Certo Dia I

Há dias inesquecíveis, portanto, adjacentes a nobrezas incircunstanciais, talvez, ou só por isso mesmo, levam o título de memoráveis. Subjetivo, figuras do Eu freudiano, velado no baú do cemitério das lembranças, tais quais, sintetizam na linguística popular aqueles fatos singulares; - seria o amor e seus sucedâneos? Seria as arestas da alma com imprenssões salutares ou maléficas? Até mesmo as aventuras de uma noite "mal dormida", cujas estrelas não respeitam o sono alheio? Quiçá, a lista é interminável! - O mundo dá voltas (nome científico: djavú); mas não por isso, este é estável como os conceitos, as liturgias, o culto, a missa, o ofício, o desejo fanático (aquele que te priva de amar e investe de ilusão a insígnia do amor)... - afortunadamente, o mundo gira porque, porventura, é maníaco (a mania em sua concepção íntegra), para assim, sempre debruçar-se nas mesmas coisas nobres. Se pudesse viver dentro de tuas lembranças, não morreria para poder materializar-se naquele outro Eu? Mas o paradoxo aqui é interminável: mas e se morrer for a perda de memória (como escreveu Salomão no seu livro Eclesiastes), como viajaria a um vazio subterrâneo (o último vazio, onde até o nada é insubstancial)? Os hindus não acreditam no nada (que é diferente de niilismo), inversamente, para complemento, eles "positivam" o nada com a negação - o vácuo. Poderíamos levar em conta a premissa filosófica oriental e nos "orientar" no percurso das lembranças. Em suma: não é que as lembranças não são nada em si mesmo, precisa ser levada em consideração que posso vivê-las, não somente pelas ilusões de suas coordenadas próprias/substanciais, mas "positivá-las" com a negaçao do vácuo; e aí, sabe o que acontece? Uma dialética: o que era positivo foi negado, para tornar-se positivada em si mesmo por mais um. Esse deslocamento é justamente aquilo que nos faz (re) sentir o (re) cheirar do momento passado, (re) ouvir a melodia do momento passado - a nobreza da lembrança inesquecível.