O Presente de Natal 2

Afonso resolveu ir a cidade de Belém visitar os parentes no natal, e preocupado com a segurança da casa e mais, com a sua cachorrinha de estimação Dudinha, convidou a senhora Léo para tomar de conta de todo esse patrimônio naquele período.

Combinado os acertos financeiros, Afonso viajou tranquilo e feliz, pois sabia que havia deixado a pessoa certa. Porém ele não contava e nem a senhora Léo, que exatamente naquele período a Dudinha fosse entrar no cio. Sobre tudo, a coitada também não iria adivinhar que junto à casa do senhor Afonso haveria um cãozinho danado. E se a Léo, não tinha filha, aquela nova experiência começou a mudar toda a sua concepção de vislumbrar um dia vir a ter. Até porque, o cachorro da vizinha, da mesma estatura, bem baixinho, marronzinho e meio pirentinho, poderíamos dizer sem muito conhecimento na área, próximo da raça da Dudinha. Felizmente ou infelizmente, conhecido no pedaço pelo singelo apelido de trombadinha, por revirar os lixos e enfrentar pessoas ou outros cães acima de seu tamanho, começou a tornar os dias mais escuros e as noites mais longas.

Durante o dia ele arranhava o portão, uivava e cavava o cimento para tentar vencer os bloqueios que o separava da cachorra no cio. Além é claro de experimentar o alerta da senhora Léo e quando ela entrava ou saia pelo portão, maliciosamente tentava adentrar o espaço por entre as suas pernas, mas sempre era barrado.

Sem querer incomodar o patrão Léo nem comentava o fato, pois com tudo dominava bem a situação.

Numa noite de muito vento, chuva forte e uma escuridão pouco comum, as latas de lixo caíram fazendo um barulho aterrorizador, mas que Léo ensaiando uma noite de sono daquelas cuja ânsia e a expectativa foi superada não se incomodou de ir lá ver. Acontece, que o vizinho na insana idéia de não querer a sua calçada suja, tão pouco de ao menos ter o bom senso de viver em sociedade, resolveu colocar algumas latas sorrateiramente, deixadas lá por algum arruaceiro, sobre a calçada do senhor Afonso, bem junto ao muro.

Nesse meio tempo a chuva começava a divagar com aquele encontro consonantal, que vai do terreiro as árvores até o telhado, que aos poucos vai fazendo a poesia adequar-se aos nosso cansaço até adormecermos num estado quase letal.

Chuva vai, chuva vem e o pequenino, como um Romeu venceu o muro pulando quase dois metros de alturas, sobre o nível da fossa e com a chuva e os ventos, que já eram fortes não se ouviu o gemido de uma pata machucada.

Romeu, no caso, trombadinha, vencendo a dor pelo cio, substanciado no instinto animal. Sob as trevas, ventania e um silêncio estarrecedor ele passou aquela noite de chuva causticante com a cadela Dudinha.

No que amanheceu o esperto se escondeu e quando a Léo abriu o portão para deixar o lixo na cesta lá fora, o malandro saiu faceiramente e sem olhar para trás foi embora para a casa de sua dona. Sem entender como o cão entrou Léo ficou aflita, com a alma em desespero procurando argumentos para tirar-lhe a culpa. Sobre tudo pensando e esperando para contar a novidade ao senhor Afonso, que três meses depois se confirmou, através de dois cachorrinhos, ainda com presente de natal.