conheceu e nem que sabe do seu patrimônio, depois ele foi em direção dos advogados, que com os mesmos semblantes sérios ouvem Luciano repetir que não comentará com ninguém sobre tudo aquilo que viu e ouviu sobre a senhora Eva.

Eva estranha tudo o que vê, e tenta tranquilizá-lo de que não se preocupasse e logo em seguida Luciano sai da sala. Eva olha para Raimundo e em seguida diz aos dois advogados que precisa ir para a sua casa pegar algumas roupas, mas a Amélia diz que não precisava pois eles comprarão roupas novas quando chegarem ao seu destino. Mais uma vez os dois ficam boquiabertos diante das situações inusitadas que estão passando tão rapidamente. Por um instante Eva pergunta por que os dois estão sérios, pois demonstram como se ela estivesse fazendo algo de errado, e neste momento os dois pedem desculpas e forçam um sorriso para não deixarem Eva sem estar à vontade.

Descem então e seguem para um carro de luxo de cor prata, mas com a película escura. Quem abre a porta é um segurança alto, forte, de cor clara e de óculos escuro e com cara de enfezado. Atrás do carro tinha pelo menos dois carros iguais e motos tipo GETAN, com homens que esperavam Eva entrar no carro para seguir em segurança. Eva relata que parecia coisa de filme de gangster, tipo “o poderoso chefão”. Para quem não tinha condição financeira, perdeu o pai de uma forma brutal e tornou-se de um dia para o outro uma bilionária, realmente Eva estava meio extasiada com toda a situação.

Partiram direto para o aeroporto Santa Maria e de lá seguiram para o Rio Grande do Norte de jatinho particular. Durante o vôo houve uma mudança de planos e os advogados informaram para Eva que o destino seria Salvador, pois os outros acionistas teriam partido para a casa da empresa bem no centro antigo da bela Capital Baiana, no coração da cidade baixa.

Ao chegarem no aeroporto, eles entraram num carro importado de cor preta, cuja escolta era composta de pelo menos oito carros, também de cor escura e homens fortes, aparentemente armados (durante o trajeto percebem a presença de um helicóptero fazendo escolta). Raimundo chegou a observar a existência de uma Uzi israelense e uma Ak-47 no veículo, porém se manteve calado.

Assim que chegaram na cidade baixa de Salvador, próximo ao mercado modelo, entraram num prédio antigo, dentro deste tinha uma conjunto de salas bem arrumadas, com homens de terno, que assim que Eva passava, olhavam, sorriam e baixavam a cabeça como forma de reverência. Em seguida, Eva e Raimundo foram acomodados em uma sala de reuniões de tons claros, com uma mesa grande, de aproximadamente vinte lugares, bem climatizada, com plantas ornamentais que davam um ar elegante ao ambiente. Em seguida vários homens e mulheres bem vestidos entraram e saudaram Eva, dizendo “Salve Eva”. Ela achou engraçado, mas ficou meio que receosa com a reverência.

Em seguida entrou um homem que disse ter o nome de Paulo, vindo até o encontro de Eva, e disse que aquele momento era esperado há muitos anos. Disse ele que ela ficasse tranquila, pois naquele lugar ela era a líder de um novo mundo, de uma nova mudança na sociedade. Disse ele que era também herdeiro dos ideais nazistas, assim como ela, mas que o encontro com os herdeiros só ocorrem com as descobertas de cada, pelo futuro que tinha sido projetado para cada um, no entanto, no caso de Eva, ela era a herdeira do próprio Hitler, e isto já era o suficiente. Disse ainda, que a partir daquele momento, ela tinha a proteção de milhões em vários lugares do mundo. Assim que disse isto, todos aqueles que estavam no ambiente, levantaram a mão direita em sua direção e gritaram “Salve Eva”.

Paulo disse que Hitler deixou todas as diretrizes para a sua herdeira em um diário, principalmente no tocante à retomada do heich. Ela disse que de fato ainda tem muita coisa no diário que precisava ser lido, mas que para o momento, antes de qualquer coisa, de qualquer cumprimento dos dizeres de seu “avô”, o mais importante era vingar o seu pai, pois só sentiu vontade de abrir o diário quando pela primeira vez na vida sentiu ódio. Paulo ouvindo isso, sorriu, demonstrou uma felicidade sem igual.

Todos os presentes sorriram de forma discreta e disseram que isto era simples. Ela disse então, que depois da sua vingança, ela cumpriria os mandamentos dele, ainda que em seu subconsciente não tivesse ideia do tamanho das atribuições que estava avocando para si.

Entre os presentes, Alfredo, médico cirurgião, disse a Eva que naquele momento a notícia de que a herdeira de Hitler tinha dado sinal de vida, fez com que vários integrantes neonazistas da Europa e da América do Norte, estivessem se mobilizando para a cidade de Aracaju, no sentido de conhecer a mulher que fará o levante que todos desejaram para o futuro do nazismo no mundo.

Como disse Eva, em seu depoimento ao Doutor Frederico, aquela notícia mexeu com o seu ser, pois a dimensão de tudo o que estava ocorrendo estava além do seu controle, melhor, da sua compreensão instantânea.

Seja como for, o desejo de vingança era a prioridade número 1 de todos os “herdeiros do nazismo”, pois vingar o pai de Eva era obstáculo para fazer iniciar o novo tempo do nazismo no mundo, principalmente quando aquela que tanto era esperada, desejava este simples intento.

Paulo então disse a Eva que era necessário toda uma investigação para saber de tudo o que tinha ocorrido, para só então poder agir. Disse também que talvez fosse necessário eliminar várias pessoas e ela, com o ódio que sentia, autorizou o plano, deixando os neonazistas satisfeitos com a sua nova líder. Disse apenas que gostaria de saber de tudo o que ocorreu para incriminar o seu pai.

Raimundo chamou Eva num canto e disse que tudo aquilo era demais, pois muitas pessoas poderiam morrer, inclusive ficou assustado quando percebeu que a resposta de Eva era apenas no sentido de vingar o seu pai, custe o que custasse.

Daquele momento em diante, Eva era tratada como um ser superior, pois a palavra ódio era alimento aos ouvidos dos integrantes da rede que ela passou a comandar.

Já inteirada com a sua condição e também gostado de tudo o que ouvia, pediu para retornar imediatamente para Aracaju, pois queria receber todos os seus novos aliados Naquele mesmo instante foi providenciado o seu retorno para a Capital Sergipana.

Interessante é que assim que chegou em Aracaju, ouviu na televisão do hotel em que foi hospedada na orla de Atalaia, que nunca tinha ocorrido uma super lotação de hotéis e pousadas fora da alta temporada, principalmente por estrangeiros. Só para se ter uma ideia, inúmeras pessoas, entre estrangeiros e nacionais, lotaram as vagas disponíveis na cidade. Casas, apartamentos e fazendas foram negociadas à vista em menos de 24 horas. Para o hotel em que Eva estava hospedada foram levados todas as roupas e documentos encontrados em sua velha casa, localizada no bairro América, que inclusive foi incendiada, para não restar qualquer indício de passado, sendo tudo isso organizado por Paulo, secretário do novo Reich (posto atribuído por Hitler e mencionado no diário).

Eva também viu na televisão que a casa do estuprador, seu pai, tinha sido incendiada por populares, pois foi desta forma que a imprensa noticiou.

No dia seguinte, Eva recebeu um por um, no auditório do hotel, todos os seus súditos, entre eles alemães, americanos, argentinos, ingleses, franceses, et al, de várias nacionalidades, todos querendo saudar a líder maior do nazismo. Vale ressaltar que foi desta peregrinação que a INTERPOL veio parar em Aracaju, pois estranhamente vários criminosos internacionais vieram parar no Brasil, principalmente na capital Sergipana.

É evidente que o maior desejo de Eva era agora o maior desejo dos neonazistas.

A imprensa foi neutralizada, pois pessoas muito poderosas impediram que a “invasão em Sergipe” tomasse dimensões nacionais ou internacionais. Por isso, tanto a imprensa televisiva e a escrita fora do Estado, em momento algum, abordou a presença de tanta gente na cidade de Aracaju. Vale ressaltar que estes visitantes não frequentaram nenhum lugar que chamasse muito a atenção, tipo shopping, bares, restaurantes ou praias, pois a orientação era a maior discrição possível. A única coisa que foi impossível de esconder foi o estacionamento de jatinhos e helicópteros no aeroporto de Aracaju.

Todos os selecionados para a execução do plano definido por Eva caíram em campo para se cercarem das informações necessárias para saber melhor do plano que culminou na difamação e morte de Antônio, seu pai. Resultado, em menos de sete dias, Eva recebeu um dossiê de todos os envolvidos na trama que culminou na morte de seu pai. Entre os nomes da lista de Eva estavam o de todos os Desembargadores do Tribunal de Justiça, de sete Delegados de Polícia Civil, de dois Delegados da Polícia Federal, de dez Agentes de Polícia civil e da federal, de seis escrivães de polícia civil, de doze Promotores de Justiça, de um juiz do trabalho, de dois juízes federais, de nove Juízes de direito, de um procurador da República, de quatro Procuradores de Justiça, de seis Jornalistas, de três Vigilantes, de dez professores, do Governador do Estado, de três Deputados Estaduais, de dois Deputados Federais, de um Senador, de quinze Empresários (entre eles o dono do estabelecimento onde Antônio trabalhava), de cinco vereadores, de quatro pastores evangélicos, de um padre, de vinte e cinco policiais militares, de treze presidiários, de trinta e seis servidores públicos entre federais, estaduais e municipais das áreas administrativas, da Presidente da ordem dos advogados, além da vice e de cinco conselheiros da Ordem, de doze advogados não integrantes da gestão que comandava a entidade, de dois médicos e de uma enfermeira.

Assim que ela recebeu o documento das mãos de Paulo, percebeu que existia um cartel de prostituição de menores e pedofilia, envolvendo grandes personalidades sergipanas e diante de todo o sofrimento que passou determinou que todos os envolvidos no esquema sentissem na pele o que ela tinha sentido com a perda de seu pai. É evidente que esta determinação não teve o condão de ordem de matar, mas em se tratando da herdeira de Hitler, nenhum daqueles que ouviram a ordem pensaram diferente, ou seja, entenderam que a ordem era matar, só isso. Interessante, relata Eva, que quanto mais nomes eram mencionados, a ordem era mantida, a alegria no olhar de cada um que iria ajudar naquele objetivo, era enorme, parecia como se ela estivesse dizendo para crianças que iria entregar doces e pirulitos. Quanto mais ela agia assim, mais confiança ela ganhava de todos.

No relatório apresentado a Eva, constava que o esquema de prostituição e pedofilia fazia com que todos fizessem vista grossa ao problema, destruindo assim os sonhos de crianças e adolescentes. Por esta razão, como a coisa já estava ficando flagrante, era necessário fazer alguém pagar pelo “pato”, ou seja, o “boi de piranha”, foi ai que o pai de Eva entrou na história, vítima desta sórdida arapuca.

Eva determinou que fosse conhecido todos os passos dos envolvidos, e que tudo fosse informado para ela. Assim foi feito, no entanto ela requereu que em relação aos desembargadores ela disse que estes era problema pessoal dela, pois foram eles que mataram de vez o seu pai, além do patrão, é claro.

Determinou que fosse investigado todo o andamento dos desembargadores, tudo o que fosse necessário para saber exatamente como pegá-los. Descobriu fraudes em licitação, principalmente em relação a uma empresa terceirizada que sempre ganhava e era através desta onde os desembargadores também colocavam os seus parentes, pois foram prejudicados por orientação de uma súmula vinculante.

Ao mesmo tempo, foram investigados todos os envolvidos, sendo descoberto esquemas de corrupção, problemas com merendas escolares, tráfico de drogas, traições conjugais, tudo pronto para atingir a todos os envolvidos na morte de seu pai. Aliás, a ideia de Eva, inicialmente, era desmoralizá-los socialmente, como forma de sentirem na pele a vergonha sentida pelo seu pai. Contudo, sentia algo mais doloroso em seu coração e preferiu dar o mesmo fim que seu pai teve para todos os envolvidos.

Capítulo II – O início

Foi ao som do samba de uma nota só, de Tom Jobim, que Eva determinou a sentença de morte de mais de cem pessoas, porém tudo só poderia acontecer quando ela desse fim aos desembargadores e ao empresário que colocou seu pai nesta situação.

Inicialmente foi determinado que todos os seus novos súditos fossem para a cidade de Salvador para ficarem na espera da execução do plano, justamente para não chamar a atenção mais do que já havia acontecido, por conta da grande quantidade de pessoas vindas de vários lugares do país e do mundo sem um evento aparente na cidade. Só ficaram na cidade aproximadamente uns cinquenta nazistas para ajudar na execução da vingança. Eva em meio toda esta situação, continuou recebendo a informação de que seu tio Juan iria vê-la em breve.

Depois do plano todo arquitetado, Eva inventou uma festa para homenagear personalidades sergipanas como Tobias Barreto, Zé Peixe, J. Inácio e Antonio Manoel Carvalho Neto, e para tanto, por meio de entidades do terceiro setor, contratou para tocar na orla de Aracaju, no mercado Tales Ferraz, no parque da sementeira e na praça Fausto Cardoso, respectivamente, Zeca Pagodinho, Ivete Sangalo, Paralamas do Sucesso e Bel Marques (todos inclusive tiveram que desmarcar compromissos anteriores pois o valor pago por Eva era o dobro do convencional). Eva dizia que Bel é o único que pode parar qualquer cidade no Brasil, basta iniciar qualquer música que o resto o povo toca. Por isso fez questão de colocar ele e sua banda logo na Praça dos três Poderes de Sergipe. Vale frisar que todos estes shows gratuitos foram noticiados durante uns dez dias antes do evento, inclusive com anúncio de bebidas que seriam distribuídas gratuitamente, tudo a partir das 19 horas de uma quarta feira de setembro.

Para dar início ao seu plano, Eva determinou que naquela semana, nacionalmente, várias reportagens noticiando esquemas de corrupção fossem ao ar, no sentido de manchar as imagens dos envolvidos. Pagou muito caro por isso. As notícias marcaram as conversas de todos os cidadãos do Estado, principalmente pelo envolvimento de muitos políticos e autoridades importantes. Os planos começaram a ser executados.

O grande dia chegou. A quarta feira marcada para o evento finalmente era uma realidade. Eva infiltrou-se como sendo uma garçonete, justamente no dia do pleno, uma quarta feira. Deixou tudo pronto para o grande dia. No último andar do Tribunal de Justiça, onde funcionava o pleno, ela, como uma simples garçonete, serviu a todos os desembargadores e ao procurador de justiça um café contendo o conhecido “chumbinho” e uma droga que causava overdose imediata (Eva conhecia a manipulação dos elementos químicos e fez isso justamente para acelerar o processo da morte e de degeneração muscular e óssea, para que todos tivessem que ser velados naquele mesmo dia). Serviu a todos, inclusive um dos desembargadores, não quis tomar o café, porém ela usou dos seus dotes femininos e o velhinho caiu na lábia. Infelizmente dois assessores, que não estavam na lista, também tomaram o café. Resultado, no meio do julgamento, alguns desembargadores reclamaram de dor de estômago, de dores musculares, outros sangraram pela boca, e aos poucos caíram em cima dos processos. Pelo menos dez morreram de imediato. Os advogados e partes que assistiam aquela cena ficaram assustados e partiram para ajudar as autoridades.

Neste momento, pela ventilação do ar-condicionado do andar, saiu uma enorme fumaça branca deixando todos que estavam no local sem qualquer tipo de visibilidade, oportunizando a saída de Eva do local.

Assim que concluíram o objetivo principal, sim, pois Eva contava com integrantes do seu grupo dentro do Tribunal, todos saíram devidamente disfarçados de empregados de uma empresa que prestava serviço de limpeza, pelas escadas, pois para dificultar a assistência aos desembargadores, fizeram com que os elevadores, durante a ação fossem desligados, gerando um circuito na rede, inclusive para que o sistema de segurança fosse desligado.

Alguns dos servidores que subiram para entregar processos no Pleno, bem como alguns advogados, vendo a cena grotesca trataram de chamar os médicos do Tribunal que tentavam salvar os desembargadores e os demais, porém sem êxito, pelo menos uma desembargadora ainda agonizava, mesmo assim como fazia parte do plano, Eva havia providenciado ambulâncias para atender a emergência, parte seguinte do plano. Com toda a dificuldade, depois de descerem vários andares com aquela mulher em estado terminal, as pessoas colocaram a desembargadora na ambulância e em seguida a ambulância saiu em direção ao hospital público onde o pai de Eva foi internado.

Dentro da ambulância tiraram a roupa da desembargadora e vestiram-na com roupas de pessoa pobre e no hospital colocaram-na nos corredores como qualquer pessoa do povo. Lá morreu.

Eva voltou para o hotel e assistiu pela televisão todo o ocorrido, nos flash de reportagens. Raimundo chegou logo em seguida e não acreditou no que assistia. Ficou atônito. De fato viu sua amiga começar a concretizar os seus atos de vingança.

O governador foi para imprensa dizer que iria usar de todos os esforços para punir os marginais que tinham feito aquilo, pois com certeza se tratava de atentado contra o Judiciário (apesar de não ter muito o que dizer no tocante a falta de atendimento do hospital público em que a desembargadora morreu). Assim também disseram os representantes da OAB e do Ministério Público Estadual.

Seja como for, o Tribunal de Justiça estava sem seus desembargadores e a briga pelas vagas começou imediatamente, não só entre os juízes como também entre os advogados e promotores por conta do quinto constitucional. Foi o início de uma briga de looby no mesmo dia das mortes.

Ainda naquele dia, antes do meio dia, Eva determinou a outra parte do plano, mandou destruir todos os sistemas de comunicação, com isso, todas as emissoras de televisão, TVs à cabo, jornais e rádios tiveram suas atividades suspensas em razão do boicote que sofreram, uns mais do que outros, evidentemente, como foi o caso das empresas de jornais. Transmissores localizados em antenas de empresa de telefonia, todas inseridas na área de estratégia do plano foram destruídos, impossibilitando a telefonia celular e a internet. Vale acrescentar que o Centro de Informação da Polícia de Sergipe foi atacado e todo o sistema operacional ficou fora do ar. Ou seja, Aracaju e grande parte de Sergipe ficou ilhado, sem qualquer comunicação com o mundo.

Paulo e outros integrantes do comando de Eva queriam agir contra os outros da lista, mas Eva mandou que esperasse a sua ordem, afinal a vingança era dela.

Mesmo sem comunicação, e estando toda a cidade inserida num caos, pois ninguém trabalhava ou produzia, uma vez que todas as grandes formas de transmissão de dados estavam fora do ar, as pessoas foram para as ruas brincar um carnaval fora de época, pois foram aproveitar a folga mais cedo, uma vez que muitas empresas acabaram fechando suas portas muito antes do horário, além do clima festivo que se encontrava Aracaju, principalmente no centro da cidade.

Foi um caos, mesmo assim, um velório coletivo foi organizado e realizado às pressas no hall do Tribunal, com direito a telão no auditório que fica no térreo do mesmo. Dentre os falecidos, cinco foram velados em suas residências, no próprio cemitério ou nas empresas funerárias de Aracaju. Tudo tinha horário, pois as pessoas já se aglomeravam na praça Fausto Cardoso para assistir ao show e sem comunicação ficava difícil controlar as companhias militares. Isto também acontecia em toda a Aracaju. Já tinha autoridade querendo transferir o velório para o dia seguinte. Eva fez questão de ir ao funeral, claro que já usando boas roupas e com óculos escuros, uma típica “dondoca” da sociedade, rata de velório.

Interessante que a conversa entre os que estavam no velório era exatamente em relação aos sucessores, já que a situação era sui generis. Evidentemente o assunto sobre a falta de comunicação e a pane no sistema de televisão era também comentado. Alguns riam, achando que era atentado terrorista ou que era o fim do mundo. A presidenta do Supremo Tribunal Federal e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral demonstraram interesse em vir para o velório, pois tomaram conhecimento do ocorrido antes da pane no sistema de comunicação, mas só poderiam chegar a Aracaju no dia seguinte.

Como Eva já havia agido contra os desembargadores, alguns dos seus novos súditos trataram de eliminar pessoas da lista. Aos poucos as pessoas foram sabendo dos inúmeros homicídios que ocorriam ao mesmo tempo na cidade, ou seja, a tarde foi de morte de políticos, empresários, promotores, ou seja, todos da lista de Eva. Teve um promotor, inclusive que foi morto no banheiro do Tribunal durante o velório.

Naquele mesmo momento, o prédio da OAB era incendiado com todos da lista de Eva. Uma verdadeira chacina.

Ao ficar sabendo das mortes simultâneas, o governador determinou ao Secretário de Segurança Pública que fosse imediatamente ao seu gabinete do palácio de despachos para encontrá-lo por volta das 16 horas, antes dos sepultamentos dos desembargadores. Claro que esta comunicação já estava ocorrendo pelo velho e bom rádio transmissor, instrumento arcaico que passou a voltar a ser usado por uma questão de emergência. Vale registrar que andar em Aracaju naquela tarde era quase impossível, pois as pessoas estavam espalhadas por toda a cidade por conta dos inúmeros shows.

Assim que saiu do Tribunal, receoso, o governador determinou que o motorista fosse primeiro para a residência oficial, sentido bairro coroa do meio. No caminho, a comitiva do governador, composta só por dois carros, passou por cima de ferros rasga pneus, como o que são feitos pela Polícia rodoviária federal. Isto ocorreu nas imediações da entrada do bairro farolândia. Como era de se esperar, os carros ficaram desgovernados e bateram em um poste e uma árvore, mas não o suficiente para machucar o governador, porém homens mascarados saíram de dois veículos pretos, armados com fuzis e atiraram contra o veículo do governador, matando-o e os seus seguranças que nem tiveram tempo de sacar as armas.

Eva, ainda no Tribunal, ficou sabendo do ocorrido com o governador por um dos seus atiradores, e determinou que a aguardassem até que ela chegasse na empresa do antigo chefe de seu pai. Ficou sabendo que o empresário estava na empresa.

Ela chegou na empresa e estacionou o veículo, juntamente com mais trinta homens de sua segurança e determinou que o retirassem da empresa sem que fosse notado. Infelizmente esta ordem não pode ser cumprida fielmente, pois assim que os homens pediram para falar com o empresário este não quis recebê-los e foi necessário tirá-lo à força da empresa. Claro que a secretária e um empregado ao verem homens encapuzados e com um fuzil apontado para a cabeça trataram e se esconder para não serem vítimas também. Todos que estavam na loja saíram correndo para se esconder.

O empresário foi colocado no porta-mala de seu próprio veículo e todos saíram de lá, num total de dez carros, e seguiram direto para o final da praia da Sarney, depois do farol. Foram pela rota do Orlando Dantas, pois o trânsito já estava complicado nos demais caminhos para a praia. Lá, tiraram o empresário do carro e colocaram-no de pé do lado do veículo. Já era quase final de tarde. Eva se apresentou para ele e perguntou se ele lembrava de Antônio.

O empresário disse não entender o que estava acontecendo, mas depois perguntou se era do estuprador que ela se reportava. Foi então que ódio subiu ainda mais a cabeça. Ela disse que ele era inocente e pessoas como ele eram inescrupulosas, que destruíam vidas, e eram responsáveis por matar o futuro de crianças e adolescentes. O empresário mais uma vez sorriu e disse que um idiota sempre tem que levar a culpa pelos ricos ou pessoas poderosas como ela e como ele. Naquele momento Eva disse que seu pai era inocente. O empresário assim que ouviu as palavras de Eva, mudou o semblante, mesmo assim ainda sorriu.

No meio daquele deserto de praia e já ensanguentado da forma um pouco gentil com que foi colocado e tirado do carro, o empresário perguntou o que ela queria e ela disse que queria apenas saber da verdade. Ele disse que a verdade era a seguinte: pessoas poderosas precisam sentir prazer e para isso, não importa o preço, desde um simples servidor até o governador fazem uso de pedofilia, drogas e prostituição e que nada iria mudar. E que em determinado momento precisavam culpar alguém e que o pai dela foi o escolhido e que ela deveria ter orgulho, pois na vida dele nunca tinha tido tanto holofote como de fato passou a ter.

Ela então, olhou para todos os homens que estavam ao seu redor, todos armados com fuzis, apontados para o empresário, disse a ele que o seu pai não tinha morrido em vão e que esta dor ela iria compartilhar com a família do empresário, ele então disse que o mundo não mudaria com a morte dele, pois crimes como este continuariam a ocorrer e que pessoas pobres continuariam a serem penalizadas no lugar de ricos, bastava ela visitar as delegacias e penitenciárias de todo o Brasil.

Ao dizer isso, Eva apenas disse a palavra “adeus”, sendo o suficiente para que todos atirassem nele. As rajadas foram tantas que o corpo foi destroçado. Eva entrou no carro com a sensação de ter seu pai vingado, e tendo a certeza que uma pequena parte da parte podre da sociedade sergipana tinha morrido naquele dia.

Ao saírem dali, Paulo então disse a Eva que era necessário retornar para Salvador para acompanhar os acontecimentos de lá, bem como dar início aos trabalhos da suástica. No mesmo dia viajaram para Salvador no jatinho de propriedade da empresa de Eva. Antes, porém, esteve com Raimundo e ele então pediu para ficar. Eva por sua vez não queria ficar sozinha nesta hora, no entanto, atendeu ao pedido do amigo, que estava muito assustado com tudo o que estava acontecendo, mas salientou que a qualquer momento mandaria buscá-lo. E assim, mandou que o deixassem em casa.

As estradas e o aeroporto foram bloqueados, mas esta providência só foi tomada momentos depois que todos que participaram da ação já haviam viajado. Do alto, Eva avistava toda a cidade já iluminada com holofotes apontados para o céu, vindos dos palcos do shows que brilhavam nos pontos estratégicos de Aracaju e grande parte da sociedade sergipana não fazia ideia do que tinha ocorrido. O fato é que ela também conseguiu que no dia da morte de todos os envolvidos na tragédia de seu pai, a cidade estava em festa e estes não foram noticiados, ou seja, passou em branco suas mortes.

Ao chegar em Salvador, foram direto para um hotel de luxo na orla soteropolitana, sendo que desta vez ela foi num helicóptero e dentro deste, estava o seu tio Juan, e, após a surpresa ao vê-lo, o abraçou e chorou muito por tudo que tinha acabado de fazer. Juan, não falou muito, apenas disse que ela precisava descansar e que no outro dia eles conversariam.

Ainda na madrugada do dia seguinte, enquanto as pessoas brincavam no carnaval fora de época em Aracaju, as duas maiores empresas de televisão, bem como três jornais de grande circulação no Estado de Sergipe e quatro empresas de telefonia móvel reestabeleceram os sinais, fazendo então Aracaju voltar a ter comunicação com o mundo. Foi um dia de caos, pois nem a polícia, hospitais, nada que dependia de internet ou telefonia estava funcionando direito.

Assim, que todos foram tomando noção de tudo o que tinha ocorrido ao mesmo tempo, a sensação de desespero foi tomando conta da Capital. O vice-Governador, agora Governador, convocou uma reunião de emergência com todas as polícias, inclusive a federal, além de algumas autoridades.

O Presidente da República acionou o Exército e a força nacional, determinando o envio de tropas para ajudar no controle da sociedade. Registre-se que muitos policiais fizeram questão de trabalhar nas quatro festas oferecidas por Eva, pois ela determinou que fosse feito um acordo com a Secretaria de Segurança para pagar um terço de mês de subsídio para quem fosse trabalhar na festa, por apenas poucas horas de trabalho, inclusive para isso Eva mandou depositar o valor no dia da festa (muitos policiais aceitaram prontamente trabalhar nas festas promovidas por Eva, pois o mesmo não ocorre com outras festas promovidas no Estado por empresas privadas, onde muitos policias foram até perseguidos quando não participavam).

Sergipe virou notícia em todo o Brasil, inclusive muitas pessoas em Aracaju nem imaginavam o que tinha ocorrido no dia anterior, pois as televisões que estavam fora do ar, apenas denotavam um problema de sistema de transmissão e o fato da telefonia móvel não funcionar, sinceramente isto já era corriqueiro, como já dito, aparentava ser algo de energia elétrica ou coisa parecida. Por isso, muitas pessoas foram para as festas ou fizeram suas rotinas de shopping ou faculdade, já que a vingança foi ocorrendo durante o dia e as pessoas não tinham como trocar informações.

Eva acordou no dia seguinte e ao seu lado, sentando em uma cadeira, estava o seu tio e padrinho Juan. O quarto era extremamente luxuoso. A cama era enorme e as cobertas e edredons que a protegiam do frio do ar condicionado eram macios e muito confortáveis. Ela nunca tinha visto um quarto daquele tamanho, principalmente pela vista que o quarto tinha, bem de frente para a baía de todos os santos, localizada na bela Capital Baiana. Ao som baixo de “El dia que me quieras”, do notável Carlos Gardel, Juan tornava a manhã de Eva bem calma, como se quisesse prepará-la para o dia que estava por vir.

O sorriso de Juan meio que destoava da realidade fática dos últimos dias.

Eva, com a voz sonolenta e calma, como se estivesse dopada, olha para Juan e disse que estava feito e tudo aquilo era estranho e tenebroso. Ela reconheceu que não tinha ideia do potencial de maldade que era capaz de executar, principalmente diante de tamanho poder. Juan confirmou, mas aproveitou para lembrá-la que assumiu um pacto, mesmo que este pacto não tenha sido do bem, mas o fato é que ela contou com todos e com tudo para executar a sua vingança, foi-lhe dado o livre arbítrio e ela escolheu a vingança, o poder e a justiça que ela desejava foi alcançada. Por isso, não mais caberia retroceder, nem tampouco falar em desistir, muitos agora desejam seguir suas ordens.

Assim, Juan, entregou-lhe o velho diário, que ainda precisa ser lido em muitas páginas, pois muito do norte do novo império deveria ser executado sob os comandos do falecido Adolf.

Com estas palavras, Juan abriu a porta do quarto, olhou para Eva, piscou o olho como sinal de amizade e carinho e em seguida saiu. Além da bandeja com um completo café da manhã, também estava na sua cama alguns jornais de todo o país, inclusive um de Sergipe contando toda a notícia do Terror que amedrontou Aracaju. Ela leu e ao passo que ia vendo as fotos e reportagens iam descendo lágrimas. Eva começou a chorar muito. Chorou tanto que logo ficou com dor de cabeça e voltou a deitar, cobrindo-se com o edredom e ficou soluçando. O mundo mais uma vez tinha caído sobre a sua cabeça, só que agora de outra forma.

Ao meio dia, Juan foi acordá-la e disse que era preciso que ela tomasse banho e ficasse pronta, pois ela teria uma reunião importante. Eva obedeceu a seu tio e desceu para uma sala grande do hotel onde estava hospedada e lá se encontravam várias pessoas que aparentavam serem estrangeiros e ao entrar na sala todos bateram palmas e a saldaram como rainha. Juan a informou que a notícia das suas ações já eram de conhecimento mundial entre os integrantes do clã e nada melhor para os seus liderados em saberem que a “herdeira” era digna do posto tão almejado. Foi ai que Eva começou a perceber que a sua vingança foi o ponto de partida para um levante no qual ela era a peça chave. Interessante que Eva já não mais se abismava com os homens armados que a cercavam. Eva ouviu em várias línguas saudações devidamente traduzidas ou não, já que ela era poliglota, desejando todo o sucesso e apoio para o novo projeto nazista mundial. Foram quase três horas só escutando aqueles homens e mulheres elegantes saudando a nova líder. Em seguida foi servido um banquete para todos os que estavam presentes e pareceia que estes ficavam felizes quando visualizavam o ar triste e sombrio de Eva, pois eles acreditavam que esta era a verdadeira Eva e não por estar ela triste e infeliz com a proporção dos acontecimentos.

Após o almoço, Juan conduziu Eva para uma sala menor, local onde recebeu os que estavam presentes na sala maior, sendo que agora o encontro seria individualizado por delegação. Eva foi apresentada às pessoas de todos os continentes, principalmente pessoas vindas da Europa e dos Estados Unidos. Consigo estavam planos comerciais, projetos das mais variadas áreas, estruturas de empresas e de partidos políticos, ações econômicas, etc, e em breve síntese, todos iam passando informações para Eva. Ela como uma mulher inteligente, ia captando todas as informações e as que não ia entendendo logo perguntava para Juan e este tratava de colocá-la a par de tudo.

Por volta das dezenove horas todas saíram e Eva, sem intervalo, soube receber a todos e obter as informações necessárias de um império que ela passaria a movimentar direta e indiretamente. Ela ficou espantada com o enorme comércio que passaria a controlar, inclusive no sistema financeiro e com venda de automóveis e armas, além de se tornar mentora de um partido nazista na Europa. Eva foi transportada para uma realidade nunca imaginada, pois tudo aquilo que ouviu naquela tarde e noite era inimaginável tempos atrás. Ela não fazia ideia de quantos nazistas ou simpatizantes deste estilo de vida ainda persistia no mundo.

O que deixou mais perplexa foi o fato de que um dos homens mais ricos do mundo, e que também é brasileiro, ser nazista e adotar a filosofia segregadora de Hitler. Pois a filosofia atual dos novos nazistas era discriminar sem ser percebido, ou seja, auxiliar políticas públicas, que tenham como matriz a defesa dos interesses sociais, mas que na verdade servem apenas para encobrir o verdadeiro objetivo que é o interesse segregatista e imperialista do nazismo. Tudo mascarado por programas sociais, principalmente no âmbito do combate ao racismo, a homofobia e aos crimes ambientais.

Também foram mencionados pelos nazistas ações que precisavam ser tomadas para regular as atividades do novo império nazista.

Para exterminar os judeus, o programa adotado nos campos de concentração foi chamado de “Solução Final”, e com esta nova realidade para os nazistas, estes já estavam chamando o momento da verdadeira “Solução Final”, pois os ideais nazistas não estavam só contra os judeus, mas contra todos que fossem de encontro com os ideias do nazismo.

Gostando ou não Eva era o centro deste novo projeto. Durante a reunião Eva foi informada que a CIA e a INTERPOL já estavam monitorando os seus passos, pois a sua vinda já tinha chamado a atenção de muitos setores da economia mundial, não só nos negócios e políticas lícitas, mas também ilícitas.

As regras de comando deste império estavam bem definidas por Hitler em seu diário e diante das cobranças feitas por Juan para a leitura do diário, Eva teve que se inteirar dos ditames nazistas. Até aquele momento, Juan praticamente era o líder, mas sempre preparando terreno para ela assumir o seu posto.

Daquele dia em diante, muitos dos negócios foram movimentados por Eva, inclusive de indicações políticas na Europa, África e na Ásia.

Eva começou a viajar pelo mundo, sendo que o primeiro lugar a viajar foi para Buenos Aires na Argentina, onde em um almoço em Puerto Madero, conheceu vários nazistas, em especial, filhos dos verdadeiros lutadores da segunda guerra mundial. Lá descobriu que além de casas de tango, também era responsável por comando e direção de empresas, universidades e teatros.

Foi justamente na visita ao museu da rua Montevideo, nº 919, no centro de Buenos Aires, que Eva tomou conhecimento de que em Sergipe e no Brasil as pessoas já sabiam da pessoa milionária que ela havia se tornado, mas ainda não tinham feito a ligação entre os crimes com a sua pessoa.

Foi para a América do Norte e esteve em uma loja localizada na rua 46, na ilha de Manhatann, no Estado de Nova York, local onde encontrou jornalistas e empresários nazistas dos Estados Unidos, momento em que entendeu ainda mais da rede que passou a comandar. Foi lá, nos Estados Unidos, que teve que tomar uma decisão séria no sentido de mandar intervir belicamente em uma das concorrentes na produção de diamantes na África do Sul, onde culminou em muitas mortes. Aos poucos, Eva foi percebendo que ela era apenas o gatilho que todos precisavam para colocar a culpa ou o comando, seja como for, ela cada vez mais ia ficando mais fria, pois as suas decisões viravam notícias em todo o mundo, apesar dela nunca aparecer.

Sempre que possível entrava em contato com Raimundo para saber das notícias de Aracaju e de Sergipe. Evidente que sempre usando um sistema comunicação de rádio.

Através dele ficou sabendo que muitos juízes ficaram com medo de assumir as vagas de desembargador, bem como muitos procuradores de justiça e advogados negavam a indicação, sob a possibilidade de serem mortos. Uma vez que ela determinou que fosse espalhados panfletos (antigo método nazista) informado que só homens de bem poderiam assumir tais cargos, sob pena de também serem mortos. O caos ficou estabelecido em Sergipe. Tanto foi assim, que o ex-vice-Governador, que passou a ser Governador de direito, teve sérios problemas para gerir o seu governo e minimizar o medo de um inimigo desconhecido.

Foi quando Eva, sabendo por seu amigo Raimundo, de que muitas pessoas tinham medo de uma onda de mortes sem explicação, pois até a polícia federal não tinha resposta, nem a Agência Brasileira de Inteligência solucionava o quebra-cabeça, então resolveu mobilizar ainda mais o fim de muitas situações sociais no Estado de Sergipe, como ela mesmo dizia, transformar Sergipe num Estado modelo.

Então, além de gerir muito bem os negócios nazistas, passou a investir em Sergipe e determinou que muitos criminosos fossem mortos, inclusive mandou verificar se nas sentenças ou denúncias ou até indiciamentos haviam máculas coorporativas. Quando era detectada uma vocação mafiosa e irresponsável de um magistrado, integrante do ministério público, de defensor público, de advogado, ou de delegado de polícia, mandava exterminar. Os relatórios chagavam em suas mãos e com isso ela mandava eliminar todo aquele que agia com a aplicação de injustiça. Em poucos meses foram sete juízes, nove promotores, dois delegados, oito advogados e três defensores públicos, integrantes dos entes Estaduais e Federais, com mortes sem explicação. Mandou inclusive que fossem eliminados marginais de alta periculosidade, inclusive estupradores, nos presídios e delegacias de Sergipe, tendo como resultado mais de duzentas mortes.

A situação estava de um jeito que nenhum promotor de justiça, procurador da república, advogado estava querendo integrar a lista do quinto constitucional, nem tampouco os magistrados que estavam na lista de antiguidade ou merecimento se habilitavam para a promoção.

As mortes eram parecidas, acidentes de trânsito ou suicídios. Os juízes começaram a tomar mais cuidado em suas decisões, deixaram de passar a responsabilidade para os seus assessores ou estagiários, assim como os promotores e defensores públicos seguiram o mesmo exemplo. Os juízes, integrantes do Ministério Público e defensores públicos tidos como honestos e corretos eram poupados.

No entanto, em meio a tantas mortes, Eva mandou instalar várias empresas e a fomentar com crédito a longo prazo em vários lugares do Estado de Sergipe, e para isso colocou Raimundo como gestor destes negócios. Até projetos de irrigação e incentivo à produção agrícola, como também em investimentos na educação, turismo, esporte, construção civil, de um jeito que em Sergipe havia mais empregos do que trabalhadores. O ideal era fazer Sergipe um Estado modelo. Quem sempre aparecia como representante deste grande grupo econômico que acreditava no futuro de Sergipe era Raimundo.

Enquanto isso, Eva ia gerindo o seu patrimônio para fomentar todos os negócios nazistas no mundo, principalmente no âmbito de empresas automobilísticas, times de futebol (dois grandes times brasileiros foram comprados por Eva, um no Rio de Janeiro e outro em São Paulo) e comércio de armas. O dinheiro que estava parado em alguns negócios, em tese, passou a se transformar em mais dinheiro. Em pouco tempo Eva aumentou o seu patrimônio, ou melhor, o patrimônio nazista e conseguiu várias vagas no parlamento Europeu, latino e norte Americano, australiano e até em países asiáticos. Para se ter uma ideia do poderio de Eva, máfias contrárias ao pensamento de Hitler tiveram baixas em Nova York, Japão, Rússia, Itália e na China, ao passo que outras organizações criminosas foram beneficiadas e incorporadas à teia nazista (Eva utilizou a técnica imperialista de Alexandre, o Grande). Pois o limite para obter o êxito de acordo com o diário era o fim de todos os oponentes ou agregá-los ao seu negócio.

Um dia, quase um ano depois do início de toda esta história, Eva resolveu ir para Aracaju, para ver como as coisas andam e então resolveu passear de carro pelas ruas da Capital Sergipana. Claro que durante sua permanência na cidade continuaa tomando suas decisões por telefone ou e-mail, até que resolveu assistir a missa das 19:30 horas da Igreja Santa Lúcia, sob o comando do Padre Peixoto e lá, durante a homilia, percebeu que o Padre demonstrava preocupação com a sociedade sergipana, vez que muitas pessoas morreram sem explicação, inclusive as autoridades estavam assustadas, já que estas eram pessoas de bem e não mereciam aquele fim.

Durante a missa ela ainda ouviu uma pessoa na igreja dizer que “safado” tem que morrer, pois não faz falta a ninguém, independente de posição social. Mas foi na homilia do padre que ela percebeu que estava passando dos limites, apesar da criminalidade ter caído para zero, foi quando ouviu um dos filhos de um dos juízes mortos. Ele dizia que seu pai era honesto, e que não merecia ter morrido, além de estar sentindo falta dele.

Ela ficou emocionada e teve vontade de chorar, mas lembrou do sofrimento que teve quando fizeram seu pai sofrer, e que a expressão “homem honesto” era muito relativa, e recordou que faltava ainda uma coisa, limpar o nome de seu pai. Após a missa, ordenou que seus assessores que elaborassem um plano para associar os crimes imputados a seu pai aos verdadeiros criminosos e trouxessem até ela para debaterem sobre o tema. Em seguida foi até a casa que foi comprada na praia da Sarney e determinou que fossem pegar Raimundo para levá-lo até ela.

Interessante que, mesmo tentando disfarçar, a comitiva de Eva era enorme, não tinha como não chamar a atenção, pois apesar de serem carros grandes e também em diferentes cores escuras, e homens sem boa aparência que entravam e saiam dos mesmos ao lado de Eva.

Na casa de praia, durante a conversa com Raimundo, este lhe apresentou a estatística positiva dos resultados referentes aos investimentos de Eva em Sergipe. Ela controlava 95% das Prefeituras sergipanas, muitas já contavam com o dinheiro do Império para o próprio sustento. Nunca existiu tantas obras em Sergipe como no ano em curso. Pessoas de outros Estados passaram a vir para Sergipe pelas oportunidades de emprego. Até metrô passou a ser projetado ligando toda a Grande Aracaju (claro que o projeto da Parceria Público-Privada garantia à empresa de Eva a concessão por mais de vinte e cinco anos de exploração do mercado).

Pouco antes de ir embora, Eva recebeu a ligação de Juan, pedindo para que ela partisse imediatamente para Salvador, para o escritório na cidade baixa. Ela se despediu de Raimundo e viajou de jatinho para a terra soteropolitana.

Lá chegando, Eva seguiu para o forte de Monte Serrat, local onde Juan a esperava. Ele olhava para o mar, iluminado pela luz da noite de lua cheia, com as mãos para trás e assim que Eva se aproximou dele, Juan iniciou um discurso dizendo que todos nós somos um equilíbrio entre razão e emoção, caso um seja maior do que o outro, perdemos o controle das nossas vidas. Ela sem entender, pergunta a ele o motivo daquele comentário e ele, ainda sem olhar para ela, olhando para o infinito do mar disse que o que estava feito já era o suficiente. Disse que nos últimos meses ela tinha agido de forma brilhante na condução dos negócios e até mesmo quando a ordem era matar. Disse ainda que ela já era orgulho dele, de milhões de seguidores e até de seu avô seria, caso estivesse vivo. Mas não poderia deixar de lembrá-la que tentar limpar o nome do pai dela, naquele momento, era vinculá-la aos crimes ocorridos em Sergipe, principalmente quando todos já sabiam do seu posto, do seu poderio, além de muitas polícias e agências independentes de inteligências ao redor do planeta já estarem em encalço. Lembrou que uma atitude destas poderia comprometer os planos da Solução Final.

Disse ainda que algumas histórias neste sentido de vincular Eva aos crimes já haviam sido levantadas, mas foram abafadas e caso ela insistisse naquela ideia o tiro poderia sair pela culatra.

Lembrou a ela que os objetivos do nazismo eram muito mais importantes do que qualquer pessoa, inclusive os dela, pois ela era o próprio nazismo e qualquer ação precipitada poderia prejudicar os intentos do Império.

Juan afirmou claramente de que muitas coisas estavam na penumbra, pois ela era ainda realidade para os seus pares e não para toda a sociedade mundial. As notícias a seu respeito eram meio que internos, apesar das consequências dos seus mandos serem externos. A publicidade era para o que precisam aparecer, o que não era o caso dela. Aliás, disse Juan a Eva, muitos dos bens que existem possuem várias origens, como ela bem sabe, e muitos destes bens possuem donos e estes foram e são as primeiras vítimas do nazismo. E por mais que a moral de seu pai fosse importante, naquele momento, salvá-la poderia comprometer os ideais nazistas.

Eva, mesmo perplexa com a tamanha rapidez com que ele tomou conhecimento do seu intento, retrucou no sentido de dizer que ela saberia como fazer tudo isso, além de que seu pai merecia ter sua honra defendida, além de que para todos da sociedade apenas seria noticiado que o pai dela foi vítima de uma armação.

Juan chegou perto dela e disse, já chamando-a de “minha Líder”, que a decisão era dela, mas que ela teria que arcar com as consequências caso todos os ideais nazistas fossem expostos.

Aquelas palavras mexeram muito com Eva e foi então que ela percebeu que os crimes cometidos contra os que planejaram o envolvimento de seu pai com os crimes noticiados, com certeza a traria para os bancos dos réus. Foi ai também que ela percebeu que só seu tio Juan era o único amigo naquele momento (Raimundo apesar de ser amigo, mas não estava no rol de nazistas), pois nem os seus assessores diretos ou guarda costas lhe traziam confiança, principalmente depois de terem levado rapidamente a notícia para Juan.

No dia seguinte, deu início ao seu intento de fazer com que o nome de seu pai fosse “limpo”. Para isso, mandou que contratassem um escritório de advocacia em Aracaju para que este encontrasse erros no processo e fosse então detectada a viabilidade da inocência de seu pai.

O escritório escolhido foi o do professor e advogado Wladimir Corrêa e a instrução era encontrar toda e qualquer falha no processo investigatório e judicial. O correspondente, que tratou de resolver todo contato com o advogado naquele mesmo dia, foi o amigo Raimundo, que teve o cuidado de ir ao escritório localizado no edifício Oviêdo Teixeira, no primeiro andar para tratar sobre o tema.

Ainda em Salvador, Eva pediu para ir até a Igreja do Senhor do Bonfim, pois precisava pensar e mesmo diante deste novo objetivo de garantir a reputação póstuma de seu pai, no caminho não parava de chegar informações pelo seu computador, solicitando tomada de decisões, inclusive com pena capital por traição ao sistema (o que fazia pensar muito em suas atitudes), que via de regra a ordem era a execução. Vale lembrar que um mercado negro em todo o planeta e além de inúmeras ações eram comandadas direta e indiretamente por Eva.

Sentada no banco da Igreja, Eva começou a folhear o velho diário e nele, tem momento em que seu avô afirmava que após o grande mal, tão esperado, a pomba se converterá em águia sedenta de sangue e fará melhor do que ele mesmo fez. O interessante é que em latim, o velho Führer citaa a data em que o seu pai foi envolvido no problema e que gerou toda aquela situação. Como ele sempre gostou de falar por metáforas e coincidentemente ele havia dado a ela uma corrente, cujo pingente era uma pomba, Eva começou a encarar os fatos como algo previsto.

Chorou muito, bateu com muita força na cadeira ao ponto de sangrar a parte superior das mãos, gritou como se tivesse uma grande dor, ajoelhou-se, rezou com as lágrimas nos olhos, e quanto mais ela pensava, percebia que ela tinha se transformado em outra pessoa, motivada pelo ódio, distante daquela mulher sem qualquer maldade no coração. Eva, chegou a achar que aquele ambiente religioso não era mais seu, pois a todo o instante ela contrariava a tudo o que Bíblia prega.

Determinou que a levassem para encontrar com Juan, mas segundo a sua assessora de nome Laura, este já havia partido para a Áustria, na pequena cidade de Braunau am Inn. Foi então que imediatamente ela ligou para ele. Juan atendeu e Eva desta vez, com uma voz nutrida de raiva, chamando-o de Tio, disse que queria muito vê-lo e ele, com um sorriso disfarçado, respondeu: que prontamente, chamando-a de sobrinha, mas afirmou que para cumprir todo o projeto do grande Líder, era necessário que ela também fosse para a Áustria. Disse ele que o helicóptero que a protege, com seguranças, irá pousar no forte em que eles se encontraram e de lá partirá para o aeroporto.

Interessante que Juan se comportava como um autor de novela, como se soubesse cada passo de Eva, dos seus sentimentos e das suas reações. Já no trajeto para o aeroporto, Eva recebe a ligação de Raimundo informando que já havia conversado com o advogado e que este iria começar a trabalhar no dia seguinte, conforme combinado e Eva por sua vez determinou que desse continuidade aos trabalhos e que depois eles se falariam já que teria que viajar naquele momento para a Europa. Antes de desligar, Raimundo pediu autorização para que ele movimentasse amigos da imprensa no sentido de passar informações sobre o pai dela e demonstrando as falhas do inquérito, para melhor divulgar que tudo foi plantado contra o pai dela. Eva prontamente concordou e disse que ele poderia fazer o que quisesse no sentido de tornar o nome do pai dela limpo e ainda na condição verdadeira, ou seja, o de vítima.

Ao chegar no aeroporto para pegar o jatinho da sua empresa, o que ela sempre usava, percebeu algo que não tinha prestado atenção até aquele momento, nele estava gravado a expressão: ÁGUIA 1.

Como de costume, todos a saúdam e ela então parte para a Áustria. Quando chegam no aeroporto austríaco, partem para a alfândega que a libera rapidamente. Sete carros luxuosos, pretos, entre eles a limusine de Eva estão a sua espera para levá-la até o local onde Juan se encontrava.

Juan estava numa praça, em frente à casa onde havia nascido o seu avô Adolf e lá, nesta praça, tinha uma pedra com os seguintes dizeres: Pela paz, liberdade e democracia - fascismo nunca mais - milhões de mortos nos relembram. Juan olhou para Eva e perguntou a ela se havia entendido e prontamente a sobrinha respondeu que sim. Ela então olhando com muita raiva para ele disse que a vontade que tinha era de matá-lo com as próprias mãos, e apontando o dedo para Juan disse que os dois, tanto o seu avô, como ele, não tinham o direito de matar o seu pai e nem provocar toda aquela reviravolta na sua vida.

Ela segurou com as duas mãos e com firmeza no terno de Juan, chorando, e perguntando o porquê daquilo tudo, pois se eles desejavam um levante nazista ou coisa parecida não era necessário envolvê-la nesta história e para isto matar o seu maior bem, ou seja, o seu pai. Chorando muito e sem forças, Eva se entrega ao abraço de Juan e este a segura forte, uma vez que estava aos prantos, tanto que chamava a atenção dos poucos transeuntes, daquela bela e fria manhã. Ele a leva para um dos bancos da praça e enxuga o seu rosto e disse que na vida muitas das coisas que acontecem tem um motivo, assim como nossas escolhas.

Seu avô redesenhou um modelo político e econômico, que sempre será reinventado, com uma estratégia simples, a aparência de algo bom. Ele percebeu, mesmo já bem velho que as pessoas precisariam se apegar a novos paradigmas, principalmente religiosos, partidários e econômicos. Por isso, nos últimos trintas anos foram criadas novas tendências religiosas, inclusive uma das maiores do Brasil é comandada pelo nazismo, além de um grande partido político que segue a orientação e modo de agir Hitleriana.

Juan continuou dizendo que enquanto os Estados Unidos e União Soviética brigavam ou faziam uma guerra fria, ele investia em fábricas de armas e em empresas de petróleo. Eva começou a entender de onde vinha o comando de duas grandes empresas de Petróleo que controlava, bem como de pelo menos cinco fábricas de armas médias que também gerenciava.

Com o tempo, o dinheiro que antes não tinha origem passou a ser limpado economicamente. É bem verdade, segundo Juan, que Hitler não admitia o envolvimento com venda de drogas ou pessoas, inclusive mandou matar alguns traficantes em alguns países, entre eles o Brasil, Estados Unidos e Colômbia. Continuou relatando que de São Cristovão, em Sergipe, Hitler investia em algo que muitos do conselho nazista foram contra, em informática e em televisão por assintaura, resultado, mais dinheiro foi movimentado pelos negócios nazistas, tudo de forma lícita, no entanto direcionando para um ideal que seria proposto no futuro, ou seja, aquele momento.

Segundo Juan, Hitler não admitia a ideia de vincularem os seus projetos como algo profético, ou seja, como se as ações que fez contra os judeus tivesse a ver com o fato de terem sido estes os autores da cruscificação do Filho do Senhor, como algumas religiões ensinam.

Admitiu que Hitler patrocinou a fabricação de um vírus conhecido mundialmente para destruição em massa, cuja transmissão se dá pela relação sexual ou pela transfusão de sangue e determinou a propagação do mesmo na África, local que já estavam nos seus planos para destruição de toda uma etnia, se não fosse o fato de ter sido salvo por Nelson Mandela, durante uma briga na prisão, quando certa feita Hitler havia sido preso por engano (inacreditável, mas aconteceu) quando esteve na África. Este fato fez com que Hitler não mais direcionasse o poderio econômico contra o continente africano. Inclusive sobre este episódio, Juan esclarece que quando Mandela o livrou da morte nos poucos dias que permaneceu preso na África do Sul, o líder africano mandou um recado para Hitler, dizendo que ele não trouxesse mais mal para uma sociedade tão sofrida. Esta incógnita persistia até hoje, pois, segundo ele, Mandela olhou bem nos olhos e afirmou categoricamente sobre a existência de Hitler, algo que era segredo para poucos. Tempos depois, Hitler inclusive chegou a mandar uma medalha de ouro com o símbolo do nazismo, medalha esta que uma vez apresentada pelo seu possuidor deve receber toda e qualquer proteção dos nazistas, pois é um símbolo de amizade do Führer, história esta que Juan prometeu explicar melhor para ela em breve, quando então esclareceria melhor os regulamentos nazistas e que hoje ela era a única que possuia o direito de presentear com esta medalha a pessoa que ela entenderia merecedora.

Eva não tirava os olhos de Juan, que continuou falando sobre este episódio no sentido que até o dia do falecimento de Mandela, ele era protegido pelos nazistas, mas não pelo que ele representa para a paz, mas por ter recebido a medalha de honra, tanto que alguns já foram mortos por tentarem contra a vida de Mandela, inclusive brancos arianos.

Numa guerra, continuou Juan, muitos inocentes são vitimados, principalmente quando os objetivos são bem traçados. Nesse momento ele citou a guerra do Vietnã, observe, enalteceu Juan, que tanto do lado americano como dos vietnamitas, as perdas foram imensas, muitas vidas foram perdidas, uma vez que o único propósito era a venda de armas e produção de armas cada vez mais letais. A guerra foi um pretexto e foi nesta guerra que os nazistas ganharam muito dinheiro sem muito esforço.

Na guerra das Malvinas, seu avô, disse Juan, quis ajudar à Argentina, pois naquele momento ele daria um grande troco na Inglaterra e nos Estados Unidos, que indiretamente ajudava, mas os Argentinos desprezaram a ajuda bélica, e o resultado já era de conhecimento de todos.

Então, diante destas histórias, Juan tentou demonstrar que tudo foi construído para atender aos fins do nazismo, sempre sobre o comando direito e indireto do Führer. Só que a idade chegou e mesmo cada um tendo um papel neste grande jogo de xadrez, era necessário pensar em um substituto e ela foi a escolhida. No entanto o problema era como envolvê-la naquele jogo, foi por isso que ele pensou em atingir seu maior bem. Juan continuou dizendo que existem várias formas de matar uma pessoa, uma delas é atentando diretamente contra a sua vida com uma arma de fogo, por exemplo, mas outras formas consistem em deixar uma pessoa sem trabalhar, atingi-la moralmente, machucando alguém importante para esta pessoa, escravizando-a, etc. No caso específico, ele planejou tudo o que aconteceria com o pai de Eva, os passos, os eventos, tudo foi bem escrito e executado com o propósito de trazê-la para o grande projeto, disse Juan olhando para ela que chorava por dentro.

Então, a verdade era aquela, atingir o pai de Eva estava nos planos de Hitler para trazê-la para o nazismo, como um batismo sem precedentes. Disse ainda que quem cumpriu todas as ordens tinha sido ele e, assim que terminava de dizer isso, ou seja, no instante em que contou a verdade, Juan tirou do casaco uma pistola com silenciador, colocou-a na mão de Eva, olhou para ela e disse, com muita serenidade, para que ela terminasse com o seu sofrimento e que matasse o verdadeiro executor do fim trágico que teve o seu pai.

Eva olhou para a pistola, olhou para Juan, segurou-a na mão, engatilhou-a e neste instante ele disse a ela que apesar de tudo a amava e que merecia aquela sentença de morte. Eva começou a chorar bem suavemente e quando uma lágrima começou a descer pelo seu rosto, ela baixou a cabeça e então Juan pediu para que ela atirasse. Ela mais uma vez baixou e levantou a cabeça, olhou para ele e disse que a arma teria que ser a de seu pai, pois nada mais justo que fosse assim. Ele olhou para ela, acenou positivamente com a cabeça, sem falar nada, daí, Eva tirou da bolsa um revólver calibre 38 e apontou para ele. Tudo isso, estando os dois muito próximos, sentados no banco da praça.

A mão de Eva foi puxada, juntamente com a arma em direção ao peito do próprio Juan e em quando estava apontada para o coração, Juan pediu para terminar logo, pois ela tinha muito pra fazer. Eva então, olhando pra ele, puxou o gatilho seis vezes, rapidamente, o suficiente para todo o tambor circular e assim que terminou, sem nenhum estampido ter ecoado pela praça, Juan, agitado pela adrenalina e com grande suor no rosto, abriu os olhos, ainda sob a tensão do momento, e, perplexo e ao mesmo tempo aliviado, perguntou-a o motivo de não tê-lo matado. Ela disse que a morte estava nas mãos dela, a todo instante, para o resto da vida, não caberia a ela pôr fim à vida da única pessoa que verdadeiramente a amava. Continuou dizendo, a morte dele não traria de volta ninguém, nem mesmo o seu pai. Caberia a ela agora, agir com uma única coisa, o perdão, pois é justamente isso que ela precisará no futuro, pois o mal que estava plantando era muito grande. Eles se abraçaram, choraram juntos e após, com gesto de carinho e respeito, ela beijou a mão dele.

Combinaram então em voltar para o Brasil e continuar gerenciando os planos de lá, tendo Juan concordado, pois algumas investigações internacionais já estavam acontecendo em relação às atividades nazistas e o nome dela já era o foco principal.

No dia seguinte, antes de se despedirem, uma vez que Juan teria que ficar na Europa por questões estratégicas, Eva então disse ao tio que a noite anterior foi uma das mais longas de sua vida, mas agora ela entendia o seu papel mais que nunca e iria desempenhá-lo como planejado pelo seu avô, no entanto, pediu para que ele confiasse sempre nas suas decisões.

Capítulo III – O meio

O destino era Recife, porém Eva determinou que o avião desviasse e fosse até Aracaju. Lá, contactou com Raimundo e pediu para que ele a encontrasse. O local marcado foi no restaurante Riacho Doce, em Itabaiana, uma vez que Eva gostava muito do churrasco de lá.

No restaurante, sempre sendo vigiados por vários seguranças, que não tinham como não chamar a atenção, apesar de ainda ser umas onze horas da manhã. Raimundo confirmou a presença de muitos outros envolvidos nos crimes que acabaram envolvendo seu pai, mas também aconselhou que ela não mandasse executar, pois já ouvia comentários sobre o possível envolvimento dela na chacina.

Eva dispensou o pedido do amigo e pediu a lista com nomes, ele então abriu a pasta contendo um dossiê, inclusive com fotos. Ela observou atentamente nomes de grandes autoridades brasileiras, entre eles senadores e juízes de outros Estados, e então chamou seu secretário que estava próximo. Este atendeu ao pedido de Eva, recebeu dela a pasta e com um sinal apenas por meio de um gesto de movimento da cabeça, o secretário entendeu o recado e saiu para fora do restaurante, chamou alguns dos seguranças e partiram em um dos carros.

Raimundo disse a Eva que não queria mais trabalhar com ela, pois andava triste com a onda de violência. Que era difícil saber que com nomes que acabara de entregar, pessoas iriam perder a vida. Eva no mesmo instante disse a ele que aquelas pessoas já estavam mortas, apenas precisavam da efetivação. Naquele mesmo instante, entrou uma senhora chorando e gritando, pedindo para Angelo, o garçon do restaurante, a ajudá-la, pois sua filha tinha sido vítima de estupro e que estavam quase morrendo no hospital, Eva ao ver aquela cena, levantou-se e vai até a senhora. Acalma a velha mãe, sentando-a na cadeira e perguntou onde estava a sua filha e ela respondeu que a mesma foi levada para o HUSE em Aracaju, por isso estava ali para pedir ajuda, pois não tinha dinheiro para se deslocar até Aracaju. Eva perguntou se o responsável tinha sido preso, a senhora informou que ele tinha sido preso e estava na delegacia central de Itabaiana.

Raimundo olhou para Eva, e percebeu olhar típico dela quando fica com raiva e ao mesmo tempo com vontade de resolver o problema. Eva então pediu para Raimundo acompanhar a senhora até o hospital, bem como transferir a filha para um hospital particular, além de disponibilizar um médico exclusivo para a vítima e que mais tarde ela encontraria com o Raimundo Aracaju. Ele pediu para Eva não agir no calor da emoção e que tivesse calma na resolução daquele problema.

Eva mandou que ele fosse embora com a senhora imediatamente e já num tom mais sério. A senhora agradeceu e eles partiram em sentido a Aracaju na comitiva que estava com Raimundo.

Eva determinou que a sua comitiva fosse à delegacia onde o homem estava preso. Como eram cinco carros com vários homens dentro, ao pararem na porta da delegacia, chamou bastante a atenção, pois todos estavam de ternos preto, de óculos escuro e armados, mas sem que pudesse ser visto as pistolas ou fuzis uzi que estavam escondidas por dentro dos paletós.

Ela exigiu que trouxessem o estuprador para fora da delegacia a qualquer custo, mas sem matar os policiais, apenas rendendo-os e assim foi feito. Como sabe da carência nas delegacias de policias, não enfrentaria problemas. Na hora vinha chegando um repórter que trabalha para Bareta, apresentador de um programa policial de televisão. Os homens ao entrarem na delegacia perguntaram pelo autor do crime de estupro, os policias, os poucos que estavam no local, ficaram perplexos com a cena, mesmo assim informaram de quem se tratava, momento em que foram rendidos, tendo suas armas apreendidas pelo pessoal de Eva. O autor do crime foi retirado da delegacia sendo segurado pelo pescoço. Neste instante, um cinegrafista quis gravar as cenas, mas um dos seguranças de Eva tomou a câmera, quebrou-a e apontou a arma para todos que estavam no carro de reportagem. Muitas pessoas viram tudo. Eva sem aparecer, dentro do carro via tudo. Eles perguntaram ao criminoso se ele tinha feito o estupro, e ele negou meio que chorando. Neste momento, o secretário apontou um fuzil para os policiais que estavam na porta e perguntou se ele era o estuprador que acabara de ser preso e os policiais confirmaram, inclusive um deles chegou a dizer que era o único que estava na delegacia, em seguida o fiel escudeiro olhou para Eva e ela fez o sinal positivo com a cabeça. O marginal foi atingido com um único disparo, em plena rua, na frente de todos e que pararam para ver a cena.

Em seguida todos entraram nos carros e a comitiva saiu em alta velocidade no sentido de Aracaju. Neste instante, determinou aos seus homens que ainda naquele dia, para que fossem elaborados os planos para executarem todos os presos em presídios e em delegacias de Sergipe acusados de estupro, pedofilia ou crimes contra idosos, e isto tinha que ser imediatamente.

O secretário acatou a ordem e assim que conduziu Eva até a residência na praia da Sarney, partiu para executar o plano. Eva procurou saber sobre a jovem e Raimundo informou que ela veio a falecer, pois ela também tinha sido agredida de várias formas.

Naquele instante já era notícia o ocorrido em Itabaiana, pois muitas filmagens com celulares foram postadas nas redes sociais. As pessoas diziam que era coisa de filme.

O problema institucional que a sociedade sergipana passava, pois muitos dos seus gestores haviam morrido, os seus substitutos legais não queriam assumir as cadeiras, sob pena de terem o mesmo fim, inclusive nem todas as vagas de desembargador estavam ocupadas face o medo generalizado de muitos magistrados, fez com que a figura de Eva se tornasse importante para manter a ordem.

A casa onde Eva estava foi descoberta por jornalistas e além deles, muitas pessoas buscavam vê-la. Eva então entra em contato com Juan e pede orientação sobre o acontecido. Ele disse que em relação a este caso ela teria que resolver do jeito dela, mas mesmo assim estaria pegando um voo para Aracaju o quanto antes.

Antes deste fato, Eva, a filha de Antonio, suspeito de vários estupros, era uma pessoa anônima, pois não havia qualquer associação efetiva entre a pessoa rica que era vista em carrões e com seguranças e aquela moça pobre, cujo pai ficou conhecido pelo terror que causou. Mas bastou pouco para as pessoas procurarem a identidade da heroína e encontrarem nela um paradoxo.

Enquanto isso, os subordinados de Eva faziam uma varredura nos sistemas das delegacias e da Secretaria de Justiça para identificar os tipos de marginais que ela mandou executar. Para tanto, o secretário de Eva convocou alguns soldados nazistas para auxiliarem na execução desta empreitada.

A bomba então veio à tona. A filha do maníaco agora era rica e foi a responsável pela execução de um estuprador e o que era pior, poderia ter sido a causadora por todos crimes que ocorreram em Sergipe.

A preocupação de Eva agora era em defender os ideais de seu avô, sem que isso pudesse afastar o outro objetivo, limpar o nome de seu pai.

A imprensa em geral e as redes sociais trataram de criminalizar Eva por tudo que tinha ocorrido. Neste meio tempo a imprensa nacional noticiava a morte de pelo menos dez deputados federais, deputados estaduais, desembargadores, delegados, autoridades em geral de vários Estados, além de um Ministro Supremo Tribunal Federal, três Ministros de Tribunais Superiores, Procuradores da República, todos com as mesmas características, o envenenamento. Foi então que a imprensa se voltou para Aracaju, pois a suspeita se voltava para ela.

Antes que Juan chegasse a Aracaju, o secretário de Eva apresentou a descrição de pelo menos cento e oitenta nomes de estupradores, pedófilos ou homicidas contra pessoas idosas ou crianças em todo o Estado. Mesmo diante de tantas notícias, Eva mostrou a sua força e mandou invadir as delegacias, presídios, residências, hospitais, qualquer lugar onde fossem encontrados estes marginais e lá o executassem. Assim foi feito. Apenas nos presídios houve resistência, mesmo assim, apesar de mortes de alguns policias, agentes de seguranças e detentos fora da lista de Eva, todos, sem exceção, foram executados conforme determinação dada.

A situação foi tão grotesca que muitos detentos evitaram fugir, mesmo com as portas abertas das delegacias e presídios. A medida que os condenados eram identificados e executados, os demais apenas gritavam de medo, apesar de que os mensageiros de Eva avisavam aos demais para ficarem nos seus lugares e não fugirem, sob pena de morrerem também.

Segundo relatos de testemunhas, foram usados muitos fuzis e metralhadores de grosso calibre. Foram várias frentes de execução, todas ocorreram ao mesmo tempo, devidamente orquestradas. Após as notícias, o Secretário de Segurança interino e o Secretário de Justiça pediram exoneração, além de todos que comandavam a polícia em Sergipe.

As pessoas andavam nas ruas assustadas, sem saber o que fazer. Aracaju viveu um momento de descontrole social, tal como retrata a teoria do caos.

Eva assistia muitas das notícias em sua casa, acompanhada por todos que a protegiam. Com todo este reboliço ocorrido em apenas dois dias, Juan finalmente chegou a Aracaju. Em terras sergipanas, foi ao encontro de Eva, chegando praticamente junto com Raimundo, que transmitia uma grande tensão, em face de mais este ocorrido.

A imprensa queria muito falar com Eva. Juan por sua vez, disse que discordava de qualquer contato com a mídia, no entanto ela argumentava que aquele era o momento para limpar o nome de seu pai, sem comprometer “ a Solução Final”.

Todos ouviam o noticiário. Juan por sua vez, apesar de não ter gostado da ação vingativa de Eva em relação à moça de Itabaiana, teve que ser render quando ficou sabendo que em todo o planeta, os nazistas passavam a ter mais confiança em sua líder. Com isso, muitos investiram ainda mais em negócios controlados por Eva, aumentando ainda mais o poder econômico de Eva.

Raimundo, preocupado com toda aquela situação, pedia para Eva parar com toda aquela onda de crimes, porém a imprensa relatava que marginais eram executados por justiceiros. A imprensa também procurava pelos promotores, juízes, delegados, porém nenhum deles tinha a coragem de acionar Eva, mesmo diante de muitas evidências de ser ela a mandante de todos aqueles crimes, até então sem qualquer fundamentação.

Ainda naquela tarde, o atual governador do Estado contactou com Raimundo pedindo uma audiência com Eva, contato este que causou uma certa estranheza por parte dela, que quando questionado por Raimundo sobre se aceitava ou não, ela sorriu levemente e autorizou o seu amigo a marcar uma audiência para aquela sexta feira, no antigo prédio governamental (palácio Olímpio Campos), aquele que ficou bastante conhecido por ter sido palco de posses desautorizadas de um poeta nu, já falecido. No entanto, avisou que só falaria com o Governador se o mesmo estivesse acompanhado de todos os seus secretários, dirigentes dos Poderes Legislativo e Judiciário do Estado, do Ministério Público estadual e federal, representantes da magistratura federal e do trabalho, representantes da defensoria pública da União e estadual, prefeitos e presidentes das câmaras municipais dos municípios sergipanos e também os dirigentes da polícia federal e polícia rodoviária federal das superintendências de Sergipe.

O governador já sabendo de todas as probabilidades de ter sido Eva a autora de todas aquelas mortes e do seu poderio econômico, solicitou a presença de todos os seus auxiliares e autoridades mencionados por Raimundo e, convencido por policiais federais, grampearam todos os ambientes, caso o governador conseguisse levá-la para conversar reservadamente em uma das salas, atualmente utilizadas naquele museu.

Foi o primeiro dia em décadas que não foi registrada uma única ocorrência, nenhum roubo, furto, crime de qualquer natureza nas ruas sergipanas. Os boatos circularam de tal maneira, no sentido de que vagabundos poderiam morrer, que marginais conhecidos da polícia buscavam abrigo em outros Estados. Aliás muitos retornaram para os seus Estados de origem.

Enquanto isso, a Interpol subsidiava a polícia federal e a agência brasileira de inteligência com todo o tipo de equipamento sofisticado de informática, no sentido de viabilizar grampos e para buscar um meio de incriminar Eva por todos aqueles crimes.

As investigações já ligavam o nazismo aos fatos marcantes na sociedade sergipana. Porém, por uma questão de segurança nacional, a imprensa não foi informada desta peculiaridade.

Enquanto isso, Eva era informada pelas ações da polícia federal e da agência de inteligência, pois muitos nazistas estão infiltrados nas duas instituições, por conta da tradicional corrupção brasileira. Assim, Eva sabia exatamente onde cada microfone, câmera ou qualquer instrumento eletrônico foi instalado naquele velho prédio de governo.

Ela, ao tomar conhecimento de todo o aparato eletrônico utilizado para aquela ação policial investigativa, chegou a sorrir. Aliás, chegou a dizer que era uma luta desleal entre o bem e o mal, sendo que neste caso ela era o bem e eles eram os bandidos, dizendo isso aos seus subordinados. Realmente, a coisa parecia de principiante, pois foi possível ver carros utilizados pela polícia federal saindo do prédio por volta das duas da manhã.

No dia marcado para o encontro, Eva chegou na hora marcada, o seu carro foi parado bem ao lado do antigo cinema Palace (sua comitiva era composta por dez carros blindados) e ela desceu apenas acompanhada com Raimundo. Assim que desceu do carro o seu vestido vermelho, sua elegância, seus cabelos, seu caminhar, deixou a todos que passavam no local deslumbrados. Foi caminhando até a entrada do velho palácio, devidamente acompanhada por inúmeros seguranças, e lá já estavam alguns secretários, políticos da capital e do interior, autoridades, além de bajuladores de plantão. A imprensa ficou do lado de fora do prédio.

O governador e todos que estavam no hall de entrada do prédio a saudaram e em seguida subiram para a sala de reunião. A mesa era imensa e todos sentaram ao redor de toda a extensão daquele artefato histórico e Eva e o governador sentaram à cabeceira, lado a lado. Raimundo sentou-se próximo a ela. Registre-se que, apesar da sala ser muito grande, foi necessário colocar uma segunda coluna de cadeiras, atrás daqueles que estavam já sentados à mesa para todos ficarem acomodados. Todos estavam com cara de bons amigos, muitos sorrisos, como se fosse uma grande solenidade, na tentativa de mascarar o momento complicado que todos estavam enfrentando. O medo estava estampado nas fisionomias, mas disfarçado para não entregarem o sentimento geral daquele período.

Eva então, diante de tantos homens e poucas mulheres autoridades, pediu a palavra ao governador e em seguida, ficou de pé e com um belo sorriso agradeceu a todos pelo convite. Inicialmente foi dizendo, já mudando o semblante para um tom mais sério, que desde o momento que entrou no prédio, todos os equipamentos eletrônicos, celulares, tablets, rádios, televisões, etc, que estivesse naquele prédio ficaram sem qualquer funcionabilidade, porque vários sistemas com ondas magnéticas estavam voltados para o prédio e ao redor dele, impedindo qualquer comunicação. Ainda disse que aparelhos mais antigos com certeza perderiam algumas funções, face à potência de seus equipamentos utilizados para bloquear qualquer transmissão de dados do prédio. De fato, todos neste momento olharam seus equipamentos eletrônicos e todos, sem exceção, estavam em pane. Ela disse que possuia um pessoal brilhante nesta área de poluição invisível.

Alguns naquele momento ficaram irritados, inclusive o superintendente da polícia federal, que foi logo dizendo que se tratava de uma brincadeira, que era um absurdo tudo aquilo. O clima ficou tenso. Ela ficou inerte, olhando para todos com um leve sorriso no rosto. O governador, pelo contrário, pedia calma e silêncio a todos. Quando o barulho foi diminuindo, com o apelo do governador, e alguns voltando a se sentar. Eva foi dizendo que se tratava de uma precaução. Mais uma vez o superintendente da polícia federal ficou exaltado e disse que não ia ficar ali sendo mal tratando por uma marginal de saia. O policial rodoviário federal também fez menção em sair, foi quando Eva gritou em alto e bom som uma data dos anos oitenta. Neste instante, o superintendente calou-se, e em seguida começou a xingá-la com toda a raiva. Momento em que pegou em sua arma, mas não chegou a sacá-la. O policial rodoviário federal tentava contê-lo. Ela então diante da forma agressiva com que o superintendente se portava foi logo dizendo, já com tom sério e ríspido, que naquela data ele tinha cometido um crime de pedofilia e que ao logo de anos, pelos Estados em que passou, inclusive em Sergipe, foi um grande fomentador deste crime hediondo.

O ar de surpresa e admiração era tamanha, tanto por parte do policial como parte de todos que ouviam Eva dizer, aliás ela narrou de forma resumida as ações do superintendente em conivência com estes crimes. Ele então começou a chamar de “vagabunda”, de “puta”, e nomes de baixo calão, mas Eva determinava que ele sentasse imediatamente sob pena de antecipar o fim. O superintendente naquele instante sacou a arma e antes que ele tentasse algo contra ela, o mesmo foi atingido na cabeça por um projétil que veio de uma das janelas abertas do palácio. O mesmo projétil ainda acertou o ombro do secretário da fazenda que estava no outro lado da mesa, o brinco de uma prefeita que estava logo atrás do secretário e só parou na parede do museu.

Todos ficaram horrorizados com a cena, mas ela mandava que todos ficassem quietos, sob pena acontecer o mesmo. As mulheres que estavam na sala e alguns homens choravam ao ver aquele homem morto sob a mesa, inclusive Raimundo também ficou desesperado. O sangue dele tinha sujado pelo menos umas dez pessoas na frente e ao redor. Realmente, uma cena de filme, grotesca, difícil de descrever.

Todos estavam chocados e Eva então determinou que todos ficassem onde estavam, pois naquele momento vários atiradores de elite estavam com seus rifles apontados para o local e que não tentassem sair nem pelas janelas ou pelas portas, pois o futuro seria o mesmo. Disse ainda que muitos naquela sala já estavam mortos, mas que se quisessem poderiam demorar mais para se despedirem de suas famílias.

Falou que o superintendente, juntamente com outros que já morreram e outros que ainda iriam sentir o peso da sua palavra, foram responsáveis pela destruição de muitas famílias, pois cometeram ou auxiliaram no cometimento de crimes, como estupros de menores, homicídios de idosos, assassinatos de mendigos, ou seja, lutaram com quem não tinha como se defender. Disse ainda que alguns haviam sido deixados, de forma proposital, no sentido de comparecerem àquela reunião, justamente para selarem o seu fim na frente dos representantes da sociedade em geral.

Disse que a corrupção era algo humano, e na sociedade brasileira este tema é muito incorporado ao ditame social. Por isso, não seria ela a desejar o extermínio de quem assim procede. No entanto, alguns crimes são intoleráveis, a exemplo do crime que acusaram injustamente o seu pai.

Continuou dizendo que seu pai era um homem honesto e foi vítima de um sistema criminoso, que mantém os prazeres sexuais de uma classe de pessoas da sociedade. Eva então narrou a história de seu pai e das injustiças que aconteceram contra ele. Todos no recinto olhavam atentamente para ela. Alguns quase não prestavam atenção direito nela, pois além de soluçarem, viam aquele corpo sobre a mesa.

Foi quando no decorrer da narrativa, algumas lágrimas desceram no rosto de Eva. Ela disse que o sofrimento dela era igual ao de muitos que sentiram na pele o calor da injustiça, que tornava a garganta seca. Em seguida assumiu todos os crimes contra as autoridades que culminaram na eliminação de empresários, desembargadores e até do governador. Um eco de admiração saiu de todos que estavam ouvindo as palavras da filha de Antonio. Para terminar, antes que todos perguntassem, pois a dúvida pairava no ar, Eva tratou de dizer que todo aquele poderio financeiro era pelo fato de ser a única herdeira de Hitler, seu avô de criação e que tinha deixado tudo para ela. Assim, ratificou que muitos daquela sala desejam poder, outros acreditam ter poder, mas ela realmente tem o poder e que iria usá-lo para melhorar a sociedade, pelo menos em Sergipe.

Como era muita informação em tão pouco tempo, muitos se entreolhavam. Ela continuou dizendo que a sociedade estava carente de saúde, educação, segurança pública, trabalho, entre outros direitos, mas que muitas autoridades são incapazes de garanti-los em razão dos seus próprios interesses. Ela então disse a todos que o seu império já vem realizando saúde pública, investindo milhões em vacinas para combater doenças criadas por grandes empresas. Disse que vem garantindo educação por meio de programas de internet que educam, cursos on-line e demais instrumentos presenciais e eletrônicos voltados para educar, mas sem esquecer na disseminação subliminar dos temas nazistas. Para incentivar trabalhos, disse ela, foram espalhados vários mecanismos de marketing multinível no sentido de fomentar a economia, trazer renda para os envolvidos e difundir slogans nazistas sem que percebam que isto estava ocorrendo. Além de outros mecanismos constitucionais voltados para os direitos e garantias da pessoa humana, ainda que isto possa parecer incongruente. Faltava a segurança pública. Pois bem, disse ela, estamos entrando neste ramo, do nosso jeito, mas que funciona.

Disse que naquela sala haviam muitas pessoas sérias ou com poucos problemas de conduta, com bons históricos, pois fez questão de dizer que tinha um dossiê de cada um naquela sala, e que estes seriam convidados a participar do projeto “a solução final”. Estes estariam protegidos, mas que teriam novas regras a seguir e não aquelas descritas por líderes estranhos à causa nazista. Antes que ela continuasse, um prefeito perguntou como poderia participar do projeto e todos, meio com semblantes de reprovação e dúvida pela pergunta dele, ouviram ela dizer que estes receberiam uma cartilha a ser seguida e os mesmos contariam com apoio financeiro e que ganhariam bem com isso, além de toda a sociedade e com certeza as mortes não iriam mais ocorrer.

Eva fez questão de dizer que o único sentimento que possuía era pela causa deixada pelo seu avô e que sabia que muitos tentariam matá-la, mas que o nazismo sempre iria se renovar. Naquele momento, bateram a porta e quatro homens de preto, encapuzados entraram no recinto, provocando meio que uma comoção entre os presentes, foram até as poucas janelas abertas e fecharam-nas, em seguida tiraram o corpo do superintendente que estava na mesa, colocaram no canto da sala e jogaram um produto que parecia um ácido, foram até as pessoas que estavam com os ternos e roupas sujos com o sangue e forçaram a tirada das roupas e em seguida colocaram o mesmo ácido nas roupas jogadas no canto da sala e saíram. Eva disse que todos seriam seus cúmplices naquele momento. Todos deveriam dizer que seu pai era inocente, inclusive pedir para enaltecer a pessoa dele. Disse ainda para que todos continuassem o trabalho de suas atividades normalmente, mas zelando para não descumprir nenhuma das normas da cartilha que receberiam em breve. Ela percebendo o grau de perplexidade das pessoas, adiantou dizendo que em relação a morte do superintendente que foi visto entrando no museu e de outros dois que iriam morrem em poucas horas, disse que tudo ficariam selando com um grande incêndio.

Dito isso, ouviu-se uma grande explosão e mais duas de menor potencial em algumas partes do prédio, fazendo com que uma grande fumaça se projetasse para a praça logo em frente, as portas onde eles estavam foram abertas e as pessoas começaram a sair correndo. Enquanto isso, alguns homens de preto entraram na sala, mandando todos saírem e com seus lança-chamas atearam fogo em todo o recinto. Outros homens por sua vez ateavam fogo em outras partes do prédio. Um vereador de Aracaju e um prefeito de um município sergipano, foram agarrados em meio à confusão, sedados e deixados no chão do recinto. Eva foi protegida e levada para os fundos do prédio, juntamente com Raimundo, onde o seu carro a aguardava. Os homens jogaram os lança-chamas na mala dos carros e saíram em alta velocidade, quase que atropelando muitas pessoas.

Como já fazia parte do plano, a rota de fuga foi pela contramão, sentido rua de Itabaianinha. Por pouco atropelam agentes da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA) que estavam no local. Registre-se que esta Agência foi uma das grandes responsáveis pela desarticulação do nazismo na segunda guerra mundial e um dos alvos principais do nazismo, que, diga-se de passagem, vem perdendo a batalha contra o nazismo pois esta Agência foi vinculada a vários escândalos patrocinados e pensados por Eva.

Eva e seus comandados partiram em direção da ponte que faz a travessia Aracaju-Barra dos Coqueiros, fazendo o sentido orlinha do bairro industrial e debaixo da ponte já estavam outros três carros, mais simples e comuns, porém com película dos vidros bem escura, Eva e Raimundo descem rapidamente do veículo e entram em um desses carros, enquanto a comitiva de carros pretos seguiram no sentido Barra dos Coqueiros.

Os veículos que levavam Eva seguiram pela avenida Rio de Janeiro. No carro, entregaram a Eva uma peruca loira e um vestido que a mesma vestiu encobrindo o que ela usava. Raimundo permanecia estático, perplexo, sem vontade de falar. Em alguns momentos chorou pouco. Eva olhou para Raimundo e disse que tinha chegado o momento dele ficar longe dela, pois toda aquela história iria acabar por comprometê-lo para o resto de sua vida e não era justo que ele e sua família sofressem mais com tudo o que estava acontecendo. Eva mandou que parassem o carro na frente do estádio do Clube do Sergipe (futebol). Olhou para Raimundo e disse da gratidão que tinha pelo mesmo, pelo respeito e pela amizade, mas que aquela guerra era dela, não tinha o direito de fazê-lo perder a sua vida e nem da sua família. Raimundo não conseguia falar uma única palavra, apenas chorava. Eva, então, disse para Raimundo que ele fosse para casa, conversasse com a sua esposa e decidissem se queriam ficar ou morar em outro país. Seja qual fosse a decisão ela os apoiaria. Inclusive disse a Raimundo que quando fosse interpelado, se isto ocorresse, diria que todo o tempo ele foi ameaçado para seguir as suas ordens, sob pena de ter a sua família assassinada e com certeza ninguém iria duvidar da palavra dele. Raimundo a abraçou, beijou-a no rosto e agradeceu, pois disse que ele tinha chegado no limite e que sempre iria admirá-la e que iria guardá-la no coração.

Raimundo saiu do carro e entrou em outro veículo que estava na escolta e foi para a sua casa. Assim que Raimundo saiu do carro, Eva perguntou ao seu secretário sobre o boicote aos carros de bombeiros e estes disseram que tudo estava sob controle, inclusive sobre a interferência provocada, de meia hora, no satélite que faz a varredura naquela parte do continente (Eva sorriu, pois o seu grupo é proprietário de uma grande empresa de informática que presta serviços para vários países, inclusive para espionagem americana, inglesa e alemã). Como os carros de bombeiros com defeitos, o velho palácio ficou totalmente destruído, conforme eram mostradas as imagens para Eva através de uma aparelho celular.

Em seguida partiram para a orla do mosqueiro, pela rodovia Ayrton Senna, sentido linha verde, onde helicóptero a aguardava para seguir para Salvador. Assim que a aeronave estava com boa altitude, viam-se as fumaças do velho casarão.

A adrenalina era grande e Eva, durante o voo chegou a chorar silenciosamente, para não demonstrar fraqueza perante os seus subordinados, mas sentia que tinha chegado ao seu limite também.

Ao chegarem em Salvador foram direto para um hotel de luxo, que possuía heliporto. A sua comitiva desceu com ela, outros já aguardavam na porta do quarto e ela pediu para ficar sozinha.

Ligou a televisão e o noticiário era só Sergipe. As imagens do palácio em chamas, a onda de crimes de índole justiceira e os demais acontecimentos que tomavam conta não só da Capital, mas de todo o Estado era notícia em todos os jornais.

Como já era esperado, o nome nazismo começa a parecer, não como autor dos fatos, mas como semelhante ao que é típico de pessoas que não têm sentimentos.

Repórteres diziam terem alguma prova que neonazistas tinham invadido Aracaju, mas tudo a base de especulação. As cenas realmente eram cinematográficas. Fotos dela eram divulgadas, principalmente depois da aparição para a reunião que tinha ocorrido naquela manhã.

Já de noite, batem à porta do quarto e entregam um telefone, era Juan para perguntar se estava tudo bem e Eva disse que queria muito vê-lo. Ele disse que estas notícias fizeram com que a imobiliária de Eva na Europa e nos Estados Unidos tivessem alta nas ações, pois vários negócios foram fechados. Muitos daqueles ligados ao projeto de Eva estavam mais interessados em grandes terras no Brasil, principalmente pelo fato deste país não possuir uma política que limita as aquisições de terras e empresas por estrangeiros de forma séria.

Ela disse que estava precisando dele e ele prometeu chegar em breve.

No dia seguinte, os jornais de todo o Brasil e do mundo noticiavam os fatos ocorridos em Aracaju e alguns deles vinculavam o nazismo. Eva chegou a ser descrita como a nova cara do nazismo. Foi uma surpresa, mas ao mesmo tempo era o que se pretendia.

Naquele momento começou a sentir como se tivesse tirando uma parte do peso de suas costas, pois algumas coisas já não eram mais só do seu conhecimento exclusivamente. Não bastou, para entidades de direitos humanos do Brasil e do mundo demonstrarem interesse para o problema envolvendo Aracaju. Além disso, organismos internacionais de judeus, principalmente dos herdeiros culturais daqueles que foram mortos na segunda guerra, demonstraram interesse em acompanhar o caso, inclusive pleiteado a fortuna como sendo resultado do confisco de Hitler.

Os noticiários levavam informações que geravam o debate sobre a fonte financeira da pobre menina Eva e que só naquela idade fez uso de uma fortuna sem qualquer mérito.

As polícias brasileiras, a INTERPOL e as agências internacionais de segurança aproveitam os noticiários para soltar informações sigilosas envolvendo Eva nas mortes de muitas pessoas, não só em Sergipe, mas em todo o planeta. O que antes era só para os filhos do nazismo, agora era, em parte, de conhecimento de todo o mundo.

Enquanto isso, Eva determinou uma reunião para o dia seguinte, no subsolo da empresa da cidade baixa, tão logo Juan chegasse ao Brasil.

Na Europa eram divulgadas fotos de Juan e na imprensa o associam como sendo o mensageiro da morte. Dados divulgados pela imprensa Inglesa demonstram que Juan era o comandante de uma grande organização criminosa. Eva por sua vez era associada como sendo uma comandada de Juan.

Eva, como sempre inteligente, determinou que fosse contactado o âncora de um telejornal, de uma das emissoras que possui, que comprou por meio de uma entidade religiosa multinacional de fachada que comandava, no sentido de que este gravasse uma entrevista para o mesmo dia. Marcos foi convocado pelo comando da emissora, através do contato feito pelo jornalista Helber Andrade (pessoa que Eva tinha conhecido por intermédio do seu psicólogo e que passou a ter grande respeito e admiração pelo seu trabalho no meio de comunicação de Sergipe) e o mesmo pegou um jatinho de São Paulo para Salvador assim que a ordem chegou, inclusive era o dia do seu aniversário, mas as comemorações ficaram para o outro dia.

Assim que encontrou com Eva, Marcos nunca tinha visto tantos seguranças, chegou a até a ficar com medo. Eva então, logo depois dos cumprimentos, foi direto ao assunto, dizendo que o mesmo deveria gravar uma matéria com ela para serem esclarecidos todas aquelas situações que estavam ocorrendo em Sergipe, no Brasil e no mundo vinculados ao seu nome e ao de Juan.

Marcos com toda a sua experiência, viu-se diante de uma grande reportagem e nem pestanejou, perguntou onde iria ocorrer a entrevista para começar tão logo ela determinasse.

Eva então o conduziu para uma sala do hotel onde já estavam todos os equipamentos de televisão prontos para a entrevista. Foram colocadas duas cadeiras, uma de frente para a outra e assim, entrevistador e entrevistada iniciaram o diálogo.

Ele então fez a seguinte apresentação: Hoje iremos entrevistar a senhora Eva Silva, empresária, sergipana, e que nos últimos tempos vem sendo notícia em todo o planeta sob a especulação de estar participando de uma onda de violência que vem ocorrendo, principalmente na capital sergipana. Ele então perguntou sobre o que ela tinha para dizer sobre aquelas acusações. Eva, disse que tudo era verdade, que de fato tinha mandado exterminar todos aqueles que tinham ferido a moral da sua família, ou seja, o seu pai Antonio, e disse ainda que não era comandada por Juan e que avocava para si toda e qualquer responsabilidade pelos crimes ocorridos contra todos aqueles marginais, independente de serem autoridades ou não. Disse que todos precisam culpar alguém sobre algum mal, precisam de um rosto, e a face do mal naquele século era o dela, pois destruíram o seu maior tesouro, o seu pai, e a sua vida não podia passar em vão.

Assumiu ser a herdeira do grande Adolf Hitlher e que hoje o nazismo não pensa na raça pura, ariana, pensa apenas naqueles que seguem os seus ideias, pois existem dois grupos de pessoas no mundo, os nazistas e os seus inimigos. Falou que o nazismo hoje tem religião própria, tem exércitos, tem muito dinheiro, tem seguidores em todo o planeta. Antes de continuar, surpreendeu a Marcos ao dizer que a entrevista estava sendo gravada e que iria ao ar uma hora depois, no telejornal e que naquele momento o avião de Juan, já em vôo para Salvador, no Brasil, seria abatido por míssil lançado por uma base nazista no norte do Egito, fato este que de fato acabou ocorrendo.

Eva fez questão de dizer que ninguém podia ocupar o seu lugar, por esta razão, Juan, que tanto amava, morreria naquela noite. Disse que grande parte do dinheiro que utilizava era realmente fruto do que foi confiscado pelos nazistas na segunda guerra, através da dor de muitos judeus.

A entrevista foi breve, praticamente serviu apenas para Eva dizer que era ela a autora de todas aquelas atrocidades ocorridas em Sergipe e no mundo nos últimos tempos. Porém, ela deixou bem claro, que todo o seu patrimônio não seria devolvido aos judeus ou a qualquer país que reclamasse tamanha fortuna. Disse já ter ouvido e visto a mobilização em vários lugares do mundo no sentido de pedir o confisco e apreensão de bens que estivessem vinculados ao seu nome. Ela deixou bem claro que lutaria para manter viva todas as orientações do seu avô.

Capítulo IV – A Solução Final

Assim que terminou a entrevista, Eva pediu a todos para ficar sozinha. No quarto, em meio da escuridão, no canto, sentado, estava na penumbra o seu Tio Juan, que em tom sereno falou o nome Eva. Ela ficou assustada por um instante, mas não perdeu a sua calma. Ela perguntou a ele que horas tinha chegado e ele disse que isso não importava, o fato é que o avião que o seu assessor vinha foi abatido, conforme as suas ordens. Juan disse a ela que tinha ficado feliz com a sua decisão e com isso ele voltou a ser fantasma. Ele disse ainda que nesta vida quem planta o bem colhe o bem, quem planta o mal, colhe o mal. Tudo que se faz aqui paga aqui, de qualquer jeito. Falou que a vida é como uma roda gigante, um hora você está por baixo e outra por cima, diferente como num carrossel, por isso você deve respeitar a todos e esta teoria serve para os homens bom e os que contrariam o novo testamento. Ainda em parábola falou que sempre o bem vence o mal, mas este sempre ficará buscando tirar as pessoas do seu verdadeiro caminho. Disto isso, reforçou que ela fez uma opção, um pacto, e este será cumprido, exceto se ela morresse.

Eva então falou ao seu tio, que o peso das mortes era muito grande, ficando insuportável, e queria dele uma opinião. Juan disse apenas que ela agora precisaria tomar uma nova decisão, pois ele não poderia mais ajudá-las, pois o poder era dela. Dito isso, silenciou e desapareceu do quarto.

Ela sentou e chorou. Pegou em seu bolso a foto de seu pai, beijou, olhou para o céu da janela do seu quarto. Enxugou as lágrimas, em seguida pediu aos assessores que contactassem com urgência com Doutor Frederico e pediu um consulta o mais rápido possível. Determinou ainda a compra de alguns medicamentos e produtos químicos. Assim foi feito e em seguida Eva se deslocou para Aracaju, mesmo sob a ameaça de ter seu avião perseguido, como de fato foi, porém sem ataques, face o nível de segurança aéreo que era dado para Eva.

Assim que Eva chegou ao consultório do professor Frederico, na rua de Propriá, no Centro de Aracaju, tomou conhecimento de que a entrevista tinha ido ao ar e que a comoção mundial era enorme.

Era de noite e o professora a esperava. Ela o cumprimentou e foram direto para a sua sala e lá ela foi direto para o divã. Os dois conversaram e ela disse que precisava desabafar, muito mais do que falar com um psicólogo. Ele prontamente entendeu e em seguida ela começou a narrar tudo o que tinha acontecido. No meio do seu depoimento, Eva pediu licença para ir ao banheiro. Lá, de frente para espelho, Eva não via vida e sim tormentos. Assim, fez manipulação de alguns medicamentos que provocariam uma parada cardíaca e em seguida tomou todo o frasco do liquido com aquela composição fatal.

Em seguida foi para o divã do doutor Frederico já suando, pediu para deitar, e ele ficou assustado em razão da cor pálida da sua fisionomia e deitou-a, em seguida foi correndo pegar água para dar a sua paciente. Eva fechou os olhos, com uma fisionomia fúnebre deixando o psicólogo desorientado, pois não sabia mais o que fazer.

O doutor Frederico imediatamente ligou para a emergência do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU e não passou quinze minutos ela foi levada ao hospital.

No hospital, já com o soro em suas veias, Eva foi recuperando a consciência e começou a ouvir muito Barulho, e de fato era, pois ela estava no corredor do Hospital de Urgência, o mesmo onde seu pai havia falecido, onde as pessoas ficam amontoadas nos corredores por falta de leitos dignos.

Ao seu lado estava o professor Frederico e ela olhando para um lado e para o outros foi logo perguntado por seus seguranças, e o doutor tentando tranquilizá-la e pedindo calma e dizendo que ali não havia nenhum segurança para ela. Eva meio que perdida, continuou afirmando que tinha segurança e eram muitos e que ela precisava sair dali, pois o mundo estava contra ela.

O psicólogo pediu para que ela ficasse calma, pois ela tinha passado mal em seu consultório e foi preciso levá-la para o hospital. Ela insistia em dizer que muitas pessoas a odiavam. Ele pediu calma, mesmo diante de tantas pessoas que olhavam para ela, tendo aquele surto psicótico aparente. Eva então, parou e olhou ao seu redor e entendeu finalmente que tudo não havia passado de um sonho, ou melhor, um pesadelo.

Foi então que ela deitou mais uma vez, colocou a mão na testa e teve e pequeno ataque de choro e riso. O doutor tentou mais uma vez tranquilizá-la já que ela tinha passado por todo aquele sofrimento com seu pai. Eva então abraçou o seu amigo professor e chorou muito. Ainda no hospital contou tudo o que tinha sonhado ao doutor.

No dia seguinte, depois de uma noite em claro, refletindo sobre o seu pesadelo/sonho, Eva foi pra casa e lá chegando foi voltando cada vez mais a si. Foi calmamente olhando para todos os cômodos da pequena casa, que a todo o instante a memória de seu pai era revivida. Infelizmente, todos da sociedade e os jornais tinham apenas uma verdade, seu pai foi o causador por todos aqueles crimes.

Foi difícil caminhar na rua e olhar as pessoas com uma certa indiferença. O mais duro era ter que viver com a realidade de que uma grande injustiça foi feita com o seu pai e nada poderia ser feito, pois lidar com pessoas poderosas e influentes, sem ter dinheiro para combatê-las, era algo impossível conseguir justiça.

Uma coisa a deixava bem, o fato de que a sua consciência estava tranquila. Ela não era a autora de tantos crimes, apesar de ter sido vítima de uma injustiça, porém o peso daquele que era sentido quando do pesadelo/sonho não existia em sua cabeça.

Para a justiça dos homens, o seu pai era o autor de vários crimes e esta era uma realidade que ela tinha que encarar. Eva, nos dias seguintes ainda buscou a defensoria pública e a imprensa para ver se encontrava algum amparo para o seu objetivo, ou seja, limpar o nome de seu pai, porém sem sucesso.

Engraçado que ela, em um momento de ausência de lucidez, chegou a procurar alguma caixa deixada por seu avô, porém apenas encontrou um livro escrito de próprio punho em alemão e em português, mas nada que se reportasse a algo tão grandioso como em seu sonho/pesadelo, apenas escritos de poesias e cartas que seu avô tanto gostava, sem qualquer vínculo com o nazismo.

Ela chorava muito a dor pela perda de seu pai e por todo aquele mal ocorrido em sua vida, Tudo deixava Eva desolada. Alguns amigos seus ainda tentavam chamá-la para sair, mas ela não queria sorrir, não queria qualquer diversão.

Pediu licença do trabalho e trancou a faculdade e ficou reclusa em sua residência. As pessoas próximas a ela ficavam preocupadas com a sua condição, seu estado. Até que um dia, um Frei, dos Capuchinhos, foi até a sua casa, dizendo sentir sua falta nas missas e também por ter tomado conhecimento do seu ato de reclusão pessoal.

Ela recebeu o frei e disse que não tinha mais sentido a sua vida. Ele disse a ela que muitas pessoas precisavam dela e não era justo ficar assim. Disse que ela tinha trabalho, faculdade, amigos, e no futuro, já como advogada, magistrada ou demais carreiras que o direito proporciona, ela poderia fazer justiça com o nome do seu pai. Pediu para ela prometer, ainda naquela tarde, ir à faculdade, reabrir a matrícula e no dia seguinte retornar ao trabalho.

Eva ficou comovida com as palavras do Frei e disse que iria reagir. Ele deu um abraço nela e entregou um livro cujo título era o Poder do Bem, de autoria de Aristides Julio, autor baiano, e disse para ela sempre ler quando precisasse se encontrar e para ficar em paz. Durante a visita do frei, tocou o telefone e era da faculdade, pedido para ela comparecer o mais breve possível, pois ela havia ganhado uma bolsa de estudos e com isso poderia voltar a estudar sem pagar. Aquelas conversa deu ânimo para voltar a trabalhar e a estudar, e para completar aquele telefonema pareceu providencial, justo para colocá-la no caminho de luta, no sentido ter meios legais para limpar o nome de seu pai. Ela então falou ao frei do teor do telefonema e ele ficou muito feliz e disse para ela não perder tempo. Eva colocou o livro na bolsa, despediu-se do frei e foi direto para a Faculdade de Direito.

Na faculdade, Eva reabriu a matrícula e parecia que tudo estava começando a ficar a seu favor, pois todo o processo foi facilitado pela faculdade, deixando ela ainda mais animada, pela bolsa que inesperadamente havia ganhado, face a um sorteio promovido pela instituição, onde ela tinha sido a sortuda. Ao sair da faculdade encontrou o secretário de educação, Ermelino Freitas, e ao vê-la disse que estava querendo falar com ela, pois iria procurá-la para oferecer um cargo em comissão e o seu retorno imediato ao trabalho, tendo em vista a sua competência e experiência educacional. Ela ficou muito feliz, agradeceu e confirmou sua presença no dia seguinte na Secretaria. As coisas estavam acontecendo de uma forma tão boa, que parecia que o Frei tinha acertado com suas palavras. Ainda na porta da faculdade, dois de seus amigos, Eduardo e Mônica, ao vê-la fizeram uma festa de alegria, e disseram que ela precisava reagir e que todos estavam do seu lado. Inclusive pediram para ela ir jantar na casa deles, pois tinham convidado alguns amigos e ela era peça importante naquele momento.

Eva encheu-se de alegria e voltou a sorrir. Não pensou duas vezes e foi para o apartamento dos amigos que fica logo em frente à faculdade. Lá ficaram conversando e batendo papo e aos poucos outros amigos de Eva também iam chegando. O início de noite estava sendo maravilhosa para Eva, o sorriso preso saia espontaneamente. Todos estavam na sala do apartamento conversando, alguns assistindo televisão. No entanto, um cena, chamou a atenção de todos da sala, fazendo com que Eduardo aumentasse o som da televisão. Era a notícia de que uma pessoa havia sido assassinada no final da rodovia do Sarney, e segundo a repórter a vítima era o empresário Julio Palhares. O mesmo foi fuzilado. A reportagem informava que não havia suspeitos do crime, porém, segundo informações do delegado de polícia, o mesmo era investigado pelos crimes de estupro e morte de várias adolescentes, inclusive no local foram deixadas fotos e gravações que o incriminavam pela morte destas adolescentes, afastando a responsabilidade atribuída a um ex-funcionário do empresário de nome Antonio Batista, morto recentemente, acusado de ter sido o autor daqueles crimes. Todos da sala assistiam aquela reportagem e Eva atônita, deixou cair uma lágrima em seu olho direito e todos os que estavam na sala partiram para abraçar Eva, dizendo que a justiça havia sido feita. Eva chorava e sorria ao mesmo tempo. Ela era abraçada e beijada com muito carinho. O clima não poderia ser melhor. Todos brindam e felicitavam a Eva pelo nome de seu pai que foi reestabelecido e justiçado.

A noite passa e os risos eram constantes naquela noite. O peso das costas de Eva foi tirado e ela ficou muito aliviada com o desfecho de toda aquela situação.

Ela então se afasta um pouco de todos e vai para a varanda do apartamento. O céu estava lindo. As estrelas brilhavam mais do que qualquer outro dia. Foi então que ela começou a rezar e meditar sobre tudo aquilo que tinha ocorrido. O momento era único e feliz. Foi até a sua bolsa, pegou o pequeno livro dado pelo Frei e voltou para a varanda. Lá folheou o livro e achou frases bíblicas lindas, registrando a possibilidade de recomeço das pessoas.

Porém, antes de fechar o livro, foi até a dedicatória assinada pelo Frei, já que não tinha lido no momento em que recebeu (pois foi justamente na hora em que recebeu a ligação da Faculdade), que inclusive tinha o telefone dele, e as palavras do religioso eram as seguintes: “quem planta o bem colhe o bem, quem planta o mal, colhe o mal; o bem sempre vence o mal, mas este sempre ficará buscando tirar as pessoas do seu verdadeiro caminho. Estarei sempre por perto. Com carinho. Adolf”.

Fim...

# As letras marcadas são como uma oração, e poucos podem encontrar, assim como as primeiras dos primeiros escritos remetem ao amor que poucos podem usufruir. #

ABCOUTO
Enviado por ABCOUTO em 21/07/2018
Código do texto: T6396601
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