Sharp Objects: Falling (ep.7)

Era uma tarde quente de primavera (ah, tão doce, exalando sedução), as cortinas de renda esvoaçavam suavemente com a brisa que entrava pela janela aberta. Eu estava largada sobre o sofá, fazendo um esforço asceta, um tanto senhor das moscas mergulhado em histórias carrollianas. Árvore boa, maçã ruim. Eu sou a maça ruim, por óbvio.

Podia sentir a criatura que vivia dentro de mim, uma criatura que queria nada além de estabelecer o seu domínio. Mostrar o seu poder. O seu sinal de bondade é, ao mesmo tempo, o de maldade.

Levitei sobre a mesa de centro, parei em pé, feito uma mariposa grogue; andei costurando pelos corredores, incapaz de se concentrar, tomada por volições amorfas e desconexas, preservando, todavia, uma aura de arrogância contumaz. Senti que no escuro poderia ir muito além de uma facada nas costas. Não quero torna-me a incompreensão lamentosa das massas de ovelhas sentindo o ácido cheiro de um lobo se aproximando.

As moscas cantando em meu ouvido, enquanto tento imaginar o infinito, sua sinfonia adentrando meus tímpanos. Um desconforto aterrorizante. Senti-me transportando para uma imensurável dimensão, as sensações foram plausíveis, do poder ao apogeu. E então vi caindo como uma estrela-cadente, sorridentes olhos tinham se fechado numa escuridão interior, não absorviam mais o mundo lá fora.

Lembre-se: Não é seguro para você aqui.

“I wanna know you

ghost

I wanna touch you

ghost

I wanna feel you

ghost

My Mona Lisa

Ghost”

Ghost -The Acid.

Lemos ACR
Enviado por Lemos ACR em 20/08/2018
Reeditado em 15/05/2023
Código do texto: T6424497
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